As fotografias de um UFO sobre a Ilha da Trindade, em 16 de janeiro de 1958, são consideradas um marco na ufologia mundial. Entretanto, ainda geram discussões e atraem novas críticas. Na verdade, as críticas são velhas e foram lançadas ainda na época do evento, mas foram renovadas com base em supostos novos estudos.

Em debates nacionais e internacionais, duas críticas em especial foram relançadas contra os principais sustentáculos do caso: a questão do número de testemunhas que teriam visto o UFO no navio-escola Almirante Saldanha e as fotografias obtidas por Almiro Baraúna.

No primeiro caso, os críticos alegam que os ufólogos não têm os nomes e nem os depoimentos de todas as 48 testemunhas que estariam na embarcação, naquela hora.

Na literatura ufológica, o número de testemunhas mencionadas varia entre 10 e 48, o que tem sido usado por críticos como uma falha dos ufólogos.

As testemunhas que conhecemos até hoje são o capitão de mar e guerra José dos Santos Saldanha da Gama, o capitão de corveta Carlos Alberto Bacellar, o capitão de fragata Paulo Moreira da Silva, o primeiro-tenente Homero Ribeiro, o fotógrafo do Jornal do Brasil José Farias de Azevedo, o capitão da reserva da Força Aérea Brasileira José Teobaldo Viegas, o bancário Mauro Andrade, o bancário Amilar Vieira Filho, o civil Aluizio Araújo e o próprio fotógrafo Almiro Baraúna.

Entre essas pessoas, algumas seriam testemunhas indiretas, ou seja, estavam no navio no momento da observação do UFO, porém não o viram. Isso também é criticado pelos arguidores do caso, mas um esforço atual para se conseguir documentos da época que citem os nomes de todas as testemunhas — 48 ou quantas forem — e uma tentativa de conseguir seus depoimentos seria suficiente para neutralizar o impasse.

Alegação de fraude

A segunda questão levantada recentemente sobre o caso Ilha da Trindade vai contra a evidência fotográfica obtida por Baraúna, que é o fator chave do caso ter ficado mundialmente famoso. Nos últimos meses houve a publicação de um polêmico artigo contrário à sua legitimidade.

Seu autor, Martin Powell, renova a alegação de que houve fraude nas fotos tiradas por Baraúna, na qual teria sido usado o recurso da dupla exposição para fabricar o UFO sobre a ilha.

De acordo com Powell, o UFO da segunda fotografia está
invertido quando comparado com a primeira foto (Foto: Almiro Baraúna)

Sua argumentação é de que Baraúna fotografou um avião no céu, em algum local, e depois fotografou a Ilha da Trindade, fazendo assim a dupla exposição. Prossegue dizendo que o UFO da segunda foto de sua sequência seria o mesmo UFO da primeira foto, só que em posição invertida. Diz ainda que as fotos restantes estariam degradadas por processo de cópias sucessivas, que Baraúna teria feito a partir da primeira fotografia.

Mesmo atraindo grandes discussões na internet, o artigo mostrou-se falho, primeiro porque Powell faz sua análise baseando-se apenas em cópias de baixa qualidade das fotos, copiadas de um livro, não obtidas diretamente dos negativos ­­—­ o que seria essencial. Uma apreciação deste material extraído do original é imprescindível para que se possam levantar suspeitas sobre todo o caso, uma vez que nada mais há que se possa falar a seu respeito.

Pelo que se sabe, exames nos negativos foram feitos na época do incidente pelo Departamento de Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha e pela empresa civil Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul, e nunca se constatou que as fotos estariam degradadas e muito menos que teriam sido obtidas através de uma fraude por dupla exposição.

Degradadas foram as cópias que Powell usou em sua crítica ao caso, pois foram retiradas de um livro impresso com péssima qualidade. Em relação à outra alegação de Powell, quando levanta suspeitas quanto a inversão da posição do UFO da foto 1 para a foto 2, também não se sustenta.

Se o objeto captado em uma foto é o mesmo que está na outra, com a condição de que um estava invertido, eles teriam que ter o mesmo tamanho, já que é o mesmo objeto. Contudo, as fotografias mostram o UFO com tamanhos aparentes diferentes, de acordo com o que seria de se esperar.

