Depois de mais de 50 anos em realizações de vigílias ufológicas, o modo como são realizadas ainda hoje não mais tem esclarecido e acrescentado nada de novo do que já foi obtido. Parece que o conhecimento extraído — do modo como elas são realizadas hoje — ficou estagnado, e a sensação que se tem é que as vigílias ficaram ultrapassadas.

Elas servem como um incentivo pessoal, uma experiência própria, porém sem valor científico para analistas externos. É verdade que o sentimento próprio dessa experiência é muito significativo, contudo não é isso que está em jogo neste escrito.

A fotografia e o filme do registro dos UFOs, obtidos nas vigílias, têm apenas adicionado mais não identificados nas estatísticas. O algo “novo” que me refiro aqui não são uma nova foto ou uma nova filmagem — ou mesmo um novo avistamento pelo pesquisador. Estes registros sempre estão em constante renovação. Refiro-me a algo novo em termos de conhecimento adicional e diferente daqueles que já conhecemos.

Falo do novo em termos de uma informação que não existia e não foi obtida em vigílias anteriores — que avance no entendimento e na tentativa de decifrar o fenômeno. Da forma amadora como são realizadas as vigílias nos dias de hoje, a tentativa de compreender o fenômeno UFO permanece restrita.

Contudo, este escrito não é uma crítica para quem as realiza. Infelizmente, a ufologia não dispõe de patrocínio e apoio financeiro, e a culpa não é somente dos ufólogos. A verdade nua e crua é fácil de ser traçada: sem dinheiro não há avanço nas pesquisas, porque não há meios em como realizá-las; nem há como melhorá-las e equipá-las melhor. Consequentemente, não há como evoluir o nível tecnológico de como as vigílias são realizadas hoje.

Local da estação de vigília em Hessdalen
Local da estação de vigília (AMS) em Hessdalen

Um exemplo de vigília

Na maioria dos casos a experiência da vigília só serve para a retina de quem a viveu. Porém nem tudo é tristeza. As vigílias ficaram ultrapassadas, sim. Mas, foram as vigílias amadoras que ficaram. As vigílias que possuem financiamento e suporte operacional não ficaram ultrapassadas, e realmente são as únicas hoje que acrescentam algum conhecimento científico válido e que deixam um legado de estudos para a posteridade.

Uma vigília modelo deste tipo é a realizada no vale de Hessdalen, na Noruega. Lá funciona uma estação onde são utilizados vários instrumentos para estudo do fenômeno UFO, tais como magnetômetros, sismógrafos, filmadora 24 horas, visor infravermelho, analisador de espectro, computadores, equipamento de radar, contador Geiger, etc.

Não é uma vigília comum, de fato não é uma vigília amadora. Ela segue fielmente o conceito da palavra vigília, ou seja, no vale de Hessdalen existe uma estação permanente com monitoração constante da atividade aérea local.

Essa estação é patrocinada pela universidade local e, neste caso, realmente há um impulso para uma verdadeira pesquisa que acrescenta algo novo e que registra dados instrumentais. Ela possibilita a criação de teorias baseadas em dados instrumentais, e não em subjetivismo humano ou achismos filosóficos.

Falta de investimentos

Para a realidade do Brasil, sem investimento científico, tudo continua muito difícil — ainda mais se for para pesquisar anomalias aéreas. A realidade brasileira é diferente, apesar de não faltarem “janelas” para essas luzes misteriosas aparecerem por aqui, como a Serra da Beleza no Rio de Janeiro — apenas para citar um local de boa incidência.

Estação de vigília para estudo de luzes noturnas
Estação de vigília para estudo de luzes noturnas

Contudo, as deficiências não são um balde de água fria na realidade das vigílias brasileiras ou de outros locais do mundo. Não estamos pregando que os pesquisadores devam cruzar os braços ou parar em empreender uma vigilância. Entretanto, não estou vendo atualmente — do modo como ainda são realizadas as vigílias — um acréscimo de informação nova. Digo algo novo em relação ao que já foi feito no passado.

Creio que se chega a um limite de compreensão quando o pesquisador também está limitado nos seus recursos (tanto tecnológicos quanto psicológicos). As vigílias continuam servindo como validade de experiência pessoal, mas como legado científico deixa a desejar. Elas acrescentam na estatística, é importante, mas não avança no entendimento para compreender o fenômeno. Esse é o ponto!

