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Por Dirceu Nascimento1

 

Boletim GEAE, ano 3, n. 140, 13 de junho de 1995.

 

A Transcomunicação Instrumental, ou TCI, vem crescendo muito no Brasil, principalmente depois do Congresso Internacional de Transcomunicação em São Paulo, abrindo novas perspectivas de conhecimento e vivências enriquecedoras a muitos que começaram a ela se dedicar e estudar. Basta observar o crescimento de menos de 50 postos de escuta em todo o país para mais de 600. Uma verdadeira rede está se formando, tornando mais viável grandes transformações a nível espiritual, mental, moral e científico.

Colocando em perspectiva não só as transformações, mais sobretudo a nossa percepção das mesmas, algumas pessoas começam a indagar como trabalhar em TCI num momento tão conturbado, com a crise econômica, a vida agitada e tantos problemas sociais, mais básicos e prioritários.

Vivendo em uma época difícil de parar para refletir até na própria vida, com tantos detalhes a resolver no dia a dia, algumas pessoas perdem o contato com o seu Eu. Muitas vezes e difícil de ver o sol se pondo, ou nascendo, e se deleitar com este sublime espetáculo da natureza, por pura impaciência e dispersão, ou por falta de acesso físico a locais abertos, dada a presença de muitos prédios altos nos centros urbanos.

Constantemente perdem o seu foco de atenção, vivendo o passado ou o futuro, através dos remorsos e culpas (passado) pelo que não fizemos bem ou deixamos de fazer, ou através das preocupações e incertezas do amanhã (futuro). E assim, dia após dia muitos se afastam de si mesmos.

Sem dúvida vivem uma crise de percepção, como reflexo de uma espécie de fuga ou incapacidade de lidar com o presente. E esta crise de percepção, como uma doença moderna, também as afasta da TCI.

A interação do experimentador com a experiência é dinâmica, dependendo de variáveis, que ainda não se conhece e domina completamente. E a percepção correta destas variáveis é muito importante para a pesquisa científica. A percepção está ligada ao nível de consciência do ser, enquanto a ciência ao seu nível de conhecimento.

Sabe-se que o “Electronic Voice Phenomenon“, ou EVP, tem quatro hipóteses possíveis:

– O agente psi-theta

– O agente psi-gamma

– Fraude

– Interferência

O agente psi-theta se refere à tese espírita, onde uma INTFOM (Inteligência Fora da Matéria) atua como causa no EVP. O agente psi-gamma se refere ao que os parapsicólogos denominam psicosinesia, onde a mente do experimentador atua como causa direta e exclusiva no fenômeno. A hipótese de fraude se refere à atuação dos charlatões, que buscam exclusivamente interesses pessoais. Outra causa é a interferência, que pode ser eletromagnética ou sonora.

O estudo das hipóteses possíveis é fundamental para o pesquisador sério, pois desta forma poderá atingir a percepção correta sobre as diversas variáveis e chegar as suas próprias conclusões, contribuindo de forma positiva para o desenvolvimento desta nova forma de comunicação, a Transcomunicação Instrumental.

Simon Haykin [1] expressa o conceito de comunicação da seguinte forma: “No sentido mais fundamental, comunicação envolve implicitamente a transmissão de informação de um ponto para outro através de uma sucessão de processos”, como descritos abaixo:

“1. A geração de um padrão de pensamento ou imagem na mente do originador;
2. A descrição daquela imagem, com certa medida de precisão, por um conjunto de símbolos visuais ou auditivos;
3. A codificação destes símbolos numa forma adequada para transmissão sobre um meio de interesse;
4. A transmissão dos símbolos codificados para o destino desejado;
5. A decodificação e reprodução dos símbolos iniciais;
6. A recriação da imagem original, com uma definível degradação em qualidade, na mente do receptor, onde a degradação é causada por imperfeições do sistema.”

Observa-se desta forma a complexidade de um sistema de comunicação em tempo real. Dada a limitação espaço-temporal, tem-se somente acesso direto aos dois últimos processos em um sistema de Transcomunicação Instrumental. E observa-se também que o ser humano tem um papel ativo neste sistema, com manipulação de seus conteúdos psíquicos e energéticos, bem como dependência de sua acuidade auditiva, no caso do EVP.

