Apresentamos, abaixo, o artigo “Os mortos falam” da jornalista e parapsicóloga brasileira Elsie Dubugras, publicado na revista Planeta no ano de 1974.
O artigo marcou época, sendo considerado pelo parapsicólogo e espírita brasileiro Hernani Guimarães Andrade (1913–2003) em seu livro A transcomunicação através dos tempos (FE, 1997) como possivelmente “o primeiro a noticiar, na Imprensa brasileira, os avanços da TCI na Europa”.
Ele prossegue: “em 12 páginas fornece minucioso e amplo relatório de tudo o que se passava naquela época na Europa a respeito da transcomunicação por meio de instrumentos eletrônicos.”
Oferecemos este artigo aqui no site para estudo e conhecimento aos interessados no polêmico campo de pesquisa da Transcomunicação Instrumental (TCI), sem necessariamente concordarmos irrestritamente com as conclusões da autora. (As imagens que ilustram o texto aqui transcrito não continham no original e foram inseridas por mim.)
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Os mortos falam
Por Elsie Dubugras
Revista Planeta n. 18, p. 08-20, fevereiro de 1974
Pela primeira vez na história os mortos falam sem o auxílio do médium. Na Suécia, na Alemanha, na Inglaterra, através de meios eletrônicos, vozes do além dão indicação sobre a vida depois da morte. Eles contam que “do outro lado” tudo é mais fácil, pois existe amor. Isso prova que a morte não é o fim, mas apenas passagem para outro estado. Descoberto por acaso, o método das gravações vem evoluindo rapidamente. Sua grande vantagem: pode ser repetido por qualquer pessoa.
Vozes misteriosas falando rapidamente, num ritmo invulgar e usando uma língua curiosa! Como estas vozes apareceram num gravador colocado em lugar ideal para captar somente canto dos pássaros, solitário e distante do vozerio humano?
Ninguém teria estado nas imediações, no entanto, inexplicavelmente, o gravador provava que o silêncio tinha sido relativo: as vozes estavam gravadas na fita. Este episódio abriu lentamente a cortina, proporcionando ao homem moderno a oportunidade de conhecer o mundo dos mortos através de seus habitantes. E este conhecimento não seria dado através de intermediários humanos – os médiuns – mas por meios eletrônicos.
O músico sueco, Friedrich Juergenson, desejava registrar o canto dos pássaros. Para isso teria que colocar seu gravador em lugar arborizado e sossegado. Pensou em sua fazenda e foi para lá fazer a primeira experiência com o canto das aves, que fracassou em virtude da intromissão de vozes estranhas.
O fracasso levou-o a tentar novamente. Tornou a colocar o gravador num lugar considerado ideal para o fim desejado. Mas como da primeira vez, quando foi ouvir o que estava gravado, as vozes tornaram a aparecer. Intrigado com a repetição do fenômeno, Juergenson decidiu ver se conseguiria decifrar o sentido das frases e, se possível, descobrir de onde vinham e quem as pronunciava.
Logo de início, mostrou que as sentenças continham palavras em diversos idiomas. A primeira ideia de que estas vozes poderiam ter partido de uma transmissora caía por terra, pois nenhum locutor falaria daquela maneira. Pelos mesmos motivos não podiam ser as vozes de vizinhos ou de pessoas que tivessem passado por perto. Sem solução para o enigma, durante três anos, pacientemente, repetiu a experiência. As vozes, invariavelmente apareciam nas fitas, sempre falando naquela língua poliglota e peculiar, sempre naquele ritmo estranho.
Juergenson estudou criteriosamente o que estava gravado e no fim chegou a uma conclusão surpreendente: havia gravado as vozes dos mortos! Após esta primeira experiência ficou patente que as gravações de Juergenson faziam parte de um plano das próprias “vozes”, e que esta era somente a fase inicial! Empolgado com o fato de que, pela primeira vez na história, as vozes dos mortos poderiam ser ouvidas por meios eletrônicos, sem um intermediário humano, sem médium, Juergenson publicou um livro sobre suas experiências.
O livro de Friedrich Juergenson foi um sucesso na Europa. Finalmente caiu nas mãos de um conhecido psicólogo e filósofo católico, Dr. Konstantin Raudive, que, profundamente interessado no que havia lido, procurou o autor para aprender sua técnica de gravar vozes. De posse de tudo que Juergenson havia descoberto, começou suas experiências. Com espírito científico, cercou-se de todos os cuidados para não se enganar e, pacientemente, colecionou um fabuloso acervo de 72 mil sentenças.
