(Crédito: Depositphotos)

Por Luis Pellegrini

 

Revista Planeta, n. 333, junho de 2000.

 

“O paranormal? É o normal, amanhã”, dizia Albert Einstein. Bem ancorado no alto da sua ciência — e da sua consciência espiritual —, o maior físico do século 20 defendia uma concepção revolucionária da realidade.

“Não é o tempo que passa, somos nós que passamos no tempo”, dizia, comparando nossa existência a uma rua. “Quando estamos no começo dela vemos apenas, pela estreita seteira que constitui nosso ‘aqui-agora’, a casa n° 1. Mas a casa n° 100 já existe. Um dia, poderemos passear para frente e para trás nessa rua”.

A esse tempo que passa e do qual cada instante é abolido como algo já vivido pelos nossos sentidos, o pai da relatividade opunha o “tempo total”, no qual passado, presente e futuro coexistem. Para ele, era perfeitamente possível que personagens do passado pudessem, por meios que ainda desconhecemos, “passear no futuro deles”, ou seja, no nosso presente. E, estando entre nós, dar o seu recado. Ou seja: se comunicar.

Lá onde ele se encontra hoje, no plano do espírito, Einstein certamente dará pulos de alegria ao saber das coisas que acabam de ser discutidas no Segundo Congresso Mundial de Transcomunicação Instrumental (TCI), que aconteceu na metade de abril último em Toluca, México.

Brincadeira do copo, clarividência, aparições de fantasmas, mediunidades várias? Daqui para a frente todos esses fenômenos da parapsicologia clássica correm o risco de ir para o museu das paranormalidades se a evolução da transcomunicação instrumental continuar no ritmo atual.

Planeta em várias ocasiões falou da TCI: a recepção de vozes, textos ou imagens misteriosas, através de meios elétricos e eletrônicos, como gravadores, impressoras, rádio e televisão, computadores, etc. Trata-se de um número já incontável de mensagens e imagens que foram examinadas minuciosamente por físicos e por especialistas em acústica e em informática.

Tais especialistas não puderam ainda comprovar que elas provêm mesmo do mundo do além. Eles, porém, afirmam que a fonte que as emite, bem como a natureza que apresentam, não corresponde a nenhuma fonte e a nenhuma lei científica atualmente conhecida pela ciência terrestre.

Os resultados mais recentes da TCI estiveram na ordem do dia do congresso mexicano. Eles dão novo alento ao velho sonho de saber se algo resta depois da morte.

Na origem do congresso mexicano — patrocinado pela Prefeitura de Toluca e por empresas poderosas como a Coca-Cola, a Cerveja Corona e alguns grandes hotéis — existe o drama familiar dos Dray, casal de origem francesa que vive no México. A filha deles, Karine, morreu em 1995, aos 21 anos, num acidente de automóvel.

Semanas depois da sua morte, a voz de Karine apareceu com nitidez na fita magnética de um gravador que permanecera ligado na casa dos pais. Na primeira mensagem, ela chama a mãe pelo nome. Chama também sua gata Magna — que, por sinal, respondeu prontamente ao apelo, como costumava fazer quando a moça estava viva.

Maryvonne e Yvon Dray, os pais de Karine, ficaram em sobressalto durante algum tempo. Mas logo se acostumaram, e foram eles que mobilizaram forças para criar o Congresso de Toluca. Desde aquela primeira mensagem, Karine lhes fala quase todos os dias, de modo cada vez mais claro.

Ela falou inclusive ao jornalista francês Didier van Cauwelaert, do Le Figaro Magazine, presente em Toluca para a cobertura do congresso. Em seu hotel, o jornalista resolveu “provocar” Karine. Ligou o gravador e pediu ao “espírito” da moça que lhe deixasse um recado. Depois, ao ouvir a fita, lá estava, bem clara, a mensagem: Pense em escrever sua reportagem!

Melhor não brincar com essas coisas. Até a Igreja católica decidiu levá-las mais a sério. Do congresso de Toluca participaram vários religiosos, entre eles o padre François Brune, autor, junto com o filósofo francês Remy Chauvin, de um excelente livro a respeito da TCI: À L’écoute de L’au-delà (“A Escuta do Além”). Padre Brune, que é estudioso especialista nas tradições místicas das grandes religiões, afirma constatar cada vez mais “convergências entre essas tradições com as descobertas da ciência moderna”.

Em seu livro, Brune reuniu vários relatos historicamente comprovados, um deles envolvendo inclusive um papa. Em 17 de setembro de 1952, o padre Gemelli, que era então presidente da Academia Pontifícia de Ciências, tentava filtrar a qualidade do som de gravações de canto gregoriano. Exasperado com os problemas técnicos que enfrentava, exclamou: “Papai, me ajude!” Órfão desde a infância, padre Gemelli costumava repetir essa invocação sempre que estava em dificuldade.

Tarefa terminada, ele voltou a escutar a fita. Quase desmaiou quando, de repente, em vez da gravação do canto, apareceu a voz de seu pai defunto que lhe dizia: “Mas é claro que vou te ajudar, Zuccone (Abobrão, em italiano), eu estou sempre perto de você!”

