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Esse texto é mais uma resposta ao discovoadorista e conspiracionista Marco Antônio Petit em rebate a uma postagem que ele publicou em seu blog sobre meu trabalho do caso Ilha da Trindade, episódio de uma suposta aparição de um “disco voador” em 1958, e de meu desmanche de várias falsas descobertas em Marte que ele promove e vende por aí há anos. Essa minha nova resposta vem com um certo atraso, pois não tive a mínima paciência, importância e tempo de parar para respondê-lo, já o tendo feito longamente anos atrás em várias páginas em outros textos.

Como já mencionei em outras oportunidades, eu comecei a historiar o caso Ilha da Trindade desde o ano de 2002. Eu publiquei artigos específicos sobre este caso nos anos de 2002 (aqui e aqui), 2008 (aqui), 2010 (aqui e aqui), 2011 (aqui, aqui e aqui), 2015 (aqui e aqui) e 2020 (aqui). Ao todo são centenas de páginas.

Mas, o desagravo começou quando no início de 2011 eu publiquei um artigo que continha uma entrevista com uma pessoa do núcleo familiar do fotógrafo Almiro Baraúna, um sobrinho seu de 69 anos de nome Marcelo Ribeiro, também fotógrafo, falecido em 2014, que me contou que teria ouvido de seu tio que as fotografias do “disco voador” da Ilha da Trindade eram uma montagem fotográfica feita em laboratório. Isso acabou desagradando alguns ufólogos que acreditavam que este caso era mais sólido do que a Teoria da Relatividade.

Marco Antônio Petit ficou possesso e publicou em 2011 na revista UFO um artigo de crítica a este meu trabalho. Ele apareceu contando uma estorinha de que passou mais da metade da sua vida investigando este episódio, afirmando que fez inúmeras entrevistas com o fotógrafo Almiro Baraúna em encontros realizados em “várias ocasiões”.

A manchete da revista UFO reforçou seus superlativos anunciando que seria revelada pela primeira vez “Mais de cinco décadas depois, a verdade sobre o UFO em Trindade”, e em contracapa apresentaria “novas e surpreendentes revelações sobre o UFO em Trindade”.

Pois bem, fui ler seu artigo pra saber quais incríveis investigações eram essas que haviam lhe custado longas décadas de pesquisas e informações que supostamente ninguém conhecia. De pronto, as incríveis “novas e surpreendentes revelações” eram de ponta a ponta de seu texto a transcrição literal de uma conhecida e única entrevista que ele havia realizado com o fotógrafo Baraúna em 1997.

Gravada em vídeo e comercializada por ele há anos, era amplamente conhecida por qualquer um que um dia se interessou por essa história, inclusive comprada por mim mesmo na mão dele por e-mail há quase uma década antes, em 2002, e utilizada como uma das minhas várias outras fontes em minha análise sobre este caso.

Mas ele não contou isto em nenhum momento do seu texto. Ele escondeu que retirou as informações da literal transcrição daquilo que o fotógrafo o havia contado em 1997, informado que o que se via no seu texto era o resultando de estafantes décadas de pesquisas e várias entrevistas com o fotógrafo.

Ou seja, ele reembalou como novidade informações amplamente conhecidas dos pesquisadores e as promoveu como se ninguém soubesse, inflando seu trabalho pra impressionar os leitores que não conhecem a história do caso pensarem ser algo muito maior do que realmente é.

Como inflar pesquisas

Essa entrevista com o fotógrafo Almiro Baraúna tem trinta e tantos minutos. Gravado em VHS, este material passou a ser comercializado por ele após a morte do fotógrafo no ano 2000. Ele pensou que ninguém que investiga a história conhecia essa fita de vídeo, mas, como disse, a mesma é apenas uma das inúmeras fontes que eu e outros utilizamos pra analisar o caso.

Porém, eu não limito minha análise do episódio a repetir literalmente este depoimento do fotógrafo, como ele faz, pois esta entrevista é insuficiente para desenhar e compor todo o panorama deste caso. Não somente eu. Não há um único trabalho sobre o caso Trindade no planeta que se limite a contar a história com base exclusivamente neste depoimento do fotógrafo, concedido quase 40 anos depois do evento ter ocorrido.

Desde que este episódio aconteceu em 1958 até a data da morte do fotógrafo no ano 2000, ele concedeu algumas entrevistas e depoimentos contando sua história sobre o ocorrido. A minha análise do caso Ilha da Trindade abarca todas as entrevistas que são conhecidas hoje. Aquela conduzida por Petit, narrada quando Baraúna já tinha 81 anos é apenas e tão somente uma delas.

Assim, tudo aquilo que Baraúna contou nessas outras entrevistas e depoimentos, mas não contou a Petit em 1997, ele completamente a desconhece. O seu texto na revista UFO é a prova concreta disso. Então, o que lhe sobra é uma visão restrita dessa história, como bem explanei e demonstrei no meu artigo de resposta a ele.