Montagem da sequência das quatro fotos, por Alexandre de Carvalho Borges

Na trajetória seguida pelo objeto ao sobrevoar a Ilha da Trindade, ele veio do mar, passou por sobre o arquipélago e voltou para o oceano [veja montagem das quatro fotos, acima]. Quando o UFO estava exatamente sobre o mar, seu tamanho aparente mostrou-se menor do que quando estava sobre a ilha, próximo do Pico Desejado.

Aliás, foi neste ponto que ele se encontrava mais próximo do navio, sendo portando seu tamanho aparente maior. É por esta e outras características que tal foto acabou sendo a melhor de todas as quatro que Baraúna obteve.

Analistas fotográficos consultados opinaram sobre o artigo e também não concordaram com seus resultados. O engenheiro Claudeir Covo e o analista de fotos da entidade norte-americana Mutual UFO Network (MUFON), Jeffrey Sainio, são contra o estudo de Powell.

Claudeir, por exemplo, aponta que uma dupla exposição seria certamente detectada nos negativos, além do fato de as fotos terem sido logo reveladas a bordo do navio, o que inviabiliza a alegação.

Nenhum pixel

As discussões continuam, e apesar do artigo ter falhas, ele recebeu grande publicidade, o que acabou gerando um atrito entre ele e os pesquisadores atuais.

Mas ambos os grupos concordam que novas análises nos negativos iriam eliminar absolutamente quaisquer fragmentos de dúvida sobre as fotos do caso Ilha da Trindade, apesar de nenhum pixel de fraude ter sido encontrado até o momento, assim como, sobre a reputação de Baraúna jamais foi descoberto um único motivo de suspeita.

A primeira fotografia do UFO de Almiro Baraúna (Foto: Almiro Baraúna)

O avistamento deste UFO pela tripulação do navio-escola Almirante Saldanha da Marinha não foi o único evento ocorrido na Ilha da Trindade. Pelo menos seis observações anteriores aconteceram, e desde novembro de 1957 vinham sendo documentadas.

Em duas oportunidades é narrado que a aparição de um UFO sobre o local foi acompanhada de interferências na estação de rádio da ilha, que fazia contato com balões atmosféricos para pesquisa científica.

Este fato encontra paralelo com o avistamento do convés do navio-escola Almirante Saldanha, pois também nessa ocasião foram observadas interferências em seu maquinário, segundo Baraúna. Há também a informação de que um UFO foi flagrado em uma fotografia por um sargento que servia na ilha, mas pouco se sabe a respeito.

De qualquer forma, a irretorquível reputação de Baraúna, estes acontecimentos anteriores e a qualidade das fotos obtidas criam uma boa margem para sustentar o famoso caso da Ilha da Trindade, a despeito do trabalho contrário que fazem os críticos.

Referências

[1] BENÍTEZ, J. J. Os visitantes. Tradução de Cláudia Schilling. São Paulo: Mercuryo, p. 144-167, 1993.

[2] BRANDÃO, José Geraldo. Relatório sobre a observação de objetos aéreos não identificados, registrados na Ilha da Trindade, no período compreendido entre 5 de dezembro de 1957 e 16 de janeiro de 1958. Marinha do Brasil, fev. de 1958.

[3] COVO, Claudeir. Comunicação pessoal com o autor, 25 ago. 2002, 29 set. 2002.

[4] POWELL, Martin J. The Trindade Island UFO: a detailed study of photos 1 and 2. Unopened Files, n. 11, 1999. Disponível em: <http://www.aenigmatis.com/trindade-island-ufo-1958/trindade.htm>.

[5] SAINIO, Jeffrey. Comunicação pessoal com o autor, 25, 26 ago. 2002, 29 set. 2002, 01 out. 2002.

[6] ZALUAR, Aurélio. Caso da Ilha de Trindade: 21 anos depois. OVNI Documento, Rio de Janeiro, n. 5, p. 21-24, out./dez. 1979.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui