A tecnologia do “Além” imita a do aquém?

É muito comum ver em filmes ou por meio de livros o estereótipo de que os espíritos são imateriais, que atravessam paredes, flutuam e que são de constituição física intangível — como que vaporosos e translúcidos. A pergunta-chave nasce daí: essa acepção popular da ilustração da constituição dos espíritos mostra-se somente ao espectro dos nossos olhos e dos nossos aparelhos ou realmente os supostos espíritos possuem tal constituição?

Mundo material como o nosso

Alguns pesquisadores da Transcomunicação Instrumental (TCI) acreditam que o mundo ou dimensão onde vivem os espíritos, que se comunicam por aparelhos eletrônicos, seja de natureza material, táctil, tangível e semelhante ao Universo que vivemos.

Esta outra dimensão também possuiria um Universo com galáxias, planetas, seres vivos, civilizações… enfim, um lugar muito semelhante ao que atualmente vivemos aqui no planeta Terra. Para posterior efeito comparativo, nesse escrito estaremos adotando que existem espíritos e que existe um mundo espiritual onde tais entidades habitam.

O condicionamento deste pensamento estaria atrelado, em parte, na Teoria da Relatividade do físico Albert Einstein (1879–1955), ao enunciar no início do século XX que “matéria e energia são apenas duas manifestações diferentes da mesma realidade física fundamental e que podem converter-se, uma em outra”.

Segundo seus proponentes, o mundo dos espíritos seria composto de uma matéria de natureza diversa da nossa, intangível para nós, mas tangível para eles, os espíritos. O pesquisador e padre francês François Brune, autor de dois livros sobre a temática da TCI, compartilha esse pensamento.

Em uma entrevista ao periódico Paris Match em 23 de setembro de 1988, o padre Brune foi interrogado pelo repórter se as experiências de TCI provariam a existência de um Além — um mundo espiritual — e da existência da alma.

O padre respondeu: “[…] a alma é outro corpo, uma sorte de duplo do nosso corpo material, um duplo animado e consciente, dotado da mesma personalidade, mas constituído de uma matéria bem mais sutil e que não podemos habitualmente perceber aqui, porque ela se situa em uma outra dimensão”.

As transimagens recebidas pelos transcomunicadores, ao redor do mundo, têm endossado o que o padre Brune e demais pensadores sustentam. As imagens figuram exatamente um mundo muito semelhante ao nosso, mostrando casas, rios, montanhas, pessoas etc.

As gravações de vozes atribuídas também ao mundo espiritual apoiam essa posição. Porém, essa sutil materialidade espiritual não é novidade para os espíritas, que já afirmam estar cientes dessas questões muito antes da transcomunicação instrumentalizada pensar em existir.

Em seu livro O Livro dos Espíritos, na pergunta de número 82, Allan Kardec (1804–1869) indaga ao espírito: “É exato dizer que os espíritos são imateriais?”; no que é respondido: “[…] imaterial não é bem o termo: incorpóreo seria mais exato; porque compreendeis muito bem, sendo o espírito uma criação, deve ser alguma coisa; é matéria quintessenciada [muito sutil], mas sem analogia para vós e tão eterizada que vos escapa aos sentidos”.

O médium brasileiro Chico Xavier (1910–2002) também descreve cidades no Além. Na sua obra Cidade no Além (IDE, 1986), em parceria com Heigorina Cunha, descreve através do espírito André Luiz a cidade chamada Nosso Lar, que ficaria em outra dimensão. “Em Nosso Lar, quase tudo é cópia melhorada da Terra”, afirmam os autores.

A tecnologia do Além

Partindo do pressuposto de que seja um Universo semelhante ao nosso, constituído de outra matéria ou energia ainda não detectada e descoberta pelos homens da Terra, consequentemente devemos formular uma pergunta muito pouca questionada no meio espírita.

Afinal, sendo tal mundo espiritual aparentemente semelhante ao nosso, estariam os espíritos — homens que outrora estiveram na Terra — mais avançados tecnologicamente do que nós? Muito se tem dito e falado em espíritos superiores, com elevado avanço moral, e em mentores espirituais que auxiliam no avanço espiritual da humanidade, mas muito pouco é descrito no aspecto tecnológico do mundo espiritual.

A ciência tecnológica do mundo dos espíritos é mais avançada do que a nossa? Em que podemos tomar por alicerce esta indagação? A dúvida seria simplória para alguns proponentes, quando esclarecem que não existe apenas um mundo espiritual, e sim diversos mundos, dimensões ou níveis, onde cada local estaria sendo habitado por espíritos com diferentes níveis de amadurecimento e de consciência. Esses habitantes seriam mais avançados ou mesmo mais atrasados em relação ao planeta Terra.

As informações que descrevem a existência de um Além são de múltiplas fontes. Muitas delas se contradizem, outras se coincidem, colocando a posição de juízo a um observador externo em cautela e ponderação. Realmente existirá tudo isso ou estamos sendo vítimas de uma profusão de narrações nascidas dentro do inconsciente das pessoas, ou até originários em faculdades humanas que nós ainda pouco sabemos reconhecer? As pesquisas seguem.

O suposto mundo tecnológico, mostrado pelas lentes das transimagens, e recebidas ao redor do mundo pelos equipamentos de diversos pesquisadores, não tem demonstrado surpresas ou espanto. São imagens que mostram um visível estado tecnológico similar ao terrestre, para não dizer idêntico em algum ponto.

Alguns afirmam que, como a estrutura dos seres humanos ainda preserva os bancos de memória e a consciência após a morte, naturalmente eles levam seus conhecimentos tecnológicos aprendidos aqui — e o prosseguem lá.

