A técnica do rádio utilizada na Transcomunicação Instrumental foi inventada de modo natural pelo pioneiro do fenômeno das vozes eletrônicas, o cantor e pintor sueco Friedrich Jürgenson (1903–1987). Nessa época, ninguém sabia que as vozes poderiam se manifestar através de um rádio, e sua introdução na Transcomunicação não foi um procedimento planejado.

Pelo contrário, foram as vozes que Jürgenson já vinha gravando, através de um microfone acoplado em seu gravador de rolo, que lhe indicaram para que passasse a utilizar um rádio. Frequentemente, vozes diziam: “Tome contato com o rádio”.

O início do uso do rádio

Inicialmente, Jürgenson não entendia bem o que significava essas mensagens e ainda não compreendia que um rádio poderia ser um meio de contato com as vozes. Certa vez, uma voz de mulher foi registrada em seu gravador, dizendo: “Nós precisamos aumentar o volume das vozes”.

Certa noite, Jürgenson revolveu ligar o seu gravador diretamente no rádio e ficou surpreso ao reconhecer uma voz que ele já estava acostumado a contatar e ouvir em seu gravador. Agora ela aparecia também no aparelho de rádio.

Essa voz era, segundo Jürgenson, de uma entidade espiritual chamada Lena, que mais tarde se tornou sua “assistente de rádio”, e a quem lhe fornecia os procedimentos para gravar através dele e obter melhores comunicações em qualidade mais audíveis. Nessa primeira gravação usando o rádio, Jürgenson gravou a voz de Lena dizendo: “Manter, manter!”.

Friedrich Jurgenson. Pioneiro em registrar características anômalas das vozes.

Uma nova etapa se descortina

A partir de então, com o uso do rádio como importante e impressionante instrumento de contato uma nova etapa da Transcomunicação Instrumental havia nascido.

Jürgenson narrou posteriormente em seu livro Sprechfunk Mit Verstorbenen (Telefone para o Além, Civilização Brasileira, 1972) que “pela primeira vez naquele dia, tomei consciência da importância do rádio como ‘ponte de comunicação’, e embora esse conhecimento fosse novo para mim e ainda não soubesse como ocorria o fato tecnicamente, tinha a certeza de haver encontrado o caminho certo”.

Certamente, esse foi um imprescindível passo para a melhoria das transcomunicações futuras e um caminho aberto e descortinado para a melhoria da qualidade das gravações, com vozes registradas em nível de audibilidade de inquestionável clareza.

Com a recente introdução do rádio como novo método para suas gravações, Jürgenson se viu ainda muito confuso e embaralhado ao utilizá-lo. A nova técnica requeria um novo aprendizado, uma boa audição, um rigoroso treinamento e uma concentração dirigida na tarefa. Jürgenson teve que se habituar a toda a problemática inerente ao uso do rádio, como ele próprio narra:

“A princípio, mergulhei num verdadeiro caos de sons e ruídos. No meio dessa miscelânea, ouvi música, peças teatrais, cantos, conferências, sinais Morse e os estrondos da perturbadora radiofonia russa”.

No meio de todo esse pandemônio sonoro, as vozes se faziam presentes. Com o tempo, as vozes já eram mais longas e mais audíveis do que as obtidas através do antigo método de utilizar apenas um gravador com microfone. Ainda hoje, realmente é fato que o uso do rádio possibilita que as vozes sejam mais claras em audibilidade e suas sentenças sejam maiores.

Foram-se inúmeras gravações realizadas por Jürgenson e vários equívocos na escuta e interpretação, até poder educar seu ouvido para reconhecer as vozes peculiares e selecioná-las dentro de outros ruídos emitidos pelas estações transmissoras terrestres. Seu trabalho era difícil, mas segundo ele, as vozes faziam de tudo para auxiliá-lo.

Vozes poliglotas

As vozes começaram a se pronunciar em diversos idiomas e ele interpretou essas ocorrências como uma tentativa de chamar-lhe sua atenção e de fazê-lo perceber que aquela voz era diferente dos locutores convencionais das estações transmissoras terrestres. Realmente, um locutor de rádio comum não iria falar aos seus ouvintes palavras em diversos idiomas numa mesma frase.

Como Jürgenson era poliglota, podia compreender as vozes que agora construíam suas mensagens, usando palavras em vários idiomas. As vozes também costumavam cantar em vários idiomas, tanto em solo como em coral, na tentativa de, segundo interpretou Jürgenson, se diferenciarem das emissões radiofônicas convencionais.

