Por Pe. François Brune

 

A difusão da Transcomunicação Instrumental (TCI) é posta muitas vezes em perigo por duas tendências contraditórias: aceitar a autenticidade dos resultados duvidosos ou mesmo, o que é bem pior, dos resultados obtidos por fraude. Este é o primeiro risco. Denunciar como fraudulentos os resultados autênticos, obtidos por investigadores honestos e semear assim a discórdia e finalmente o descrédito sobre todos esses fenômenos.

Encontrei pessoalmente vários casos em que pessoas sinceras pensavam ter recebido nos seus gravadores mensagens do Além, quando não havia praticamente mais do que o barulho do ambiente, da sua própria respiração, do roçar do vestuário, do ranger das cadeiras e dos barulhos surdos da rua. Algumas destas pessoas, referiam mesmo publicamente as suas mensagens em conferências, em emissões de televisão ou publicando livros.

Lembro-me de um caso particularmente evidente, na ocasião de uma emissão em direto. A gravação das vozes tinha sido feita utilizando um “suporte”, constituído por um conto lido em francês e gravado ao contrário.

Sobre esse sussurro de consoantes e de vogais nós deveríamos distinguir uma mensagem do Além, fosse por modificação de sons pré-gravados, fosse por sobre-impressão. Nenhuma das pessoas presentes pôde distinguir a mínima palavra inteligível. Em seguida pedi ao estúdio para repetir a experiência, passando o suporte ao inverso.

Encontrou-se assim o conto em francês, sem nenhuma palavra alterada nem nenhuma palavra em sobre-impressão. Não havia absolutamente nenhuma mensagem do Além, sobre esse comprimento de onda. Mas a pessoa que apresentou essa gravação era sincera. Ter-lhe-ia sido fácil cometer fraude e nós teríamos então ouvido vozes.

Entretanto, difundir tais ilusões apresentando-as como exemplos de comunicações com os nossos mortos através dos instrumentos eletrônicos, é absolutamente inaceitável. Talvez, no melhor dos casos, essa pessoa tenha funcionado como médium. Mas não é de modo nenhum a mesma coisa. Seria necessário aliás, nesse caso preciso, que ela tivesse ouvido por mediunidade as mesmas palavras no correr da fita, do que duvido muito.

De toda a maneira, deve-se então, mesmo se é com um grande esforço, ter a coragem de o dizer firmemente, mesmo entristecendo pessoas aliás já magoadas pela perda de um ente querido. É toda a credibilidade da TCI que disso depende e é a esperança de milhões de pessoas no futuro que assim se defende.

É praticamente a mesma coisa para as vozes frágeis com interpretação duvidosa. Aliás, para essas, uma análise em laboratório arrisca provar que as palavras que creem ouvir-se não são mais do que uma reinterpretação do nosso cérebro de barulhos de fundo.

Há também casos mais sutis, porque no paranormal nada é simples. Eu penso, entre outros, numa amiga muito querida na Itália que recebe as suas mensagens para os outros sobre um pequeno gravador sobre o qual ela arranha com a tampa de uma esferográfica.

Acontece que as palavras assim recebidas sejam perfeitamente audíveis e reconhecíveis por toda a gente. Eu mesmo o identifiquei várias vezes, se bem que o italiano não seja a minha língua materna. Mas, a maior parte das vezes, as palavras que ela nota não podem ser reconhecidas por mais ninguém.

Ela é verdadeiramente a única a ouvi-las. Ela transmite, portanto, assim nomes próprios de pessoas ou de lugares, detalhes da vida passada de pessoas que ela não poderia absolutamente conhecer e que os seus interlocutores reconhecem como exatos. Por vezes ela evoca mesmo fatos esquecidos desde há muito tempo, o que tende a provar que ela não os tirou do seu subconsciente.

O mais provável é que ela funcione então sob um duplo aspecto, ao mesmo tempo como médium e através da TCI. Não se pode, portanto, excluir totalmente esses registros do campo da TCI, mas é preciso reconhecer e mesmo sublinhar esse carácter particular. Aliás, é talvez frente a casos como este que seremos ajudados pouco a pouco a melhor compreender como essas mensagens podem chegar até nós.

Limito-me a evocar aqui o seguimento dos problemas que ainda restam por esclarecer, quando se tem, enfim, a convicção de se ter recebido qualquer coisa de paranormal sobre o seu gravador, o seu televisor, o seu telefone ou o seu computador. Este não é o tema deste artigo. Mas creio que é ainda necessário assinalá-lo.