Eram colóquios das vozes com o experimentador, seus auxiliares e cientistas, intelectuais e religiosos que ele convidava para assistirem às gravações e observar o fenômeno. Estas 72 mil frases foram enfeixadas num livro publicado na Alemanha, intitulado Unhorbares Wird Horbar (O Inaudível torna-se Audível). A segunda etapa da estranha “viagem” eletrônica ao mundo dos mortos havia terminado. Passava-se agora à terceira etapa. Se o livro de Juergenson foi um sucesso, o do Dr. Raudive causou furor. As opiniões eram das mais variadas.
Naquela ocasião inaugurou-se a Feira do Livro em Frankfurt e o sócio de uma conhecida editora inglesa, Colin Smythe Ltd, foi visitá-la. Ao retirar-se da Feira foi abordado por um estranho que colocou um livro em suas mãos dizendo: “Aqui está uma obra que o senhor possivelmente gostaria de publicar. Leve-a consigo e leia-a”. Admirado com o presente inesperado, o Sr. Smythe levou o livro para a Inglaterra, mas este ficou na prateleira semi-esquecido.
Um dia, porém, lembrou-se dele e resolveu dar uma olhadela no livro. Sua primeira impressão não foi das melhores, pois achou que o autor estava tentando provar que a vida após a morte era um fato, e que este fato estava sendo comprovado por meios eletrônicos. – Estranho modo de querer provar a sobrevivência do espírito – pensou ele. Disse que teria rejeitado o livro se não tivesse folheado o apêndice, que continha numerosas cartas e comentários de pessoas cuja integridade moral e científica estavam acima de qualquer dúvida!
Neste apêndice havia o comentário de um padre católico, o conhecido filósofo Dr. Gebhard Frei. Havia um outro do prof. Alex Schneider, um renomado físico. O psicólogo Hans Bender, de fama internacional, também havia contribuído.
Conversando com a mãe morta
Ele sentiu-se confuso e chegou a pensar que algum truque havia sido usado para inserir documentos de tanto peso no livro, com o intuito de reforçar seu conteúdo. As suas dúvidas se dissiparam, porém, quando descobriu que essas pessoas não tinham escrito simples “cartas de referência”, mas que faziam parte de um grupo de pesquisadores do fenômeno e se responsabilizaram pela exatidão de que o Dr. Raudive descrevia.
Outras fontes consultadas confirmaram a seriedade da pesquisa e das inúmeras pessoas que nela colaboravam, assim como a veracidade do que estava exposto no livro do Dr. Konstantin Raudive. Apesar destas informações elogiosas, o editor inglês resolveu fazer uma experiência antes de dar sua decisão final sobre a publicação do livro que se intitulava Breakthrough (expressão idiomática que significa “penetração em áreas desconhecidas”).
Comprou algumas fitas e pôs o gravador a funcionar. A certa altura resolveu ver se algum som tinha sido registrado. Ficou surpreso ao ouvir uma voz gravada na fita! Levou o gravador com a fita à sala de seu sócio Sr. Bander e pediu-lhe para que escutasse a gravação.
O Sr. Bander pôs o gravador a funcionar e, repentinamente, distinguiu uma voz feminina, tênue, mas clara, que dizia em alemão: “Por que você não abre a porta?” Assim que ele percebeu a voz, reconheceu-a como sendo de sua falecida mãe. Tinha ouvido esta mesma voz durante 11 anos em fitas de gravador, pois era a forma como ele e sua genitora se correspondiam durante aquele longo período de separação.
O Sr. Bander repetiu a operação e ouviu a mesma voz, as mesmas palavras. Quis, no entanto, mais uma prova. Pediu a dois colegas que não falavam alemão que escrevessem fonema por fonema, o que ouviam. Quando conferiram o resultado ficou provado, sem sombra de dúvida, que o que o Sr. Bander havia ouvido era certo: sua mãe havia falado com ele através do gravador! Este resultado positivo decidiu a sorte do livro do Dr. Raudive: seria traduzido para o inglês e publicado na Inglaterra e nos Estados Unidos com o título Breakthrough. Outro vasto mundo, dominado pela língua inglesa, seria “penetrado” pelas vozes!
