Esconderam os UFOs nas gavetas do governo

Sou totalmente favorável à liberdade de informações, sejam elas ufológicas ou de outra ordem. É patente e inegável que manifestações de objetos aéreos desconhecidos são registradas oficialmente pelo governo brasileiro e pelos militares.

Além dos documentos já vazados ao público, temos, por exemplo, uma confissão pública do Major Brigadeiro José Carlos Pereira, admitindo e mostrando um espesso relatório dos registros ufológicos do ano corrente em nosso país no programa televisivo Circuito Night and Day, da Rede TV, em 19 de janeiro 2002, apresentado pelo repórter Celso Russomano. [1]

Entretanto, acreditamos que há uma supervalorização por parte de muitos ufólogos sobre o que nosso governo e militares possuem e ocultam de material ufológico.

“Prova inequívoca da presença alienígena”

Sou de opinião similar ao do ufólogo franco-americano Jacques Vallee, que defende a tese de que os governos não possuem as respostas e a solução para a sedenta humanidade sobre o fenômeno UFO. [2] Eles estão tão confusos quanto os civis no tratamento dos dados que possuem em mãos. Seguramente eles possuem bons dados e material relevante. Documentos e depoimentos demonstram que eles têm.

Entretanto, isso não permite afiançar com segurança que “nossas autoridades, independentemente de outras nações, possuem provas inequívocas da presença alienígena”, como afirma o ufólogo Marco Antonio Petit em seu artigo de título “Acobertamento Ufológico”, para a campanha “UFOs: Liberdade de Informação Já”. [3]

A questão seria analisar o que se define por “prova inequívoca da presença alienígena”. Para alguns, a foto de um corpo aéreo luminoso é a prova final de uma nave mãe pilotada por um alienígena. Para outros, isso não se aplica. Principalmente para a ciência, que a considera de baixa evidência.

Operação Prato e conclusão militar

Existe um trecho do relatório da Operação Prato, de 1977, redigido por um dos chefes da equipe, o militar João Flávio Costa, que diz o seguinte: “Corpos luminosos movimentando-se em altitudes e direções variadas, efetuando manobras complexas, indicando que, estes corpos e luzes são inteligentemente dirigidos”. [4]

A Operação Prato foi criada pela Força Aérea Brasileira (FAB) para investigar uma onda ufológica no Pará, que ficou conhecida como o fenômeno Chupa-Chupa. [5] Essa opinião do chefe, expressa no relatório, baseia-se em suas observações pessoais, em fotos e filmes coletados por sua equipe naquelas zonas onde a Operação Prato se estabeleceu.

Muitos ufólogos usam desta conclusão do relatório militar para apregoar que, de fato, os militares possuem a prova inequívoca da presença extraterrestre no planeta Terra. Essa falácia do “carimbo oficial de militar” é usada à exaustão na ufologia.

Este relatório é um material semelhante ao que já existe na ufologia civil, e opiniões idênticas àquelas que já existem aos montes, ditos por vários nomes da corrente de pesquisadores civis. Não é por ser uma pesquisa militar que inquestionavelmente eles estarão corretos em suas conclusões.

É verdade, mas é decepcionante encontrar ufólogos tarimbados apoiando o caso da Barra da Tijuca, somente porque foi feita uma análise por militares que chegaram à conclusão do autêntico. [6] O pensamento falacioso ainda existe: “Se determinado caso foi investigado por militares, então eles estão corretos em suas conclusões!”. Há um desmensurado mito em relação aos militares na ufologia.

Já perceberam como, na grande maioria dos registros históricos da ufologia, os declarados discos voadores majoritariamente caem na cabeça dos militares? Ou seja, a maioria das alegadas quedas de naves alienígenas somente caem em solo onde os militares têm jurisdição próxima — possibilitando-os chegar ao local da queda muito antes dos civis.

Às vezes, os civis também chegam primeiro ou disseram que conseguiram ver a movimentação militar de resgate dos “destroços” da “nave alienígena”, mas quando tais alegados artefatos caem próximos a estes, eles não conseguem guardar algum destroço como prova — ou quando conseguem não se chega à conclusão alguma da sua natureza alienígena depois de uma análise laboratorial.

É claro que este exemplo é apenas uma ironia, mas muitos ufólogos seguem acreditando que, nestes episódios, a prova e a evidência coletada pelos militares são sempre as inequívocas da presença extraterrestre, e a prova coletada pelos civis são sempre inconclusivas.