E a consequência disso é um desastre: ele interpreta como erro a aquilo que o fotógrafo contou em outras entrevistas, mas não contou a ele. Mas espere, ainda assim, por óbvio, todos esses depoimentos são apenas a versão contada justamente pelo protagonista e réu do caso, o fotógrafo Almiro Baraúna.

Sim, eu escrevi um artigo de resposta com quase 70 páginas, chamado “Caso Ilha da Trindade: o que não querem que você saiba”. Alguém o viu mencionar este trabalho? Claro que não, ele o esconde de seu público. É um extenso artigo, mas que é inconveniente a ele, pois ali corrijo vários erros e avaliações equivocadas que ele cometeu, além de desempenar distorções quando retira trechos do contexto e de desmontar essa sua fachada quando infla seu trabalho sobre o episódio pra parecer ser algo gigantesco, maior do que realmente é.

E vejam como são as coisas, essa fita de vídeo da entrevista com o fotógrafo em 1997 foi inclusive utilizada e mencionada por mim mesmo, por exemplo, em um artigo meu publicado três meses antes do dele, em maio de 2011, chamado “Caso Ilha da Trindade: Documentos sigilosos são revelados”. Porém, quem for ler aquele artigo verá que ela está praticamente invisível dentro daquele texto.

Eu utilizei este depoimento em três momentos: um deles pra contar que Baraúna disse ter usado uma lupa pra enxergar melhor os negativos após revelação a bordo do navio, outra quando tratei de um truque de um falso tesouro que ele havia vendido a um jornal antes do caso Trindade ocorrer e outra pra mostrar uma disparidade de depoimentos sobre uma suposta captação do “disco voador” pelo radar do navio-escola Almirante Saldanha quando comparada com outras entrevistas anteriores que o fotógrafo concedeu (e essas duas últimas menções eu cruzo também com outras fontes).

Se eu for somar essas três passagens não irá ultrapassar umas cinco linhas. O artigo tem quase 30 páginas. O que isso quer dizer? Que todo o restante do texto é construído com base em múltiplas outras fontes, na qual incluiu também entrevistas de Baraúna concedidas a outras pessoas em outras datas.

Mas espere, alguém o viu mencionar este trabalho? Claro que não, ele também o esconde de seu público. Não somente estes artigos que mencionei, os outros que publiquei em anos anteriores também são ignorados. E não somente os meus, vários trabalhos de outras pessoas que não têm as mesmas conclusões que as suas, tanto no Brasil como publicadas no exterior, ele passa por cima como se ninguém tivesse dito nada.

Eu também utilizei esta fita de vídeo do depoimento do fotógrafo de 1997 no meu artigo que causou a necessária polêmica, o chamado “Caso Ilha da Trindade: Sobrinho de Baraúna afirma que as fotos são um truque”, mas eu sequer a menciono explicitamente no corpo do meu texto por não ver necessidade.

Eu digo aqui os dois momentos que a utilizo naquele texto: uma quando Baraúna contou que quando estava voltando da Ilha da Trindade resolveu desembarcar antecipadamente do navio-escola Almirante Saldanha em Vitória e rumado de ônibus para sua casa, e outra passagem quando menciono um truque de um falso tesouro que ele vendeu a um jornal, antes do caso Trindade ocorrer (neste quesito não me limito a apenas esta fonte, citando uma reportagem da época, de 1958, descrevendo como este e outros truques foram feitos).

Só. Se for somar essas duas passagens não ultrapassará umas seis linhas. Todo o restante do texto vem de outras fontes, e boa parte delas eu explicito no corpo do texto.

Aliás, naquele mesmo artigo me refiro explicitamente a outras entrevistas do fotógrafo, como uma concedida ao ufólogo americano J. Allen Hynek em 1983, de 20 minutos, gravada em áudio, e depoimentos dele à imprensa, ainda em 1958.

Alguns tópicos que foram levantados neste artigo, eu considerei que devia abordá-los mais apropriadamente não nele e sim em outros artigos à parte, principalmente pra não estender em demasia o texto, desfocando seu ponto principal. Assim, publiquei outros em seguida, dentre eles um mais proeminente que já mencionei acima, o “Caso Ilha da Trindade: Documentos sigilosos são revelados”, de quase 30 páginas.

Neste artigo eu apresento pela primeira vez vários documentos oficiais da Marinha sobre o caso Trindade, que eu resgatei pessoalmente quando estive naquele distrito naval, no Rio de Janeiro. Eles estavam enterrados nos arquivos militares e vieram a lume pela primeira vez após mais de 50 anos.

Naquele texto eu abordei vários aspectos do caso Trindade que eram objeto de debates e questionamentos há quase uma década, que eu estava envolvido, mas agora analisando-os sob à luz desses novos documentos oficiais que obtive, e também analisei alguns pontos que a testemunha do sobrinho de Baraúna havia relatado.

