Por Luciano Garibaldi
Revista Planeta, n. 44, maio de 1976.
A inquietante dúvida de que os mortos possam continuar a pensar e a se exprimir foi levantada pela primeira vez por Raudive, em 1964. Mas já em 1936, Olivier Lodge havia previsto uma máquina eletrônica capaz de realizar esta comunicação com o além.
Esta matéria foi feita com os trabalhos desenvolvidos pelo padre Leo Schmid, pároco católico no Cantão suíço de Aarau. Ele é um professor de ciências biológicas na cidade de Friburgo e autor de várias obras teológicas, citadas até mesmo nos concílios do Vaticano.
“O que está fazendo N.N.?”
“Está descansando com sua esposa.”
“Que podemos fazer por N.N.?”
“Rezar.”
“Vovô, você está aqui?”
“Sim, estou a seu lado.”
“No que lhe posso ser útil, Madalena?”
“A missa me pode ajudar.”
Estes “diálogos com os mortos” estão registrados na fita magnética do reverendo Leo Schmid, pároco italiano de Oeschgen (cantão suíço de Aarau), professor de ciência e biologia da Universidade de Friburgo, autor de importantes obras teológicas citadas até no Concílio Vaticano II. Segundo ele, “trata-se de pessoas que foram meus paroquianos”.
Mesmo a Santa Sé, conforme revela Leo Schmid, está interessada, pela primeira vez em sua história, neste fenômeno. Tanto que abriu um curso regular de parapsicologia para sacerdotes sob o título: Introductio in scientiam phenomenum paranormalium. A inquietante dúvida de que os mortos possam continuar a pensar e se exprimir foi levantada pela primeira vez por Konstantin Raudive, em 1964, professor de psicologia e filosofia em Paris, Uppsala e Edimburgo.
Raudive, após três semanas de tentativas, pensando intensamente em Margarete, morta havia pouco tempo, conseguiu gravar esta frase pronunciada pela voz da moça: “Konstantin kennt margarete” (Konstantin conhece Margarete), e, logo depois, com outro tom: “Nós estamos muito longe”.
“Com aquele episódio” — declara o engenheiro Mancini-Spinucci, organizador do convênio de Caldarola sobre “vozes do desconhecido” que reuniu por três dias estudiosos do fenômeno de toda a Europa – “abriu-se pela primeira vez na história humana a possibilidade de uma verificação prática da existência da vida após a morte. Em fins de 1936, sir Oliver Lodge, físico e prêmio Nobel, havia previsto que, graças aos rápidos progressos da eletrônica, seria inventada uma máquina capaz de dar ao homem a possibilidade de receber as vozes dos defuntos”.
Nos últimos dez anos, centenas de milhares de vozes diferentes foram registradas e identificadas por pesquisadores de todo o mundo. Mas, enquanto nas universidades, nos laboratórios de física e eletrônica, o fenômeno vem sendo estudado de um ponto de vista rigorosamente racional (isto é, com possibilidade de “capturar” vozes, sons e imagens do passado, em outras palavras, a “máquina do tempo”), a experiência do professor Raudive, a do padre Schmid e, em geral, a de todos os que pertencem à corrente “animista” da parapsicologia, queriam demonstrar que os mortos estão sempre vivos à nossa volta e têm possibilidade de se comunicar conosco.
Realidade ou superstição? Reflexo material de eventos que se verificam no subconsciente, ou, como afirma o professor Paul Keller, “descoberta muito mais importante que a da física nuclear enquanto estabelece um contato com uma outra dimensão”? Eis o que diz padre Schmid:
“Já faz quatro anos que me ocupo do fenômeno das vozes no registrador. Em outros seiscentos experimentos com microfone, diodo, rádio e psicofone, consegui captar e verificar cerca de 12 mil destas misteriosas vozes. Elas entendem que a mim, sacerdote católico, no âmbito deste fenômeno interessam todas as outras coisas que não são as de que se ocupam os técnicos, os físicos e os psicólogos. Para mim, não estão em primeiro plano as condições técnicas e físicas destas vozes, mas, antes o seu conteúdo. Qualquer registro tomado isoladamente, diz relativamente pouco”.
“Em primeiro lugar”, prossegue o padre Schmid, “devo precisar que as vozes registradas no meu experimento fazem uso principalmente do dialeto suíço-alemão, intercalado de expressões e locuções que na moderna língua falada não estão mais em uso. Além disso, aparecem até vozes em outras línguas que eu conheço: o suíço, o italiano, o francês e o inglês. E até em latim. Muitas vezes pude verificar até expressões em letonês e finlandês”.
Três casos excepcionais
Perguntaram-lhe se estas vozes não poderiam ser devidas à interferência de estações de rádios: “É absolutamente impossível”, respondeu o padre Schmid. “Antes de tudo, porque as vozes respondem às perguntas; em segundo lugar, porque, com um filtro adequado, eu, como todos os outros pesquisadores, conseguimos eliminar os registros de onda provenientes de estações humanas, e isto quer dizer terrestres. Qualquer estudante de física poderia dizer-lhe que com o uso de uma gaiola de Faraday, na qual se instala o magnetofone, é possível eliminar-se qualquer influência eletromagnética”.
Logo uma dúvida assalta qualquer pessoa: e se as vozes registradas são apenas uma projeção do subconsciente? Afinal, sabe-se que os olhos podem ver uma realidade normalmente invisível e, em condições extraordinárias, fotografá-la de verdade. Assim também os ouvidos podem escutar, sempre em condições de uma singular mutação do estado de consciência, o que não é normalmente audível – e registrá-lo. A essa dúvida assim responde o padre Schmid:
“É muito difícil sustentar esta hipótese. De fato, acontece de um desconhecido se pôr a falar pessoalmente comigo, ou de logo me corrigir sua afirmação pelos meus fatos. Além disso, foi constatado que as vozes registradas em outra parte da Suíça eram de frequências diferentes. Posso citar três casos interessantes.
Estava se aproximando dos arredores de Lugano um turista, vítima de um incidente. Pois bem, no meu registrador, a mais de 300 quilômetros de distância, pude escutar alguma indicação topográfica precisa sobre a localização da vítima. Um engenheiro de Milão me pediu por escrito se podia captar uma mensagem de seu filho David, falecido. De fato, entre as vozes registradas, veja, uma delas se anunciou com o nome de Davide e declarou brevemente, em italiano: “Abençoada flores brancas”.
O pai ficou muito estupefato e abalado com esta expressão, porque o filho defunto, em sonho, lhe havia pedido flores brancas. E ainda: sobre o pedido de uma senhora de Vallese, desejosa de conhecer o estado em que se encontrava seu pai, me foi possível sentir no registrador um particularíssimo rufor de tambor. Aquele homem, durante sua vida, havia sido um apaixonado tocador de tambor da banda do lugar.
Com informações mais precisas, soube que aquele som correspondia exatamente ao rufo e ao tambor usado por ele. Quanto mais estudos este fenômeno, tanto mais me convenço de que na origem destas vozes estão seres inteligentes, que não obedecem às nossas leis de tempo e espaço. É evidente que eles vivem em outra dimensão, em outro mundo.
O doutor Raudive o chama de “anti-mundo”, referindo-se claramente ao conceito físico de antimatéria, sem o qual não se teria podido descobrir a física nuclear. Seria muito cômodo, e certamente não-científico, colocar todos estes fatos na inexorável, obscura sacola do inconsciente humano, onde tudo se dissolve como uma nebulosa, e, dessa forma, se libera de tudo o que não coincide com nossos conceitos convencionais”.
Alguém nos ouve
“As estatísticas”, diz ainda o padre Schmid, “atestam que muitos cristãos, sobretudo os católicos, duvidam de que exista uma vida ulterior pessoal, depois da morte. Em vez disso, quanto mais se aprofunda no fenômeno das vozes, tanto mais se impõe a convicção de que deve existir uma continuação da vida pessoal além-túmulo. Certamente, estas experiências, por enquanto, não servem como prova definitiva, mas poderão ajudar a tornar a crença mais fácil e compreensível a muitas pessoas que procuram e duvidam. Isto porque a Igreja não tem nada a temer de uma séria indagação da ciência sobre este fenômeno”.