Pesquisa aberta a todos

Voltando no tempo, em décadas passadas podíamos ver como os militares de nosso país não sabiam muito sobre a problemática ufológica. Eles estavam tão embaralhados. Consultaram os ufólogos civis para esclarecer suas dúvidas, como a consulta ao livro O Livro Vermelho dos Discos Voadores, e ao seu próprio autor, Flávio Pereira, para estabelecerem metodologia de pesquisa. [7]

É relativamente incongruente afirmar que o governo está ocultando as “provas inequívocas da presença dos alienígenas”, registradas pela Operação Prato. O céu estava aberto a todos no Pará, onde a operação se desenrolou. Qualquer grupo de ufólogos poderia realizar uma vigília com seus equipamentos e registrar os mesmos acontecimentos que os militares conseguiram.

Boa parte do relatório conhecido desta operação é pura coleta de testemunhos dos nativos, algo que qualquer ufólogo na época poderia conduzir; e alguns ufólogos civis, de fato, fizeram na ocasião. As fotografias vazadas ou surrupiadas, que registram corpos aéreos luminosos, são tão boas ou ruins quando comparadas a algumas outras fotografias conhecidas da ufologia civil. Ninguém esconde os UFOs dentro de uma gaveta governamental.

Há de se notar que alguns ufólogos repetem, aos quatro cantos, que fizeram centenas e mais centenas de vigílias e observaram maravilhas nos céus; que viram naves e também extraterrestres; que viram as “provas de extraterrestres nos céus”. Mas o que eles deixaram de evidência dos registros dessas vigílias para os outros analisarem? Para a ciência analisar? Praticamente muito pouco.

Então, acredito que a melhor forma de se conseguir um avanço é arrumando a própria casa. Quem está alegando que tem provas de que extraterrestres estão visitando nosso planeta são os ufólogos. Eles possuem o ônus, a incumbência em demonstrar tal prova. Para a ciência devem demonstrá-la.

Sem um divisor de águas

Baseando-me no histórico conhecido e o desclassificado de outros países, eu não acredito que os militares brasileiros possuam soluções para a problemática ufológica ou que possuam um Ás na manga, um boom diferencial.

Por exemplo, acreditamos que liberar as informações sobre o conhecido episódio da “Noite Oficial dos UFOs”, ocorrido em 1986, não trará nada de novo em corpo de conhecimento inédito sobre os UFOs. [8] Certamente, nós conheceríamos apenas os meandros do próprio ocorrido, mas acredito que nada inédito em matéria de conhecimento surja como uma solução da problemática ufológica. Não acreditamos em um divisor de águas.

A revelação de documentos sobre este episódio desencadeará a solução do fenômeno UFO? Acredito piamente que não. Radarizações bem documentadas existem aos montes nos acervos ufológicos, como, por exemplo, as da onda Belga de 1989. [9] Se estes registros fossem prova incontestável, toda a humanidade estaria aceitando que alienígenas estão aqui na Terra.

De qualquer forma, desejo e apoio que tais ocorridos e registrados no âmbito militar — sejam na Operação Prato ou em outras investidas militares e governamentais — sejam divulgados abertamente para a população com o fito de que a ciência analise-os e estude-os.

Esse ensaio centra no questionamento do eterno mito que propaga que “os governos já sabem de tudo sobre os extraterrestres e não querem nos contar”. Desejo que campanhas pela liberação de documentos secretos sobre o tema ufológico consigam algo, mas não vejo sucesso se o centro da questão estiver calcado no velho psicológico de que o governo tem que resolver nossos problemas — e que possuem a solução ufológica, mas a escondem do público.

Minha opinião é a de que não haverá por parte do governo brasileiro liberação de nenhum ser extraterrestre — algo que muitos ufólogos alegam que eles já capturaram. Certamente eles possuem apenas dados excelentes, bons e ruins, tais como a ufologia civil semelhantemente já os tem.

Referências

[1] Circuito Night and Day. São Paulo: Rede TV, 19 jan. 2002. Programa de TV.

[2] Jacques Vallee issues warning to UFO researchers. UFO Magazine, United Kingdom, Nov./Dec., 1995.

[3] PETIT, Marco Antonio. Acobertamento ufológico. UFO, Campo Grande, n. 98, abr. 2004.

[4] Relatório da Operação Prato. Ministério da Aeronáutica, Primeiro Comando Aéreo Regional, 1977-1978.

[5] GIESE, Daniel. O fenômeno “Chupa-Chupa”: OVNIs atemorizam o estado do Pará. Ufologia Nacional e Internacional, Campo Grande, n. 5, p. 09-15, nov./dez. 1985.

[6] MARTINS, João; KEFFEL, Ed. Extra! Discos voadores na Barra da Tijuca. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 17 maio 1952.

[7] PEREIRA, Flávio. O Livro Vermelho dos discos voadores. São Paulo: Edições Florença Ltda., 1966.

[8] Aviões da FAB caçam OVNIs e acabam caçados. Correio Braziliense, Brasília, p. 9, 22 maio 1986.

[9] SOBEPS. Vague d’OVNI sur la Belgique: un dossier exceptionnel. Bruxelles: SOBEPS, 1991.