A lenda do Cronovisor: a máquina do tempo que resgatava imagens do passado

O Cronovisor é uma alegada máquina do tempo que foi construída na década de 50. Uma das pessoas que ventilaram o tema do Cronovisor no mundo da Transcomunicação Instrumental (TCI) foi o pesquisador e padre católico francês François Brune, que escreveu algumas páginas de seus livros sobre este tema. O padre já escrevia sobre esse tema no seu primeiro livro de Transcomunicação Os mortos nos falam (Edicel, 1991).

Ele faz ressalvas sobre o Cronovisor nos seus livros, como esta: “Evidentemente, admitir a autenticidade de tais experiências é dar um grande passo. Seria desta vez, plena fantasia? O futuro dirá”. E o futuro já disse, o Cronovisor é uma ficção. Sua existência não tem ligação com a Transcomunicação.

O Cronovisor nunca apareceu em público

Aos olhos de um observador externo, associar o Cronovisor com a Transcomunicação tira a credibilidade de quem está pesquisando este campo seriamente. A Transcomunicação não tem ligação com o Cronovisor e não devemos misturar uma legítima pesquisa, que é a Transcomunicação, com uma ficção, que é o Cronovisor.

A única relação, mais do que distante, é que o mesmo padre italiano envolvido nessa história do Cronovisor, de nome Pellegrino Ernetti (1925–1994), esteve também envolvido com a Transcomunicação no ano de 1952.

Nesta data, sete anos antes de o pioneiro sueco Friedrich Jürgenson (1903–1987) ter registrado vozes que atribuiu a espíritos, o padre Ernetti, junto ao também padre italiano Agostino Gemelli (1878–1959), teriam registrado, segundo contam, vozes atribuídas a pessoas já falecidas no laboratório de física da Universidade Católica do Sagrado Coração (UCSC), em Milão, Itália.

A verdade é que o público nunca viu o aparelho Cronovisor. Já lançaram uma hipótese de que possa ter existido algum aparelho que o padre Pellegrino Ernetti, junto com sua equipe, tenha criado, mas ele pôde simplesmente ter se enganado em seu manuseio e achado que captou o passado em imagens e sons.

Ou, isso tudo tenha sido apenas uma fraude. Infelizmente, não temos como saber. O padre faleceu em 1994 e, evidentemente, não deixou nenhum esquema de como construir o Cronovisor.

Outras “máquinas do tempo”

O Cronovisor não foi a única “máquina do tempo” que já disseram ter sido inventada. Outras máquinas já apareceram por aí, como a câmera radiônica do engenheiro civil britânico George de la Warr (1904–1969). Nesta, não apenas diziam que resgatava o passado, mas também o futuro. Enfim, são tantas histórias para nenhuma realidade palpável.

Lembramos novamente que essas máquinas nunca apareceram em público e não têm relação com o campo de pesquisa da Transcomunicação. Uma das alegadas razões do Cronovisor não ter sido divulgada ao público é de que a máquina poderia se tornar uma espécie de Big Brother, vasculhando a vida de todas as pessoas e descobrindo tudo o que elas fazem no seu dia a dia. (Essa é uma “desculpa” bem pitoresca para não apresentar a suposta máquina em público.)

Para provar a existência do Cronovisor, teriam que colocá-lo em cima de uma mesa e rodar a máquina na frente das pessoas, captando as alegadas “imagens do passado”. Isto nunca aconteceu.

Na Transcomunicação, os aparelhos desenvolvidos foram apresentados e fotografados, além de terem sido testados por diferentes pessoas — que obtiveram diferentes resultados. Ademais, muitos deles têm esquemas eletrônicos ou diagramas, que possibilitam qualquer interessado replicar a sua construção.

Por exemplo, podemos citar o Psicofone, criado pelo engenheiro eletrônico austríaco Franz Seidl (1912–1982), e o gerador de ultrassom, criado pelo técnico em eletroacústica alemão Hans Otto König.

O físico Enrico Fermi participou da invenção do Cronovisor?

Na lenda da história do Cronovisor é divulgado que o físico italiano Enrico Fermi (1901–1954) e o engenheiro aeroespacial alemão Wernher von Braun (1912–1977) participaram da sua construção. Alguém consegue imaginar um cientista como Fermi escondendo uma descoberta desta natureza? Não seria a atitude de um cientista como ele.

Fermi não escondeu o conhecimento que levou à bomba atômica, por que esconderia uma máquina que resgatava imagens e sons do passado?

Fermi morreu em 1954 e a história do Cronovisor conta que a máquina teria sido criada em 1950, apesar de que é veiculado que foi somente em 1956 que houve o resgate das “imagens do passado”. Portanto, Fermi já havia morrido. A afirmação de que a invenção do Cronovisor tinha a participação destes cientistas deve ser encarado como mais uma das fantasias do enredo da lenda do Cronovisor.

Referências

[1] BRUNE, François; CHAUVIN, Rémy. Linha direta do Além. Transcomunicação Instrumental: realidade ou utopia? Tradução de Arlete Galvão de Queiroz. Sobradinho, DF: Edicel, 1994.

[2] BRUNE, Pe. François. Os mortos nos falam. Tradução de Arlete M. Galvão de Queiroz. Sobradinho, DF: Edicel, 1991.

[3] SEIDL, Franz. Phänomen Transzendentalstimmen. 1971. (Veröffentlichungen Nr. 1, VTFÖ).