Registro do fenômeno além da luz visível

Em Hessdalen, alguns registros pelos aparelhos permitiram sair do zero em conhecimento e traçaram, pelo menos, algumas informações sobre a natureza e comportamento das luzes registradas. Por meio do registro dos aparelhos pôde-se medir a propriedade física do fenômeno, a assinatura eletrônica dele. Estes registros são o ponto base para lançamento de hipóteses de trabalho na busca de se esclarecer o enigma.

Por exemplo, já foram registradas algumas ocasiões em que não foi possível enxergar as luzes no céu — sua frequência de emissão estava fora da faixa da visão humana. No entanto, os aparelhos estavam registrando que existiam anomalias no céu naquele momento.

O fenômeno não está emitindo luz visível, mas está lá presente causando alterações anômalas no ambiente. Partindo dessa constatação, imaginem quantas anomalias aéreas avistadas em todo mundo devem ser apenas a ponta do iceberg dessas manifestações. Especulamos que boa parte do fenômeno não é visível aos olhos humanos e, portanto, passa despercebida por nós o tempo inteiro. O uso dos aparelhos seria um sonho para a realidade brasileira.

Fenômenos em Hessadalen
Fenômenos em Hessdalen

Em Hessdalen há apoio da universidade. Aqui no Brasil, não. Na verdade, o custo para se montar uma estação dessas não seria tão alto, mas o que é realmente necessário é o interesse científico por parte do mundo acadêmico. (A parte tecnológica seria apenas uma parcela dos custos). Obviamente, para que a pesquisa fosse gerada é preciso ter uma equipe, mesmo que pequena neste caso, contudo para isso também há um custo com o pessoal especializado.

Trabalhando com dados e gerando hipóteses de trabalho

Em todas essas “janelas” de ocorrências de luzes aéreas, como o próprio vale Hessdalen, ou em Yakima, ou em Marfa (ambas últimas nos Estados Unidos), entre outros, foi possível coletar muitos registros dos aparelhos e proporcionar a base para criar teorias e hipóteses mais sólidas do fenômeno.

Esses dados não são puramente subjetivos, o que servirá para atrair a atenção de cientistas. No entanto, os cientistas não necessariamente precisem trabalhar nessas estações de pesquisa — nos locais de incidência —, porém o envolvimento deles seria útil para criarem um ambiente de debates na comunidade científica e também despertar o interesse e o investimento nesse estudo em outros locais.

Na verdade, Hessdalen não é uma estação de pesquisa criada para atender as demandas dos ufólogos, e sim para atender o interesse científico do pessoal acadêmico.

Um exemplo de teoria que surgiu dessas pesquisas sobre a origem dessas luzes é a teoria sismológica dos UFOs do neurocientista americano-canadense Michael Persinger. Mesmo que ainda não seja comprovada, é um estudo que é baseado em algo concreto, uma pesquisa que visa a busca da compreensão do fenômeno.

Do contrário, há pouco ou nenhum valor científico uma história contada apenas por uma testemunha, como por exemplo: “Fui para o alto do morro e vi um monte de luzinhas no céu. Elas sobrevoaram as árvores por alguns segundos, fizeram algumas movimentações sem aparente objetivo e depois se apagaram na escuridão”.

Luz não identificada registrada em Hessdalen

Ao tratar de fenômenos como estes, que alegam ser desconhecidos da ciência e têm natureza física, depoimentos testemunhais têm cada vez menos validade no mundo moderno. A cada dia a exigência está cada vez maior. O que o painel Sturrock, que estudou os UFOs na década de 90, fez com todas as histórias de panes eletromagnéticas em aeronaves? Disse que valoriza o esforço dos ufólogos, mas classifica as mesmas como evidência anedotária.

O painel recomenda que os pesquisadores busquem meios mais fiáveis de registrar as anomalias por aparelhos. Ou seja, melhor recomendação do que essa, impossível. É tempo de a ufologia buscar seguir os modernos padrões científicos exigidos hoje em dia.

Estagnação da mentalidade

Por outro lado, alguns poucos ufólogos acham que as vigílias amadoras — como são feitas ainda hoje — são o suprassumo do que se pode conquistar. Dizem que elas cumprem bem o seu papel e acham que tentar implantar um avanço tecnológico para elas não é necessária, nem como contribuição científica.

