Desmistificando o oculto em loterias

A numerologia e a astrologia são duas pseudociências que tentaram e nunca conseguiram prever número algum para qualquer tipo de loteria. Uma vez, em um programa de debates na TV Cultura, ocorreu uma rápida troca de argumentações entre um astrônomo e um astrólogo.

O astrônomo desafiou seu opositor a prever os números da loteria e o astrólogo desviou da pergunta, dizendo que era antiético utilizar sua “poderosa” arma da astrologia para ganhar na loteria.

É claro que isso é uma imensa bobagem, não há nenhuma falta de ética nisto e muitos astrólogos, na verdade, já estariam milionários se realmente a astrologia pudesse prever os números lotéricos com tanta habilidade. Na verdade, qualquer pessoa que estudasse seus ensinamentos poderia ficar milionária, caso ela funcionasse.

Contudo, a questão é bem mais ampla. Astrólogos utilizam a astrologia para prever flutuações em bolsa de valores e mercados de muita movimentação. É claro que não há previsão correta alguma — além da pura probabilidade de acerto ordinária —, simplesmente porque a astrologia não funciona e nunca funcionou. O mesmo se diga da numerologia.

É claro que devemos ter a mente aberta e analisar o material apresentado pelos astrólogos, mas infelizmente até agora a numerologia ou a astrologia têm ficado bem atrás das ferramentas tradicionais hoje utilizadas pelos loteristas. Essas duas pseudociências nunca contribuíram em nada para os estudos lotéricos (a não ser para ser um exemplo de como não seguir seus caminhos).

Bem, sob minha ótica, acertar em loteria só vai pelo caminho da matemática: a estatística! Por exemplo, não existe relação alguma dos números de um sorteio com a sua data de nascimento. Justamente o contrário é o que prega a numerologia.

Em loterias, a situação é bem diferente: ela é uma realidade objetiva, matemática, e sem fator humano. Um número é exato, e nada mais. A numerologia não consegue adivinhar e nem dizer qual o “temperamento” de uma bola favorável sair ou não no próximo sorteio. Não falo isto baseado em teoria, mas em experimentação.

Já utilizei softwares de computador que foram escritos com a finalidade de associar a numerologia com a loteria e pude constatar sua inutilidade. Um gerador randômico, associado à frequência do número, é mais eficaz do que a numerologia com seus cálculos de datas de nascimento das pessoas. Sob minha ótica, essas associações numerológicas não têm fundamento algum.

Algumas associações são ilusórias e não estão factualmente ligadas ao objeto central — o jogo lotérico. Por exemplo: jogar na loteria, baseado na minha data de nascimento, no meu nome ou numa placa de carro, dá na mesma eficácia que jogar baseado em quantos carros estão no estacionamento do shopping ali da frente ou em quantos urubus estão voando no céu sobre a casa lotérica no momento da aposta.

Nessa questão, já estou convicto da inexistência de uma fórmula matemática capaz de prever exatamente os próximos números de uma loteria. Isto não existe! E a numerologia não pode prevê-la.

É claro que a loteria não é um fenômeno misterioso e desconhecido, ao contrário, ele é totalmente conhecido, opera dentro de uma quantidade exata de combinações e não pode ultrapassar daquilo. Todos os números combinados que saem em uma loteria já são conhecidos matematicamente. Entretanto, prever qual combinação será a próxima a sair é que é o “fator X”.

Alguns argumentos de numerólogos estão calcados na suposição de que, se é possível prever a atitude de um ser humano — que é imprevisível e muda constantemente —, também seria possível prever os próximos números das loterias.

Neste caso devemos atentar para o fato de que muitas “previsões” feitas para humanos podem ser de fácil detecção, quando há a interação entre numerólogo e cliente. O cliente acaba falando demasiadamente de sua vida particular em uma consulta e o numerólogo sabe usar disso muito bem. É a chamada leitura fria. O numerólogo “prevê” aquilo que o cliente acabou de lhe falar e transmitir. Para as loterias, os números são exatos e não falam, não há interação com o humano.

Os números (e melhor ainda, um bloco de números) são exatos e não admitem qualquer subjetividade. Se saiu na loteria o número 46 e eu havia jogado no 47, eu errei, mesmo sendo números vizinhos e até semelhantes.

Todos sabem que em loterias não se admite um milímetro de diferença. Loteria são geradores randômicos e ninguém conseguiu, até hoje, prever os números exatos em algo que descarte a pura “coincidência” ou que fuja enormemente do desvio padrão.

Em jogos de azar têm que haver um maior ganho (crédito) do que uma maior perda (débito) para alguém dizer: “Sim, essa pessoa ganha em loteria com probabilidades maiores do que o acaso, ele consegue prever os números”. Já as previsões humanas — sobre seu temperamento, atitude e ideias — podem ser totalmente subjetivas.

É claro que existem trabalhos que mostram um índice de acerto maior do que o acaso em fatores humanos. Entretanto, são fatores não muito caóticos, como casamento e relações amorosas. Em loteria não existe subjetividade, mas somente objetividade exata e precisa.

Não é uma questão de se desacreditar por simplesmente desacreditar que essas pseudociências funcionem em loterias. Eles simplesmente não mostraram resultados e, portanto, absolutamente não funcionam. É claro que devemos permanecer céticos contra suas alegações infundadas.

O cético tem o papel de bandeirante da verdade. Desacreditar por simplesmente desacreditar é papel do ignorante. O cético verdadeiro desacredita porque não vê que os fatos mostrados a ele são verdadeiros; ele consegue contra-argumentar e rebater as ideias falsas. Uma teoria em ciências testa-se assim, descartando hipóteses, criando outras, testando-as, testando novamente e mais uma vez.

Não se pode abandonar o ceticismo em ciências; o máximo possível seria pesquisar juntamente com ele. Existem muitas alegações extraordinárias para aplicações em loterias e todas devem passar pelo crivo da análise criteriosa.