O livro não é descritivo. É um acervo das frases gravadas, separadas por assunto, com curtas explicações do Dr. Raudive no final de cada assunto, mas sem interpretações pessoais, suas ou de outras pessoas. O editor inglês, muito apropriadamente citou cada frase na língua das próprias vozes, mas colocou logo abaixo a tradução para o inglês. Além disso, ao lado de cada frase aparece o número da fita e o lugar onde se acha gravada. As fitas foram cuidadosamente conservadas e arquivadas pelo Dr. Raudive para consultas posteriores.
Em uma sala quieta e sossegada, geralmente tarde da noite, segundo as instruções que ele recebera do Dr. Juergenson, Raudive colocava um gravador com microfone e fita virgem. Esta era identificada com seu nome, a data, o local e quaisquer outras informações pertinentes.
Os mortos dão instruções
Em muitas ocasiões, o Dr. Raudive gravava uma pergunta pedindo às vozes que respondessem. O gravador era posto a funcionar e, após certo tempo, desligado. A fita era então repassada com o som aumentado ao máximo para conhecer a resposta dada. Outro método, usado pelo Dr. Raudive e que foi ensinado pelas próprias vozes, é o de lentamente procurar no rádio uma onda adequada para as gravações.
Assim que esta era encontrada, ouvia-se um sibilante agora! e o Dr. Raudive iniciava a gravação. Ainda hoje as vozes mostram franca preferência por esta forma de gravação, pois dizem que o microfone limita as possibilidades tanto de transmissão quanto de gravação. Ainda não foi descoberto como elas são processadas, mas acreditamos que, com as múltiplas pesquisas que estão sendo feitas na Europa, nos EUA e em outros países, muito será descoberto e revelado.
Durante as gravações recomenda-se calma no ambiente e concentração por parte dos assistentes. As vozes explicam que a concentração ajuda o processo de gravação e “atrai entidades”. As conversas dispersivas e inúteis não agradam nem tampouco a descrença daqueles que assistem aos trabalhos, pois, as ouvimos dizendo que “certas pessoas são inúteis à recepção”. Ouvimos, também, recomendações para que “desenvolvam as energias e conservem”. Será que esse “desenvolvimento de energias” é equivalente ao desenvolvimento mediúnico?
Elas podem ver o experimentador e os que assistem os trabalhos. Ouvem o que é dito, e respondem com inteligência às perguntas, mesmo que estas não lhe tenham sido dirigidas diretamente. Distinguem cores, fazem comentários sobre a “bonita cor” do oscilógrafo (é vermelha). Pedem para que as luzes sejam atenuadas, preferem a vermelha que condiz com o que sabemos ser necessário nas sessões de efeitos físicos – penumbra ou uma luz vermelha fraca. Não gostam que se fume durante os trabalhos pois se queixam da “neblina”, que deve ser causada pela fumaça dos cigarros!
Uma gramática peculiar
Durante a gravação os assistentes nada ouvem, pois as vozes dos mortos são inaudíveis aos ouvidos nus. Mas quando a fita é repassada com o som aumentado escutam-se certos ruídos rítmicos que se tornam, aos poucos, mais claros e compreensíveis. São “elas” falando e suas vozes lembram as “humanas” pois têm timbre diferentes, masculinos, femininos e até infantis.
Essa enunciação rítmica e a construção das frases recordam as fórmulas mágicas empregadas pelos feiticeiros africanos e mesmo certas línguas secretas. Cada sentença contém palavras de dois a seis idiomas diferentes, mas os vocábulos são encurtados, existem neologismo, faltam artigos, preposições e verbos auxiliares. Além do mais, são estruturadas numa gramática especialíssima.
Ouvindo-as repetidamente, observa-se que existem regras e características decorrentes nas sentenças, que não podem ser atribuídas à simples coincidência; cada voz tem uma forma inalterada de falar e certas singularidades na linguagem, que a identificam com a pessoa que ela diz ser. Essas características transparecem sempre que a voz fala, mesmo muito tempo após a primeira conversa.
Não podemos deixar de lembrar que geralmente conhecemos as vozes dos nossos amigos quando nos telefonam sem que seja preciso que eles se identifiquem. Há um timbre e um modo de falar que são seus. É o que acontece com as vozes. Outro detalhe interessante é que a maioria das palavras, em cada sentença, está fundamentada na língua que o experimentador melhor conhece.