Enfim, temos o problema da origem real das mensagens recebidas. Não é porque um fenômeno paranormal se produziu que ele vem necessariamente dos nossos desaparecidos. Já demonstrei por outro lado as diferentes hipóteses possíveis e que cada vez é preciso considerar: interferência, ondas remanescentes, projeção do consciente ou do subconsciente, comunicação com extras terrestres ou outras entidades…

Resta ainda o problema da interpretação das mensagens recebidas. Não é porque essas mensagens nos veem verdadeiramente de uma outra dimensão que elas são a verdade absoluta. O Além é muito mais complexo do que nós o suspeitamos habitualmente.

O outro perigo é o de denunciar muito depressa e publicamente os investigadores como fraudulentos antes de se ter a prova absoluta. É evidentemente correr o risco enorme de cometer uma injustiça grave contra pessoas honestas. A denúncia é sempre fácil e ela pode por vezes ser tentadora.

Normalmente para aqueles que não obtêm nenhum resultado ou muito poucos. “Eu, após todos os meus esforços, com todo o meu amor, não pude obter mais que alguns murmúrios. Não é possível que outros tenham resultados assim tão extraordinários como eles pretendem. Eles cometeram fraude seguramente.”

Não citarei nomes porque não viso ninguém em particular; conheço de fato muitos casos que corresponderiam a esse esquema. É também a tentação de certos investigadores que descobrem a TCI com entusiasmo, mas que não conhecem nada do conjunto de fenômenos paranormais com a sua extraordinária complexidade.

Ora há forçosamente ligações entre as comunicações por TCI e os outros fenômenos. É preciso ver como os distinguir, mas também como por vezes eles se combinam. Todas as mensagens que chegam até nós e parecem verdadeiramente vir do mundo dos nossos finados falam de uma outra matéria que constituiria os seus corpos e o conjunto do universo no qual eles vivem. Há ainda, pelo menos nos primeiros níveis do Além, paisagens, casas, palácios…

Eles têm ainda mesmo laboratórios, fazem pesquisas científicas, fabricam aparelhos. Estes podem por vezes ser conectados com os nossos e permitir-lhes comunicar conosco. É assim que podemos ouvir sobre as nossas gravações barulhos de aparelhos.

Nos fenômenos de “voz direta” onde a voz do finado ressoa no espaço como uma voz normal perfeitamente audível por todos e parece vir dum lugar bem preciso desse espaço, por exemplo, no compartimento onde nos encontramos, de tal ângulo ou de tal outro, quando não podemos lá ver ninguém, eles nos dizem por vezes que fabricam no seu mundo o equivalente na sua matéria a um ectoplasma dos nossos, dando-lhe a forma de uma laringe a fim de produzir sons perceptíveis para nós.

Certos finados parecem em comunicação direta com entidades que não são do nosso mundo: extraterrestres, entidades que nunca encarnaram, os anjos como o ensina a tradição. Esses seres do Além ajudarão eles os nossos finados a comunicar conosco? Parece que sim, em certos casos. Mas então de que maneira?

As vozes que nós recebemos são de tipos muito diferentes, por vezes, pelos mesmos investigadores segundo o interlocutor que se exprime do Além, por vezes, segundo parece em função do centro de recepção sobre a terra. Algumas são muito rápidas, outras muito lentas; algumas são bruscas, outras muito fluentes; algumas são metálicas, outras como que sufocadas.

Parece que elas não são formadas da mesma maneira, nem segundo a mesma técnica. De toda a maneira é bem necessário que haja uma certa interferência entre o mundo deles e o nosso para que a voz deles possa fixar-se na nossa matéria. Nós sabemos que eles têm dificuldades para se adaptar ao nosso tempo, dado que as partículas dessa outra matéria, que compõe o seu corpo espiritual, se encontram em vibrações muito acima das da nossa luz.

Constatações aberrantes foram feitas por numerosos pesquisadores de todos os países. Eles não cometeram todos fraude. Aqui ainda me contentarei com alguns exemplos a título indicativo: as cópias feitas em condições normais, de uma fita cassete de vozes paranormais podem comportar palavras suprimidas ou mudadas (não falo aqui senão das palavras perfeitamente audíveis por toda a gente e não dessas palavras de interpretação incerta).

Podem borrar-se fitas, completa ou parcialmente, podem tornar a aparecer vozes depois de desaparecidas. Mensagens diferentes podem aparecer nos mesmos sítios da fita magnética segundo a velocidade com que se fizer passar a fita.

Há muito tempo que os pesquisadores da TCI esperam encontrar uma aproximação científica permitindo sondar um pouco o mistério dessas comunicações com o Além. Desde há algum tempo a análise das vozes gravadas parece uma das pistas possíveis. Já foram efetuadas pesquisas nesse sentido em diversos países.

Tudo isso me parece entusiasmante e bastante prometedor. Talvez nós um dia consigamos melhor compreender como essas comunicações podem passar até nós. Talvez nos seja então possível reunir do nosso lado condições favorecendo esses contatos: novos aparelhos, novos ajustamentos em aparelhos já existentes, etc.