Recurso da intencionalidade: as senhas

Além disso, as vozes agora empregavam uma espécie de “senha”. Eram palavras ditas para orientar Jürgenson no meio de toda a vozearia do rádio, com o objetivo de funcionar como sinais ou balizas, indicando que estavam presentes e que estavam emitindo uma mensagem em determinado trecho da gravação.

Livro "Sprechfunk Mit Verstorbenen" de Jurgenson
Livro “Sprechfunk Mit Verstorbenen” de Jurgenson

Podemos entender as palavras de “senhas” hoje como o chamado “recurso da intencionalidade” das vozes — em se fazer notar e destacarem sua presença em determinado trecho de uma gravação.

Em termos amplos, podemos entender como a intenção das vozes em chamar a atenção do transcomunicador e de fazê-lo certificar que não está enganado em sua interpretação, ao pensar que sua gravação seja apenas um fenômeno ordinário, como, por exemplo, uma estação terrestre qualquer.

A intenção é garantir de que realmente está contatando outro nível de consciência humana, uma entidade espiritual. Frequentemente, as vozes citam o nome do transcomunicador e usam palavras-chave que somente ele sabe. Esse é o recurso da intencionalidade por parte das vozes, e sua manifestação não pode ser explicada como uma interferência de uma rádio local ou estrangeira qualquer.

Frequentemente, os transcomunicadores provocam o fenômeno nesse sentido, saudando-o com um “boa noite” em suas gravações, na esperança de ouvir uma recíproca por parte das vozes e obterem uma certeza que estão em contato direto.

Ou mesmo, os transcomunicadores mencionam palavras-chave (as senhas de Jürgenson) para que as vozes repitam nas gravações a mesma palavra-chave, com o objetivo de certificarem a presença de um conteúdo dirigido intencionalmente ao transcomunicador e não uma emissão qualquer perdida no espaço que foi captada ali no gravador.

O fenômeno da “metamorfose” sonora

Jürgenson menciona que não teria avançado tanto em seu trabalho — com o uso do rádio — se não tivesse a sempre presente entidade espiritual Lena, ao qual tinha a tarefa de ser a sua “assistente de rádio”. Ela orientava Jürgenson, falando as palavras de senha e indicando qual onda sintonizar.

Sempre paciente, encorajava Jürgenson em seus momentos mais difíceis. Com o passar do tempo e de muitas gravações transcorridas, Jürgenson notou a existência de um fenômeno peculiar no modo como as vozes eram construídas e se tornavam audíveis nas fitas do seu gravador de rolo.

O uso do rádio proporcionou novos avanços da pesquisa
O uso do rádio proporcionou novos avanços da pesquisa

Percebeu que as entidades tinham habilidades incríveis e construíam suas vozes modulando instantaneamente os sons existentes de uma transmissão radiofônica. Era a “metamorfose” sonora que transformava alguns sons em vozes. Jürgenson observou que alguns sons que eram transmitidos pelo rádio, ou mesmo a própria voz de locutores em várias estações, eram manipulados e modulados pelas entidades como matéria-prima para a criação das suas vozes.

Em verdade, esse notável fenômeno já havia sido observado pelo mesmo Jürgenson, usando apenas seu método inicial de microfone e gravador. Quando certa feita ele estava fazendo suas habituais gravações, um cão ao longe latiu algumas vezes. Ao ouvir a fita, notou que o ruído do latido havia dado lugar a uma voz.

Naturalmente, essas modulações não são percebidas em tempo real e só são notadas quando da reprodução da fita gravada. Jürgenson descobrira, através da observação e experimentação, um dos pilares da Transcomunicação Instrumental, que está em voga até hoje.

Desde então, a teoria se estabeleceu até o presente momento e prega que o ruído de fundo que nós fornecemos em nossas gravações são modulados pelas entidades espirituais com a finalidade de construírem suas vozes. A depender do ruído fornecido, as vozes podem ganhar maior clareza e qualidade ou ficarem quase inaudíveis e muito ruidosas.

Em anos posteriores, muitos outros transcomunicadores notaram com espanto a mesma habilidade das vozes em modular sons, e até outros acharam que tinham feito tal original descoberta. Na verdade, estavam apenas redescobrindo a roda. Vemos que, na verdade, foi o Jürgenson o pioneiro e descobridor de muitas das anomalias observadas nas vozes.

Os copistas e os popser

Jürgenson observou também, através do rádio, modulações sonoras similares e passou a denominar a habilidade de algumas dessas vozes, em metamorfosear sons existentes, de copistas (imitador) e popser (repentista ou improvisador). O papel dos copistas era atribuído na técnica da fala e na modulação da voz falada.

Os repentistas tinham destreza na vibração das músicas e do canto. Esses nomes certamente não foram atribuídos ao acaso. Jürgenson era cantor e seguramente sua aptidão artística foi um forte aliado no seu trabalho ao ouvir e analisar as gravações de vozes como um todo.

Jürgenson até teorizava de como as entidades espirituais conseguiam tal proeza, afirmando que “aproveitam a enorme vantagem de sua posição acima e fora do tempo, eles são capazes de modificar sílabas e palavras de locutores radiofônicos ou os sons de quaisquer instrumentos musicais”. Hoje em dia, também são notadas essas permutas vocais, porém os nomes criados por Jürgenson não se fixaram no tempo.

São diversas as técnicas com o uso do rádio.
São diversas as técnicas com o uso do rádio.

Assim, com esse novo método de contato pelo rádio, Jürgenson gravou centenas de fitas e nunca mais abandonou o uso dele. Até hoje, os transcomunicadores usam o rádio, em preferência ao método que utiliza apenas o microfone.

Variadas possibilidades no uso do rádio

Certamente ficou demonstrado que, com o uso do rádio na pesquisa da Transcomunicação Instrumental, existiam mais vantagens do que desvantagens em relação ao método inicial de gravação apenas com microfone e gravador. Podemos listar algumas vantagens frequentes do uso do rádio:

a) Maior audibilidade das vozes;
b) Maior qualidade das vozes;
c) Maior número de palavras em uma sentença;
d) Maior a duração em tempo de uma sentença;
e) Possibilidade de comunicação bidirecional em tempo real, com a voz audível no ambiente.

São diversas as técnicas com o uso do rádio. A clássica técnica é dispor o rádio fora de sintonia, colocando seu dial entre duas estações, o que emitirá um característico chiado chamado de ruído branco. Entretanto, a técnica de maior preferência entre os transcomunicadores é sintonizar o rádio numa estação de locução de idioma que o transcomunicador não domine, como uma estação estrangeira.

Essa técnica foi muito utilizada por Friedrich Jürgenson e foi através dela que ele pôde notar as interferências dos copistas e repentistas, que modificavam a narração da locução local e inseriam uma mensagem pessoal para ele.

Uma frequência em particular ficou conhecida como “a onda de Jürgenson”, na qual as vozes lhe indicaram para sintonizar em 1480 KHz, entre as rádios de Moscou e Viena. Outro pesquisador, o alemão Hans Otto König, preferia sintonizar nas ondas curtas, em 31 metros (10MHz) e 41 metros (7 MHz).

Praticamente, foram obtidos resultados com gravações de vozes em diversas frequências, tanto em ondas curtas, ondas médias, ondas longas ou mesmo a mistura de diversas frequências, como a técnica da banda larga (faixa larga).

É por isso que alguns pesquisadores preferem dispor de mais de um rádio, ao mesmo tempo, no momento de sua gravação. Sintonizam cada rádio em diversas frequências e ondas, com o objetivo de se proporcionar uma maior variedade para que as vozes se manifestem.

Os erros de interpretação

Há recomendações atuais para abandonar o uso do rádio na Transcomunicação, em preferência a outros dispositivos de melhor e mais seguro controle, e que teoricamente proporcionam resultados similares.

A alegação é de que com o uso do rádio o transcomunicador pode facilmente se enganar e cometer falsas interpretações. Por exemplo, na técnica da rádio estrangeira, o transcomunicador pode interpretar palavras ditas pelo locutor como autênticas vozes vindas do Além.

Já na técnica do ruído branco, a sintonização interestações pode não ter sido bem localizada e proporcionaria o risco de esporádicas interferências de algumas das estações entrarem na gravação, fazendo o transcomunicador interpretar como vozes do Além vindas do ruído.

Realmente, o uso do rádio proporciona um cenário de erros, uma má interpretação de sentenças e absolutamente nenhuma segurança científica de uma amostra controle. O próprio Jürgenson já alertava para isto, dizendo serem umas das mais árduas tarefas.

Por isso ele acreditou ser essa uma das razões para que as vozes passarem a lhe enviar “senhas”, a chamar pelo seu nome e falar-lhe em diversos idiomas; tinha como um dos objetivos lhe situar no meio de todos os ruídos e locuções incontroláveis. O “recurso da intencionalidade” lhe dava a garantia que não estava apenas se enganando.

Friedrich Jurgenson: Inventou a técnica do rádio na Transcomunicação, usada até hoje.
Friedrich Jurgenson utilizou o rádio para tentar contatar entidades não físicas

Abandonar o uso do rádio nas transcomunicações e utilizar fitas pré-gravadas com vozes é a recomendação de alguns transcomunicadores para a solução da falta de controle e parâmetros. As fitas pré-gravadas são chamadas de “fitas conservas” e são utilizadas na Transcomunicação há muitos anos. Elas têm o objetivo de substituir o uso do rádio em determinados momentos.

Ao utilizar uma fita com sons pré-gravados no lugar do rádio, ou seja, como fonte produtora do ruído de fundo, ela atingirá o objetivo de serem uma amostra controle, sem perder os mesmos bons resultados. Após uma sessão de gravação, bastaria observar se alguma voz apareceu na fita do experimento e compará-la com a fita da amostra controle.

Vozes audíveis pelo alto-falante do rádio, em tempo real

O problema maior em se abandonar o rádio é suprimir uma parcela das características da fenomenologia. São ocorrências esporádicas e raras em que as vozes são audíveis pelo alto-falante dos rádios, em tempo real no ambiente, e pode-se tentar estabelecer uma comunicação bidirecional.

Abandonar completamente o rádio seria “calar” algumas características interessantes apresentadas pelas vozes. Apesar de um raro acontecimento, alguns poucos transcomunicadores no mundo recebem em seus rádios a manifestação dessas vozes, de modo constante e corriqueiro. Para eles, abandonar o uso dos rádios seria impensável.

Portanto, vimos que o uso do rádio foi um avanço na Transcomunicação Instrumental e até hoje é utilizado por grande parte dos pesquisadores e entusiastas do tema. O próximo patamar da Transcomunicação Instrumental seria inventar um dispositivo que o substituísse.

Um dispositivo que trouxesse os mesmos ou melhores resultados e que fosse um meio passível de controle científico após o término de cada sessão de gravação. Certamente, pelo andar da evolução das pesquisas, esse dispositivo não seria impossível de ser inventado. O futuro dirá.

Referências 

[1] ANDRADE, Hernani Guimarães. A transcomunicação através dos tempos. São Paulo: FE, 1997.

[2] GOLDSTEIN, Karl W. Transcomunicação instrumental. São Paulo: FE, 1992.

[3] JURGENSON, Friedrich. Telefone para o Além. Tradução de Else Kohlbach. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

[4] SCHÄFER, Hildegard. Ponte entre o aqui e o Além: teoria e prática da transcomunicação. Tradução de Gunter Altmann. São Paulo: Pensamento, 1992.

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Nota: esse artigo foi publicado no jornal O Diário de 05 de fevereiro de 2006.

9 COMENTÁRIOS

  1. tenho formaçao em eletronica, conheço transistores e outros componentes, solicito design de circuitos receptores para tentar comunicaçao com os os espiritos

  2. Por favor poderia enviar um passo a passo, do que é preciso para fazer a comunicação agradeço todos as informações, muito obrigado mesmo, grande abraço !

  3. tenho várias vozes que gravei no gravador do meu celular.algumas muito nítidas em português, outras em idioma estranho…Há no Rio de Janeiro algum local onde eu possa levar as gravações para análise?
    Grata

  4. Olá, sr.Ajambuja.

    Buscava eu um esquema simples para montar um gerador de ruído branco para me ajudar em meu repouso.

    Parabéns pelo seu trabalho, encontrei bem mais do que procurava.

    Quem sabe possa ter acesso ao resultado de suas novas buscas e experiências.

    Cleber Ferreira

  5. Tenho feito experiencias com sucesso, só que me sinto sem muita noção de como captar as comunicações de forma clara, embora isso já tenha ocorrido. Preciso saber como proceder para melhor atingir meus objetivos e se o radio ainda é o processo mais facil.

  6. oi eu e meu amigo ouvimos vozes estranhas qndo eu liguei para ele e axamos bem estranho nao era trasnferencia…keria sabe como faz para bota numa voz nitida obrigado aguardo resposta

  7. Amigo eu queria muuito aprender a usar os métodos de TCI mas pelo que vi acima a construção de um aparelho é relativamene dificil, ou é impressão de um leigo?? Gostaria de sua ajuda, obrigado.

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