As vozes se identificam pelo nome, profissão ou parentesco com um dos assistentes. O famoso Jung deu seu nome e disse que era um “psicólogo”. A irmã do Dr. Raudive identificou-se pelo nome e deu outros detalhes conhecidos da família.
Pessoa que em vida falava o francês, continuou usando muito francês nas sentenças, lembrando os ouvintes que a conheceram antes de morrer, os fatos ocorridos em sua vida, na França. Não pode, pois, haver dúvida quanto à sua identidade. Elas dão provas de sua inteligência pois não só respondem acertadamente como têm o dom da precognição, da retrocognição e conseguem ler os pensamentos dos que estão na sala. Estes são dons paranormais.
Os vícios dos mortos
Não podemos deixar de comentar sobre o que as torna tão “humanas”: o senso de humor, a ironia e os sentimentos que expressam, as observações que fazem, o trabalho a que se dão para provar que não passam de seres humanos “falecidos”, seres que conheceram a vida como nós a conhecemos, que têm as suas fraquezas como nós.
Eles sabem quando os testes saem bem e se alegram com isto. Prestam atenção ao que ocorre e encorajam os pesquisadores. Recomendam paciência dizendo que é importante levantar o véu entre os dois mundos, mas que “não se apressem nem tentem convencer os que não creem”. Estas observações mais uma vez provam que são seres inteligentes, que raciocinam, que conhecem e se lembram das dificuldades existentes na Terra para a aceitação de novas ideias!
Falam muito da necessidade de uma “ponte” para poderem chegar à sala de gravação ou efetuar transmissões. Não há descrição sobre o que seja essa ponte, mas para passar por ela os guardas exigem documentos de identidade, passaportes e pedem certos esclarecimentos. Deparamos aqui com um caso que lembra certos personagens do nosso mundo. É o caso de um espertinho que “iria se virar”.
Não tinha os documentos de identidade exigidos pelos guardas da “ponte”, mas tentou “levá-los no bico”, afirmando que era sueco, pois ser sueco parece ser algo desejável para furar o bloqueio e passar pela “ponte” (possivelmente porque o Dr. Juergenson era sueco e devia ser bem conhecido dos guardas…)
Não mudamos de caráter só porque morremos. As vozes conversam entre si, com o experimentador e com seus assistentes, e é através do conteúdo destas conversas que tiram as conclusões sobre seu modo de vida, pensamentos, relacionamento com outras, vícios, hábitos, condições sociais e geográficas, meio de locomoção, etc…
Eles também se divertem
Como já foi dito, as sentenças não são descritivas. O que encontramos é a menção do objeto, do vício, do meio de transporte, etc. Vamos exemplificar com uma conversa, pois esta nos permite conhecer um ônibus, seu motorista, algumas condições geográficas, as opiniões das vozes sobre certas pessoas, sua aptidão para o cargo que exercem etc. Diversas vozes conversam entre si. Vão fazer uma excursão de ônibus (falam do susabus).
Este será dirigido por um motorista que três dos passageiros deveriam ter conhecido em outras circunstâncias, pois uma, nervosamente, chama atenção dos amigos para o fato de que é o Popa quem vai dirigir. Outra acrescenta que Popa dirige com muita velocidade. Popa é veloz. Logo alguém exclama: “Estamos na 9ª rampa”.
Outra diz, surpresa: “Lá está o mar, o belo mar”. Existe, pois, o mar, e o ônibus deve estar subindo uma montanha. Rapidamente chegam ao seu cume e saem do ônibus, ouve-se alguém queixando-se do frio e do vento. Outra observa que o local só é bom para lobos, portanto deve ser um lugar bem alto, frio e açoitado por ventos.
Nesse cume há um telescópio. Uma voz chega ao instrumento e espia por ele. Exclama, admirada, que vê o Raudive. Outra quer espiar também, mas sua visão é defeituosa e o funcionário que cuida do telescópio tem que ajustar primeiro uma lente, depois a outra. Mas, apesar da novidade, há o eterno queixoso que reclama de tudo, enchendo a paciência de outra voz que, ironicamente, lhe diz que deveria ter trazido seu “caixão” consigo!
