Reproduzimos aqui uma matéria do jornal O Estado de São Paulo de 08 de junho de 1991. Sim, é uma matéria bem antiga, mas seu conteúdo continua atual. Ela trata da possibilidade de supostas imagens que aparecem em televisores, e são atribuídas a um mundo espiritual, serem oriundas daqui mesmo, do mundo dos vivos.
Deixando a televisão no modo de ruído branco, o aparelho é propício a captar todo tido de transmissão espúria que está circulando na atmosfera. Para o rigoroso controle científico esses experimentos perdem a credibilidade como prova de uma vida após a morte.
É por esta razão que vários pesquisadores que tentam registrar essas imagens já abandonaram o método que usa uma TV em modo de ruído branco para gravar imagens de alegados espíritos. Eles sabem que suas imagens de suposta origem paranormal sempre serão postas em dúvida pela ciência.
É claro que sinais espúrios, que estão circulando pela atmosfera, não explicam todas as alegadas imagens paranormais que já foram obtidas por outros meios tecnológicos.
Futuras pesquisas
Em alguns trabalhos recentes é utilizado o reconhecimento facial para comparar uma alegada face de um conhecido espírito, que aparece na TV, com a face de quando aquela pessoa estava viva. As investigações continuam em andamento, tentando comprovar em termos probabilísticos que os dois rostos sejam da mesma pessoa.
Veja a matéria do jornal e a sua transcrição, abaixo:
TV capta imagem que parece vir do Além
Asteroides e inversão térmica ajudam os caçadores de imagens perdidas no espaço
Por Flávio de Carvalho
O anúncio de que equipamentos eletrônicos estavam ajudando na comunicação com os mortos foi a sensação do Congresso Nacional dos Médicos Espíritas, que reuniu mais de mil pessoas em São Paulo no último fim de semana. O projetista Clovis Nunes, autor do livro “Comunicações Tecnológicas Com o Mundo dos Mortos” apresentou inclusive fotos de tais aparições.
Técnicos em eletrônica não descartam a possibilidade de captar imagens segundo o processo descrito como “Vidicom” pelo autor, que na verdade não passa de uma TV sintonizada num canal baixo. Na verdade é impossível deixar de detectar esses sinais usando o equipamento descrito.
O famoso “Ghost of 29 megacycles” (O Fantasma dos 29 MHz), considerado um evento histórico entre os crentes na comunicação com os mortos, ocorre sempre que há uma inversão térmica nas proximidades.
O índice de refração da ionosfera, camada carregada eletricamente da atmosfera, altera e “entorta” transmissões de volta para a Terra. Assim, a gravação em videoteipe da atriz Romy Schneider, apresentada no livro Transcomunicação como vinda do mundo dos mortos, mais provavelmente vem é da sessão da tarde de alguma emissora de TV que pode estar até a 2,6 mil quilômetros de distância.
Outra fonte importante de visões nas telas são os meteoritos. Eles se fundem ao penetrar na atmosfera e também provocam ionização. Dependendo da época do ano, eles bombardeiam a atmosfera até 400 vezes por dia, e com sorte, é possível ver durante alguns segundos uma imagem nítida emitida por uma estação distante. O melhor canal para observar esse fenômeno é o 2 ou o 3, conforme seja esse o canal livre no local.
A edição de Abril da revista Probe!, da associação dos Cientistas Amadores norte-americanos, explica detalhadamente como captar essas imagens. Mais raras e mais espetaculares são as chamadas “esporádicas-E” da ionosfera, quando verdadeiros bolsões de gases ionizados refratam sinais de estações distantes.
Como essas aparições são muito irregulares, os próprios autores do livro recomendam deixar a TV ligada com um gravador de vídeo. Ao fim da gravação a fita é rodada em alta velocidade para achar as eventuais imagens gravadas.
Alucinação
Ficar muito tempo observando fixamente o chuvisco de uma TV, pessoalmente à espera de um fantasma, pode não ser bom para a vista, além de despertar desconfianças de pessoas não avisadas.
Devido a um fenômeno psicológico conhecido como “privação de estímulos” – que ocorre quando se olha muito tempo fixamente para uma tela em branco ou quando se tranca uma pessoa numa sala à prova de sons, por exemplo – a mente pode ser induzida a delírios de graus variados, que podem chegar, inclusive, à prática de conversar com coisas imaginárias e até mesmo eletrodomésticos, como aparelhos de TV.
Referências
[1] CARVALHO, Flávio de. TV capta imagem que parece vir do Além. O Estado de São Paulo, São Paulo, 08 jun. 1991. Caderno de Ciência e Tecnologia, p. 12.