Jornal Alavanca – novembro/dezembro de 1997.
Alavanca – Como o senhor interpreta os fenômenos TCI?
Altivo Ferreira – A Transcomunicação Instrumental vem repetir, nos tempos atuais, o que representou para o mundo a fenomenologia de Hydesville, no estado de Nova York, nos idos de 1848, que culminaram com a chegada do Consolador prometido pelo Cristo à humanidade. Houve um momento em que os espíritos sentiram que era preciso despertar a atenção do mundo para a existência deles.
Por meio de Charles Rosma, na casa da Família Fox, protestante, os espíritos aproveitaram-se de técnicas peculiares e da simplicidade das crianças, Kate e Margareth, para efetivar os raps. Esses fenômenos provocaram um rebuliço geral, atraindo a atenção de pesquisadores, da Imprensa e dos religiosos. Com o avanço da cibernética e da informática, os espíritos estão buscando outros caminhos para provocar os mesmos resultados.
Alavanca – Por que retornar com os fenômenos de efeitos físicos?
Altivo – O homem tem necessidade de outro caminho. Está saturado da falta da presença de Deus nele mesmo. O Charles Rosma não tinha na época telefone, nem rádio nem TV. Tinha que bater na parede. Hoje os espíritos têm isso e muito mais. O que mudou foi a tecnologia, o processo de comunicação e o público. Mas o agente dos fenômenos é o mesmo, ou seja, continuam sendo os espíritos.
Alavanca – Essas experiências seriam bem-vindas no centro espírita?
Altivo – O centro espírita tem sua função, como polo difusor doutrinário e posto de socorro ao semelhante. Não se pode negar a validade das experiências de transcomunicação, como também não se pode negar os resultados obtidos pela TVP (Terapia de Vidas Passadas), pois seria o mesmo que negar a reencarnação. Mas nem uma nem outra são finalidades do centro.
A TVP é para a clínica médica especializada, assim como a TCI é um trabalho para pesquisadores. Nada impede, no entanto, que grupos específicos na Federação Espírita (Feesp), em São Paulo, no C. E. Allan Kardec, de Campinas, ou ainda dentro da Unicamp, trabalhem nesse campo. Mas sem interferir com as atividades básicas do centro espírita.
Alavanca – No caso da TCI, temos visto muitos progressos na Europa. Os espíritas brasileiros não parecem muito interessados, apesar dos congressos que aqui se realizam e o empenho valoroso de alguns confrades…
Altivo – Para chegar ao que é hoje, a Doutrina teve de caminhar dos Estados Unidos para o México, daí para a Escócia e depois à Inglaterra, até chegar às mesas girantes de Paris, em 1853. Como disse Allan Kardec, na Revista Espírita de maio de 1864, os fenômenos surgiram primeiro nos EUA como de efeitos físicos porque estavam na índole daquele povo.
Quando penetraram na França, que era o berço da cultura universal de então, mudaram as características do fenômeno, de efeitos físicos para efeitos inteligentes. No Brasil, temos quase um século e meio de convivência com os fenômenos de efeitos inteligentes.
Não precisamos mais de materialização de espíritos, movimentação de objetos à distância, escrita direta etc. e outros tipos de fenômenos para nos convencer de coisa alguma. Os centros espíritas trabalham basicamente com o fenômeno inteligente, que busca a transformação moral da humanidade.
Alavanca – As pesquisas sobre mediunidade, por exemplo…
Altivo – Volto a dizer: nada impede que determinado grupo se dedique à pesquisa mediúnica, mas que seja um trabalho a parte, conduzido por especialistas. As pesquisas e estudos comparativos sobre animismo constituem um campo vasto para investigação, com muita utilidade para os cursos de educação mediúnica.
Se eu estivesse fazendo ciência, iria a fundo na pesquisa nessa área do animismo. Por que, se o médium sempre contribui com alguma parcela própria no processo de intercâmbio, essa parcela só pode ser de natureza anímica. Portanto, eis aí um campo interessante para pesquisar.
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