Através de frases semelhantes, ficamos sabendo que tanto as vozes quanto os pesquisadores precisam de “guias” para efetuar as transmissões e as gravações. A do Dr. Raudive é Margaret, que foi sua amiga e secretária em vida. O Dr. Juergenson também tinha a sua. Parece que cada pesquisador deve usar somente aquela que lhe foi designada.
Certa vez o Dr. Raudive, pensando que melhoraria a transmissão, apelou para a “guia” do Dr. Juergenson. Antes não o tivesse feito. O “lado de lá” não gostou e o resultado foi uma grande confusão. As pontinhas de ciúmes continuam acirradas entre aqueles que os vivos chamam de “mortos”.
Como vivem os mortos?
Existem casas, hospitais, pensionatos, escolas etc., e elas falam de roupas, falta de roupas, banheiros, comida, bebida e cigarros, citando as marcas. Conservam o sentimento de nacionalidade e agrupam-se segundo ela. Em certos setores o domingo é guardado.
Existem diversas profissões, como aqui na Terra. Plantam, colhem e cozinham, pois falam dos trigais e do pão que comem. É interessante observar que as vozes viajam, sabem para onde vão e onde estão. Também têm conhecimento do que seus amigos “vivos” estão fazendo, para onde vão e onde estão.
Eles sabem como as pessoas morreram e quando. Repetidamente falam dos parentes falecidos dos assistentes. Citam a forma da morte, o nome, o lugar e outros detalhes. Dr. Frei Gebhard era um padre católico, membro da Mission Society of Bethlehem. Em 22 de setembro de 1967 escreveu ao Dr. Raudive, dizendo que tinha ouvido 60 mil sentenças e acrescentou: “Não tenho o direito de duvidar da realidade do fenômeno!”
Logo após escrever essa carta, o prof. Frei faleceu e, em 5 de novembro de 1967, o Dr. Raudive pediu numa sessão de gravação, para falar com ele. Como resposta, o nome do Frei foi ouvido na fita. O Dr. Raudive perguntou: “O Sr. pode nos dar uma prova concreta do outro lado?” A voz do professor responde: “Du Handle, Gebhard”, ou seja, traduzindo livremente “trate disto você mesmo, Gebhard”.
12 de novembro de 1967 – O Dr. Raudive pediu, novamente, para falar com o prof. Frei e uma voz responde: “Gebhard. Espere. Você vai receber um sinal daqui. Obrigado. Daqui podemos ver você esperando”. Mais tarde aparece o seguinte: “Aqui, Gebhard. Kosta (diminutivo de Konstantin). Onde está você? Fred”.
30 de novembro de 1967 – O Dr. Raudive torna a chamar o prof. Frei, perguntando se ele podia ouvi-lo. Eis a resposta: “Sim, Gebhard. O bastante Kosta”. Acrescenta depois: “Como é fácil aqui. Tanta amizade. Estou gostando. Queremos nos encontrar com você livremente”.
Adaptar-se à condição de morto
14 de dezembro de 1967 – Frei regozija-se e diz “Raudive está trabalhando”. O Dr. Raudive pergunta mais tarde se Frei pode dizer o que ele, Raudive, está fazendo. Frei responde: “Brincando!” A uma queixa do Dr. Raudive, de que “as pessoas ainda não querem acreditar”, Frei responde: “Elas são assim mesmo”. (Pode-se ver, por esta observação, que o prof. Frei não se esqueceu de como é difícil convencer os “mortais” de qualquer coisa nova…).
Pelas datas destes diálogos vê-se que o prof. Frei teve condições para comunicar-se com o Dr. Raudive mais ou menos 40 dias após sua morte, e que levou cerca de um mês para entrosar-se com as condições de vida do além. Poderia isto ter acontecido por ter o prof. Frei já se familiarizado com o método de comunicação, antes da morte, antes de ter-se tornado uma “voz”?
Falam, repetidamente, do “radar. Deduzimos que, para as vozes, radar é o sinônimo de mediunidade, pois elas chamam o Dr. Raudive de radar e alguns de seus colaboradores de radar-substituto. O prof. Juergenson também era chamado de radar. Os poderes mediúnicos dos pesquisadores ainda não foram classificados, mas parece que são imprescindíveis às gravações, pois as vozes insistem na presença do Dr. Raudive.