Assim, reconhecendo a influência do homem neste sistema, entende-se melhor a necessidade de regularidade de experimentação como uma das chaves para o sucesso na pesquisa. Um dos motivos seria a necessidade de uma espécie de condicionamento fisiológico, tanto para emissão de algum tipo de energia necessária no sistema, como para treinamento de acuidade auditiva.

Outro motivo seria a hipotética existência de uma equipe de trabalho constituída pelo experimentador e por assistentes em outra dimensão, constituindo um trabalho de parceria, de acordo com Friedrich Jurgenson [2] e Konstantin Raudive [3].

Levando em conta os fatos experimentais, para abordagem adequada deste sistema, não se pode trabalhar em TCI com o objetivo de achar um transdutor ou máquina de transcomunicação como peças dissociadas do ser humano.

É necessária uma mudança de paradigma, que leve a uma abordagem holística e moderna de pesquisa. Fritjof Capra, Ph.D em física pela Universidade de Viena, aborda sobre a incapacidade de muitas áreas do conhecimento humano na solução dos problemas modernos, dada a resistência dos pesquisadores e cientistas de saírem do modelo cartesiano e reducionista.

Ele cita como exemplo, entretanto, a física moderna, em especial a teoria quântica, que hoje já estão muito mais próximas do modelo holístico. Segundo Capra:

“Quando penetramos na matéria, a natureza não nos mostra quaisquer elementos básicos isolados, mas apresenta-se como uma teia complicada de relações entre as várias partes de um todo unificado.” [4]

Na TCI, a mente do pesquisador faz parte do sistema, não podendo ser dissociada do estudo como é na visão mecanicista e cartesiana. Segundo F. Capra:

“Ao transcender a divisão cartesiana, a física moderna não só invalidou o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza, mas também desafiou o mito da ciência isenta de valores. Os modelos que os cientistas observam na natureza estão intimamente relacionados com os modelos de sua mente — com seus conceitos, pensamentos e valores”. [4]

A necessidade de análise livre de preconceitos com a mente aberta, por todos os quadros científicos, é muito importante. A própria evolução humana depende desta atitude sadia e corajosa. A TCI se encontra na fronteira entre as ciências acadêmicas, com base experimental, e as ciências ocultas e religiosas, com base vivencial, sendo natural elo de ligação para complementação e harmonização destas ciências, tão necessitadas de reajuste dado aos paradoxos atuais.

No estágio atual, a TCI já contribui para o aperfeiçoamento humano, mesmo com todos os problemas técnicos e humanos existentes. Qualquer pessoa, não importando posição social, credo religioso ou filosófico pode ser um transcomunicador. Basta ter mente aberta, boa vontade, paciência e perseverança. Com espírito de pesquisa se cria uma oportunidade ímpar de autoconhecimento e aperfeiçoamento a nível mental, intelectual e espiritual.

Abrem-se novas perspectivas de trabalho onde a TCI vai ser uma ferramenta muito importante para a espiritualização da humanidade em nosso planeta; através do consolo de muitos que perderam seus entes queridos, e que depois podem se comunicar; através da humanização do ser; e através do intercâmbio com esferas mais evoluídas, com o consequente enriquecimento de nossa ciência, tecnologia, medicina, filosofia, cultura, valores morais e qualidade de vida.

1 Dirceu Nascimento é engenheiro civil.

Referências

[1] HAYKIN, Simon. Communication systems. Ed. McMaster University.

[2] JURGENSON, Friedrich. Telefone para o Além. Ed. Civilização Brasileira.

[3] RAUDIVE, Konstantin. Breakthrough. Ed. Colin Smythe.

[4] CAPRA, Fritjof. Ponto de mutação. Ed. Cultrix.

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Nota do editor do site ‘Além da Ciência’: os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessária e irrestritamente, a opinião e suporte deste website. O material está sendo disponibilizado aqui para estudo e pesquisa, sendo que cada um deve fazer o seu próprio julgamento.
Este artigo foi publicado originalmente com o título de “A Transcomunicação Instrumental e o homem”.

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