Não sei por que uma ideia de avanço na pesquisa dos fenômenos e da possibilidade de abrir novas frentes — além do que já foi catalogado — seja entendido como desanimador.

Seria melhor perguntar por que queremos manter o medievalismo nas pesquisas. No entanto, este escrito não é uma crítica e, como já foi afirmado, estamos reconhecendo o óbvio: ninguém tem dinheiro para investir, não há patrocínio, não há financiamento, e nem vemos retorno financeiro do investimento.

Entretanto, essas limitações também não são motivo para a estagnação da mentalidade, como uma pá de cal, e acharmos que é impossível existir um nível de qualidade nas vigílias. Infelizmente, patrocinadores procuram o retorno do dinheiro investido, e não o estudo do fenômeno visando entendê-lo.

Luz não identificada capturada em Hessdalen

Hessdalen é a vigília útil

Na minha avaliação, comparando com o SETI, as pesquisas em Hessdalen trouxeram muitos mais resultados palpáveis do que essa procura de ETs fora da Terra. Expondo essa posição não estou afirmando que Hessdalen encontrou ETs. No entanto, certamente foram registradas anomalias aéreas que não foram possíveis de serem definitivamente explicadas.

A estação em Hessdalen é a vigília útil que utiliza diversos equipamentos para monitorar o fenômeno, ao invés de centenas de vigílias que não adicionam dados instrumentais valiosos para uma pesquisa científica. Muitas dessas vigílias amadoras que ocorrem por aí só estão em busca de uma experiência sensorial com os UFOs. Não acreditamos que seja reprovável, é realmente importante e, mesmo, o único recurso que o ufólogo dispõe naquele tempo.

Entretanto, como dissemos, a comunidade científica a despreza. A comunidade de cientistas a aceita como um estudo psicológico, mas para servir de base do estudo de um fenômeno físico — que se apresenta como de natureza desconhecida — sua evidência em relatos vale muito pouco — ou mesmo nada.

Uma experiência OVNI não se transfere, porém dados coletados por equipamentos são transferidos para outros pesquisadores estudarem e tentarem reproduzi-los. São dados, e não histórias contadas por pessoas.

Por hora, devemos nos alimentar de informações de estações que já funcionam e que estão produzindo relatórios científicos de muita validade. Esses dados nos permitirão avançar no conhecimento sobre essas luzes misteriosas que perambulam pelos nossos céus e que desafiam nosso conhecimento atual.

Referências

[1] JANKS, J. S. The mysterious Marfa Lights: a riddle solved by remote sensing. Earth Observation Magazine, v. 11, n. 10, p. 31-32, 2002. 

[2] PERSINGER, Michel A. Earthquake activity and antecedent UFO report numbers. Perceptual and Motor Skills, 50, n. 3, part l, p. 791-797, 1980.

[3] PERSINGER, Michel A. The tectonic strain theory as an explanation for UFO phenomenon: a non-technical review of the research 1970-1990. Journal of UFO Studies, 2, p. 105-137, 1990.

[4] STURROCK, Peter (director) et al. Physical evidence related to UFO reports. Journal of Scientific Exploration, v. 12, n. 2, p. 179-229, 1998.

[5] TEODORANI M.; STRAND E. P. Data analysis of anomalous luminous phenomena in Hessdalen. Italian Committee for Project Hessdalen, 2001. Disponível em: <http://www.itacomm.net/ph/hess_e.pdf>.

[6] TEODORANI M.; MONTEBUGNOLI S.; MONARI J. The EMBLA 2000 mission in Hessdalen. National Institute for Discovery Science, 2000. Disponível em: <http://www.nidsci.org/articles/pdf/hessdalen.pdf>.

Alexandre de Carvalho Borges
Físico pela Universidade de Franca, Analista de Tecnologia da Informação pela Universidade Católica do Salvador, pós-graduado em Ensino de Astronomia pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Ensino de Física pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Perícia Forense de Áudio e Imagem pelo Centro Universitário Uninorte, pós-graduado em Inteligência Artificial em Serviços de Saúde pela Faculdade Unyleya, pós-graduado em Tradução e Interpretação de Textos em Língua Inglesa pela Universidade de Uberaba, e fotógrafo.

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