Se ele não está na sala, não continuam com as gravações e saem à sua procura! Certa ocasião ele estava no jardim e outra vez no corredor. Elas souberam como encontrá-lo e até fizeram certas observações sarcásticas a seu respeito numa das gravações. Reconhecendo a importância do Dr. Raudive para o sucesso das gravações preocupam-se com a sua saúde, insistindo para que repouse, que durma mais, que não se canse e até chegam a fazer prece por ele.
Recomendações e conselhos
As vozes fazem menção a muitas estações transmissoras do além – e dão seus prefixos. Recomendam não pecar, não comprar o pecado, não beber, não brigar e elucidar que o amor é uma loba. É uma expressão interessante que elas não explicam, mas comparando-as às mensagens recebidas pelo médium Chico Xavier, presume-se que se referem à paixão e não ao verdadeiro amor. O que mais pedem é preces. Gostam de ser lembradas, mas de forma positiva.
Não apreciam as críticas pelo que fizeram de mal durante sua vida terrena. Não gostam, também, que duvidem delas. Sentem tristeza e alegria. Pedem perdão por ofensas cometidas em vida e a este respeito citamos o caso de uma voz que, tendo ofendido o Dr. Raudive em sua infância, mostrou-se arrependida. O Dr. Raudive lembrou-se do caso. Pedem para que se fale mansamente, não só no nosso lado, mas do lado de lá também chegando a repreender uma voz que falava de forma ríspida.
Interessam-se em provar que o que nós chamamos de morte não é morte, mas vida. Primeiro dizem que a Terra é a morte, depois que elas – as vozes – estão vivas e que a morte não é o fim, dando a entender que no além a vida é semelhante à da Terra. Como prova adicional de que são seres inteligentes e que raciocinam, continuando a aprender, está o fato que usam línguas que desconheciam em vida, sem falar da língua característica que usam entre si e nas gravações.
Em duas gravações as vozes avisaram o Dr. Raudive que ele veria uma certa pessoa em sonho. Ele viu Margaret, com aparência transcendental, mas perfeitamente reconhecível. Em outra ocasião foi avisado que veria o famoso psicólogo Jung. Este também apareceu em sonho.
Espíritos de baixo nível
Alguns espíritos continuam ligados aos lugares onde haviam morado durante sua permanência na Terra. Eis a prova: Uma das pessoas que estavam assistindo às gravações disse que pressentia uma entidade na casa onde residia. Uma voz diz: “Willi” (Willi é um nome popular na Alemanha). O Dr. Raudive diz que a entidade poderia ser uma forma desconhecida de vida. Outra voz imediatamente retruca: “Errado, Kostulit”.
O Dr. Raudive continua: “Um mediador entre esta vida e a outra. Mas não existem tais divisões”. A voz responde: “Existem!” O Dr. Raudive diz então que, se é um espírito, quer saber quem é. A voz responde: “Willi! Aqui está a casa”. Mas o Dr. Raudive, não satisfeito com a resposta, insiste em saber quem é o tal “Willi”. A voz responde: “É o protetor da casa. Testemunha” (Deduzimos que, assinado “Testemunha”, a voz que queria dizer que ela testemunhava o fato e que se tratava de uma entidade protetora do lar).
Não podemos deixar de falar de um episódio que se deu antes das vozes tornarem-se conhecidas. Um engenheiro austríaco inventou um aparelho que ele denominou de psicofone. Com este aparelho ele contatava entidades espirituais, mas seus testes tiveram que ser abandonados, pois o aparelho só se ligava a espíritos de nível tão baixo que ele e os que trabalhavam no local sofriam seu assédio, com consequências desagradáveis e imprevisíveis.
As vozes são entidades espirituais
Poderíamos citar outros fatos registrados nas gravações. A variedade é quase infinita. Acreditamos, porém, que o que já foi dito comprova que as vozes são reais, que são o que elas alegam ser e que não são produto do inconsciente – o que elas mesmas violentamente repudiam como falsa premissa.
Mas, para rematar, é interessante ler o que o rev. Charles Pfleger, capelão da Santa Sé, diz a respeito das vozes, publicado na revista Le Nouvel Alsacien de 2-7-1970: … A teologia não deverá opor muitos obstáculos (aos fenômenos das vozes), pois os dogmas estão sendo reestruturados… e mesmo os artigos fundamentais da fé estão sendo revisados. É, pois, razoável aceitar, para ser considerada, esta nova prova relacionada à natureza da vida do além… sobre a qual não devemos esquecer, a teologia cristã é muito vaga…