Essa seria a razão da semelhança tecnológica do Além com o Aquém (a nossa). É claro que, pelas alegadas transimagens, podemos ter apenas uma visão superficial e ilustrativa para comparação do que nós conhecemos aqui na Terra. As imagens mostram o que distinguimos como laboratórios, computadores, casas com arquiteturas semelhantes à da Terra etc.

Analisando a tecnologia do Além pelas transimagens

No intuito de se efetuar uma breve análise comparativa da tecnologia do Além com a do  Aquém, vamos olhar pelas lentes de algumas transimagens. A transimagem que segue, abaixo, foi captada via computador pelo casal luxemburguês Jules e Maggy Harsch-Fischbach, em 19 de abril de 1991.

Segundo o casal, ela foi enviada por uma cientista espiritual de nome Swejen Salter. Swejen trabalha numa estação chamada Zeitstrom (Fluxo do Tempo), formada por grupos de espíritos que trabalham com o objetivo de se comunicar com a Terra por meio de aparelhos. Junto à transimagem veio um texto descrevendo seu teor.

Nele, é informado que na transimagem aparece o inventor Thomas Alva Edison (1847–1931), à esquerda, e o cineasta americano George Cukor (1899–1983). Nota-se que na transimagem eles estão mais rejuvenescidos do que na época em que faleceram. O que há de se ressaltar nesta imagem é que o microcomputador é muito semelhante fisicamente aos nossos, com gabinete (desktop) na horizontal — muito utilizado àquela época.

Em 1991, o microcomputador de sucesso era o 486 SX. Há de se notar, também, a vestimenta dos personagens, de paletó e gravata. As roupas continuariam similares no Além? E as indústrias têxteis, que a produzem, utilizam tecnologia análoga à nossa?

A próxima transimagem foi recebida pelo casal luxemburguês, em fevereiro de 1993, e exibe um amigo do casal que falecera em 1992. O casal afirma que ele enviou um transtexto ao seu computador, no qual dizia inicialmente: “No momento estou sentado sob exóticas palmeiras. Tento focar meus pensamentos dentre os diversos teclados diante de mim”.

O que há de se destacar nesta transimagem é o monitor do microcomputador do Além. O curioso é que o modelo do monitor visto na transimagem possui frestas verticais em sua carcaça (indicado pela seta), muito comuns em 1993. Essa data era próxima do lançamento do Pentium I no mercado mundial. Ou seja, época ainda do reinado dos microcomputadores 486 em séries SX, DX2 e DX4.

Na última transimagem de exemplo desta breve análise é a que segue abaixo, recebida também pelo casal luxemburguês em sua fase áurea de transcontatos. Ela foi recebida em 12 de junho de 1992 e mostra, segundo o casal, a cientista espiritual Swejen Salter ao lado de alguns equipamentos do mundo espiritual.

Esta transimagem ficou famosa, porque foi recebida simultaneamente por outro grupo de transcomunicadores na Alemanha. Não entraremos no mérito da história aqui, apenas nos atentaremos ao conteúdo visual da imagem. O que podemos notar mais uma vez é o modelo de monitor — desta vez de frente —, também muito utilizado na época (em 1992, seta 1).

Ademais, o curioso a observar é uma provável impressora (seta 2) muito semelhante às nossas, daquela época. Pelo modelo, aparenta ser da fabricante Hewlett-Packard (HP), da série Deskjet 500 ou 600 (a empresa lança a impressora Deskjet 500C no mercado em 1991).

A alimentação de papel estaria na vertical. A seta 2 aponta um detalhe notório: paletas móveis que compõem a bandeja da impressora e o local onde o papel é despejado sobre elas, depois de ser impresso. Posteriormente, essa paleta retrai e o papel cai na bandeja propriamente dita.

Veja a fotografia abaixo de uma impressora da fabricante Hewlett-Packard (HP), de nossa tecnologia. Interessante que em futuras versões o design das impressoras Hewlett-Packard mudou, e esse sistema de paletas agregada à bandeja foi descontinuado, não mais sendo visto nas impressoras subsequentes.

Supondo que a transimagem realmente mostra uma impressora, é muita coincidência observar, pelo menos em design e não em seu modo de funcionamento, que as paletas estão presentes também em impressoras fabricadas pelos espíritos — época na qual a indústria terrena também a adotava comercialmente.

A vida imita a morte ou a morte imita a vida?

Apenas nessa breve olhada das transimagens, a pergunta que permanece é saber se a tecnologia do Além acompanha ou imita a tecnologia do Aquém (a nossa tecnologia terrestre). Alguns defensores respondem que as transimagens são apenas ilustrativas e servem para que nós possamos entendê-las com nossa consciência atual, não representando exatamente as condições físicas reais do Além.

Outros defensores adotam que somos nós da Terra que estamos sendo inspirados sub-repticiamente pelos espíritos para desenvolver tais tecnologias aqui. Portanto, seria natural que uma transimagem de algum aparato tecnológico seja similar aos nossos. Outros apenas dizem que todas transimagens são fraudes óbvias. A vida imita a morte ou a morte imita a vida? Essa é a nova pergunta da nossa época.

Referências

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: FEB, 1994.

[2] LOCHER, Theo; HARSCH, Maggy. Transcomunicação: a comunicação com o Além por meios técnicos. Tradução de Harry Meredig. São Paulo: Pensamento, 1992.

[3] Paris Match, 23 set. 1988.

[4] RINALDI, Sonia. Transcomunicação instrumental: contatos com o Além por vias técnicas. São Paulo: FE, 1997.

[5] XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar. Rio de Janeiro: FEB, 1978.

[6] XAVIER, Francisco Cândido; CUNHA, Heigorina. Cidade no Além. Araras, SP: IDE, 1986.