Zuccone era o apelido que seu pai lhe dera quando vivo. Padre Gemelli foi contar tudo ao papa Pio XII. Mas este, longe de mostrar espanto, tranquilizou o sacerdote: “Isso nada tem a ver com espiritismo. O gravador é um aparelho objetivo que não podemos influenciar. Essa experiência poderá talvez suscitar estudos científicos que confirmarão a fé no mundo do além”.

Claro, se nem o papa se espantou, quem mais se espantaria? Padre François Brune deixa claro que, já há bom tempo, a Igreja não mais se opõe de modo radical à invocação dos espíritos. No México, Brune fez eco à declaração do eminente teólogo Gino Concetti, que, em 1996, afirmou textualmente: “A Igreja não mais proíbe os contatos com o além, desde que eles tenham o objetivo de consolar as pessoas em luto ou de fazer com que a ciência avance”.

As vozes de Hilda Hilst

O Congresso de Toluca é, hoje, o maior encontro mundial dos estudiosos da transcomunicação instrumental. Mas tentativas de comunicação com os mortos através de meios tecnológicos são tão velhas quanto a própria ciência. Claro, em nosso século, graças ao extraordinário desenvolvimento da eletrônica, ela deu passos de gigante. Sabe-se que na França, durante a Primeira Guerra Mundial, uma certa senhora Monnier recebeu um telefonema do seu filho Pierre.

Este a avisava de que acabara de ser morto em combate, mas que estava muito bem e que ela não se preocupasse. A morte do rapaz era, infelizmente, bem real. Em 1921, Thomas Edison tentou inventar um aparelho para se comunicar com os espíritos.

Depois dele, um sem-número de tentativas aconteceram, no mundo todo, fartamente descritas nos livros que falam do assunto. Inclusive no Brasil, várias pessoas se interessaram. A escritora Hilda Hilst, em Campinas (SP), chegou a montar um pequeno estúdio em sua casa para essas gravações. Hilda conseguiu obter mensagens notáveis.

As primeiras análises sérias das vozes transcomunicadas começaram em 1964, no Instituto Alemão de Física, em Northeim. Suas conclusões foram, depois, confirmadas por dezenas de laboratórios: a frequência normal da voz humana situa-se entre 100 e 200 hertz; a frequência de uma voz transcomunicada varia entre 500 e 1400 hertz.

Apresentados em Toluca, os resultados das últimas investigações também provam que essas vozes, destituídas de frequência fundamental e de efeito de ressonância, são emitidas por indivíduos que não possuem cordas vocais.

Quanto à hipótese de vozes sintéticas, fabricadas por computadores, ela não resistiu a nenhuma análise. Resta ainda a explicação mais simples — embora a menos científica de todas — de que as vozes são gravadas na fita magnética pelo inconsciente dos transcomunicadores. Hipótese que os próprios cientistas consideram absurda, mas que tem, pelo menos, o mérito de ressaltar o tremendo poder do inconsciente humano…

Matéria e espírito

Nas últimas décadas, um outro tema correlato tem agitado as mentes científicas: a ideia de que a matéria viva não pode existir sem um espírito. O biologista inglês Ruppert Sheldrake é um luminar dessa teoria, postulando a existência de “campos morfogenéticos” que presidem, como o próprio nome já diz, a gênese das formas. Em outras palavras, segundo essa teoria, todo corpo vivo existiria acoplado a um “molde energético” que orientaria e organizaria a matéria biológica e daria a ela sua forma característica.

Bem antes dele, Hernani Guimarães Andrade, engenheiro brasileiríssimo, já dizia a mesma coisa, fazia pesquisas, e publicava inclusive livros a respeito do “modelo organizador biológico”. Nossa editora especial Elsie Dubugras — amiga do Dr. Hernani, várias vezes comentou os trabalhos deles em sua coluna “Fronteiras do Desconhecido”, em Planeta. Guimarães Andrade é um dos nossos gênios contemporâneos. Mas, como tantos outros geniais pensadores verde-amarelos, ele passa praticamente batido no Brasil…

O tema dos campos morfogenéticos chega agora também à França — a pátria do racionalismo. Louis-Marie Vincent, engenheiro e doutor em biologia, criou junto a outros investigadores o Grec-B (Grupo de Estudos dos Campos Biológicos). Seu objetivo: comprovar em laboratório as ideias de Sheldrake e Guimarães Andrade.

Francês, quando resolve investigar, não brinca em serviço. Um outro cientista, o neurólogo Jean-François Lambert, estudou eletroencefalogramas de monges tibetanos em estado de meditação profunda, e descobriu que nesse estado eles não reagem a estímulos luminosos — o que define o seu estado como de “morte clínica”.

Por seu lado, o professor Libet, do Hospital Monte Jerusalém, em Nova York, constatou que a consciência precede de cerca de meio segundo os mecanismos neuronais. Se essas teses realmente se verificam, significa que a consciência pode perfeitamente ser uma entidade autônoma, independente das leis que regem nosso mundo. Ou seja, uma entidade espiritual…

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Nota do editor do site ‘Além da Ciência’: os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessária e irrestritamente, a opinião e suporte deste website. O material está sendo disponibilizado aqui para estudo e pesquisa, sendo que cada um deve fazer o seu próprio julgamento.
Este artigo foi publicado originalmente com o título de “Congresso de Transcomunicação”.

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