“A nossa fé cristã”, conclui o padre Schmid, “nos diz que, através da oração, temos uma possibilidade verdadeiramente única de tomar contato com Deus, com seus anjos e santos; não só mas também com nossos parentes mortos. E, todavia, temos frequentemente a impressão de que nossas palavras se perdem num espaço vazio. Como posso saber se alguém realmente escuta minhas palavras e se ocupa com meus desejos? Ora, estes experimentos com registradores nos demonstram que tal contato é mesmo uma realidade, que há de verdade alguém que escuta nossas palavras e as entende; que lê realmente os nossos pensamentos, antes mesmo de nós lhes darmos forma de palavra. É impressionante como as vozes insistem frequentemente na prece. E pode ser ainda que, para algumas pessoas, seja terrível e inquietante o fato de estar cercado de seres invisíveis. eu, ao contrário, acho consolador e estimulante.”
Com o padre Schmid e outros estudiosos que, como ele, afirmam conseguir manter diálogos com o mundo do Além, o “mistério das vozes” entra numa dimensão dificilmente enquadrável na pesquisa científica e na ciência natural. Mas não devemos esquecer que vozes e sonhos, embora coordenados, não obstante seguramente provenientes de fontes extraterrestres constituem matéria de estudo para equipes universitárias inteiras. Este fenômeno já se tornou tão difundido que acabou por interessar até as grandes indústrias especializadas em eletrônicas.
A palavra de um técnico
Em Caldarola estavam dois engenheiros eletrônicos que são altos diretores das seções de pesquisas de duas fábricas, uma italiana e outra holandesa (embora tenham deixado claro que tinham ido ao convênio “a título estritamente pessoal”).
Chegaremos algum dia a fabricar os registradores capazes de gravar vozes de desconhecido? Um engenheiro de Viena, Frank Seidl, tem pronto um aparelho, o psicofone, adaptado seja ao estudo aprofundado dos hipersons e supersons, seja à captação de vozes não-identificadas.
Tudo isso faz pensar num escândalo e leva alguns a falar de especulação comercial. Mas não é a primeira vez que uma conquista científica é desfrutada comercialmente. Não foi assim com o telefone, com o rádio e a televisão? No momento, seja como for, parece que é suficiente um gravador de cassete normal para conseguir fixar as “vozes” na fita.
“Nós temos cinco técnicas de registro”, diz o engenheiro Alex Schneider, docente de física em San Gallo, um dos participantes do convênio de Caldarola. “A primeira é a mais simples. Basta anexar um microfone a um magnetofone, como se fosse para uma gravação normal, apertar a tecla de gravação, fazer silêncio e esperar.
A segunda técnica se utiliza de um aparelho de rádio. É suficiente ligar qualquer tipo de radiorreceptor com um magnetofone, inserindo a ligação a um fio de diodo, como para a recepção de qualquer tipo de programa de rádio. Costuma-se adotar uma antena curta, para regular o aparelho receptor entre duas estações transmissoras, e escolher um determinado período de silêncio numa estação emissora.
Dispondo de um pequeno radiotransmissor (terceira técnica), liga-se este diretamente à tomada da antena de um aparelho de rádio receptor e se sintoniza este último em qualquer comprimento de onda. A quarta técnica é a do diodo: liga-se o terminal de uma antena de cerca de 10 centímetros, através de um diodo, diretamente ao magnetofone. Finalmente, o goniômetro: é necessário utilizar um aparelho particular, com dois enrolamentos, entre os perpendiculares, e alta condutividade, com correntes magnéticas endireitadas.”
“O uso da gaiola de Faraday”, prossegue o engenheiro Schneider, “exclui qualquer interferência de radiotransmissor. Naturalmente, a instalação da gaiola requer uma competência técnica precisa, e mesmo a impermeabilidade da gaiola deve ser rigorosamente controlada antes da experiência. Para evitar o risco de vozes e sons já gravados precedentemente, é necessário adotar uma fita desmagnetizada. É necessário seguir escrupulosamente esta premissa, como eu fiz durante longos anos de estudo e pesquisa: não há dúvida de que a física não pode negar estes fenômenos, cuja existência já foi largamente demonstrada com critérios científicos. Acerca da origem do fenômeno, eu sou um técnico e devo me limitar a dizer: é uma coisa incompreensível. Provavelmente nós ainda não tratamos de modo justo do espaço e do tempo, e talvez coloquemos o problema de modo errado.”
Schneider, que no ambiente parapsicológico é considerado um racionalista e positivista, prossegue: “É um fato que as mínimas energias em ação são suficientes para a verificação do fenômeno, mas insuficientes para o seu aprofundamento. Hoje em dia, nesse campo de estudo, não vi nada mais que pesquisas explorativas”.