As primeiras constatações darão lugar a novas hipóteses… É assim que a pesquisa progride. Mas parece-me importante reconhecer também os limites de todas as pesquisas técnicas. A meu ver, elas não permitirão jamais por elas mesmas e por elas só provar que essas vozes são autênticas.

Tudo o que o técnico poderá fazer, é constatar anomalias em relação ao material e às técnicas atualmente em uso, quer isso seja, digo-o somente a título de exemplo, a ausência de frequências fundamentais, frequências excepcionalmente elevadas, superposições de mensagens, etc.

Mas se não se conhecerem as condições exatas nas quais essas gravações foram efetuadas, nada disso poderá bastar para excluir uma fraude ou um concurso fortuito de circunstâncias excepcionais na origem de um fenômeno que poderia ser interessante em si, mas que não viria do Além.

Da mesma maneira, a meu ver, jamais a constatação de fenômenos habitualmente devidos à manipulação dos nossos instrumentos poderá bastar para provar que há fraude. Isso por uma razão bem simples, é que, precisamente, nós não sabemos absolutamente como as vozes paranormais se podem formar. Nós encontramo-nos perante fenômenos que escapam completamente às nossas leis, que se encontram, por eles mesmos, fora do nosso controle.

E assim é, evidentemente, para as imagens. Nós ainda não sabemos como “eles” podem formá-las sobre as nossas telas. Constatou-se há já muito tempo, em diversos centros, que as imagens recebidas correspondiam por vezes, mas nem sempre, a imagens já publicadas em livros ou em revistas ou a fotos tiradas em vida da pessoa de quem se recebia as imagens paranormais. Mas o fenômeno foi também constatado por um certo número de textos recebidos por vias paranormais e que depois se iam encontrar imprimidos em livros.

O texto encontrava-se então quase nada adaptado, algumas palavras suprimidas ou mudadas, frases invertidas. Mesmo fenômeno com as imagens, simplesmente inversas esquerda direita, ou com alguns detalhes insignificantes modificados. Poder-se-ia então pensar na fraude. Mas nenhum desses textos, mesmo sendo eles muito belos, necessita de um gênio particular.

Para quê correr o risco de ser desmascarado quando é tão fácil para não importa quem redigir um texto bem significativo? Lembro-me também, nomeadamente em casa dos meus amigos de Luxemburgo, de certas imagens onde víamos algumas personagens misteriosas em frente de objetos bizarros em forma de prismas; ou uma outra vez onde apareceu uma muitíssimo bela imagem geométrica.

Ora, os meus amigos encontraram eles mesmos as mesmas imagens em livros, em revistas e mesmo sobre a capa de uma revista de esoterismo à venda em todos os quiosques de Luxemburgo. Ter-lhes-ia sido fácil fazer uma montagem!

Crer que eles tenham cometido fraude é verdadeiramente obsequiá-los com uma estupidez inteiramente excepcional. Para mim, a melhor garantia, e a única, é a honestidade daqueles que receberam essas mensagens. Visto do exterior, isso não é nunca uma garantia absoluta. Mas é a única. Aqueles que fizeram eles mesmos essas gravações sabem bem que não fizeram batota.

Sejam quais forem as objeções técnicas que lhes façam não podem, evidentemente, mudar a sua convicção. Aqueles que os conheceram de perto, muitas vezes durante meses e anos, que assistiram à sua estupefacção, à sua perturbação, por vezes de novo às suas dúvidas, depois à sua imensa alegria e mudança completa da sua vida, sabem bem também que tudo isso não pode repousar sobre uma comédia.

É por isso que conhecer pessoalmente os pesquisadores me parece indispensável. Quando se vê que eles não se aproveitam de nenhum benefício financeiro nem de nenhuma glória pessoal e isso durante vários anos, então acredito que se lhes pode fazer confiança. Compreendo inteiramente a preocupação de alguns em querer proteger a TCI contra os charlatões. Trata-se de uma descoberta fantástica cujas repercussões serão imensas. Mas a prudência deverá exercer-se nos dois sentidos.

De qualquer maneira, como pensam vários dos meus amigos sobre esse assunto, quando as comunicações forem propagadas um pouco por toda a parte no mundo, elas não terão mais necessidade de prova, serão aceites como uma evidência.

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Nota do editor do site ‘Além da Ciência’: os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessária e irrestritamente, a opinião e suporte deste website. O material está sendo disponibilizado aqui para estudo e pesquisa, sendo que cada um deve fazer o seu próprio julgamento.
Tradução do original em francês por Anabela Cardoso. Publicado no número 4 de Cadernos de TCI de dezembro de 2000 com o título original de “Mensagens autênticas ou fraude?”.

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