Assim, tem tópicos que explorei e analisei neste artigo que, três meses depois, aparece Marco Petit anunciando-os como se fosse revelações inéditas que somente ele e mais ninguém no planeta soubesse. Ele se aproveitou de pontos que não abordei naquele artigo que causou a polêmica e, embora tenha tratado em outros, foi contar como se estivesse revelando a pólvora ao mundo.

Pior: tópicos que tratei abertamente naquele mesmo artigo da entrevista com a testemunha do sobrinho, ele passou por cima como eu nada tivesse dito. Ele atropela todo mundo e anuncia como se fosse informações que somente ele detinha. O que eu posso fazer com uma pessoa dessas?

Mas vejam bem, nem essa testemunha e nem nenhuma outra é um elemento per si. Elas são peças dentro de um grande quebra-cabeça com inúmeras outras peças, que é o caso Trindade. Assim, obviamente nenhum artigo isolado que publiquei é um tratado que esgota todos os meandros deste episódio.

Quem lê apenas o que ele escreve sobre o caso Trindade e não conhece as pesquisas e trabalhos publicados de outras pessoas tem uma visão amputada da situação, como se ninguém soubesse nada, simplesmente porque ele passa por cima desses trabalhos como se não existissem. Ele pensa que a história do caso Ilha da Trindade é essa sua fita de vídeo da entrevista que fez com o fotógrafo, ou seja, exclusivamente a narrativa descrita a ele quase 40 anos depois do incidente ter ocorrido.

Como disse, ele ainda conta que fez várias entrevistas com o fotógrafo ao longo dos anos, mas ninguém até hoje viu uma única vírgula sequer delas e nem quando foram realizadas. Ao abrir sua boca pra falar (escrever) sobre o caso, o que faz é transcrever em cópia carbono o depoimento dessa entrevista de 1997, caindo nas mesmas limitações e gaps daquela narrativa, usando as mesmas palavras e exatamente na mesma ordem contadas pelo fotógrafo, inclusive engolindo até os mesmíssimos erros cometidos por ele (e nós sabemos que são erros porque são fatos históricos que independem da fala do fotógrafo).

Enfim, como já contei no meu artigo de resposta, qualquer pessoa que não entenda absolutamente nada sobre a história do caso Trindade — sequer saiba o nome do fotógrafo — e se ocupe a assistir os trinta e poucos minutos dessa fita de vídeo de 1997 terá o mesmo conhecimento que Petit alega ter coligido em suas extenuantes décadas de pesquisas.

Eu já comparei este tipo de articulação a como se eu pegasse uma entrevista que fiz em 2003 com outra testemunha, o civil Amilar Filho, amigo de Baraúna, e que contou a mim que estava no convés do navio-escola Almirante Saldanha e viu o sobrevoo por sobre a ilha da Trindade do que chamou de “objeto”, e inflasse esse depoimento no meu texto pra parecer ter sido informações obtidas em décadas de pesquisa e várias entrevistas com esta testemunha, apresentando-as como se fossem inéditas “surpreendentes revelações”. No entanto, essa entrevista está publicada no próprio site da revista UFO desde 2008 (eu continuo considerando esse depoimento sincero e honesto até hoje).

Como eu trabalho com fontes fidedignas, com entrevistas e depoimentos que existem e são datados, com referências e transcrições textuais, com documentos oficiais da Marinha Brasileira, com documentos históricos da imprensa da época do caso em 1958, com testemunhas que existem e tem nomes, com trabalhos de outros pesquisadores publicados ao longo das décadas etc, esse tipo de marmelada de uma pessoa magnificar algo restrito pra aparentar ser gigantesco cai logo na nossa primeira malha de verificação. Dados e informações têm que vir de algum lugar conhecido, não do éter.

Quem lê o que já publiquei sobre o caso Trindade não encontrará na minha análise a história contada na literal transcrição dessa fita de vídeo da entrevista com o fotógrafo de 1997. Primeiro porque, como já disse, essa entrevista é insuficiente; em outros depoimentos ele narrou outras passagens não contadas naquela.

Segundo, comparando várias entrevistas há passagens díspares e até contraditórias, e terceiro, por óbvio, é a versão da história contada pelo próprio réu do episódio, justamente a pessoa em xeque por ser o autor de fotos de um alegado “disco voador” cujo assunto é nativamente tema de debate em aberto pela ciência.

A história do caso Trindade não é um monobloco de um monólogo contado pelo fotógrafo. Por comparação, por exemplo, seria como se eu fosse analisar uma história de “disco voador” da mesma época, o Barra da Tijuca, de 1952, transcrevendo apenas a narrativa contada pelos protagonistas dela, o fotógrafo Ed Keffel e o jornalista João Martins. Como todos sabem, as cinco fotografias dessa história foram posteriormente demonstradas como uma montagem. Seu eu ouço apenas o réu, eu tenho apenas a versão dele.

Enfim, aquilo que eu e os outros chamamos do que realmente é, ou seja, de uma simples e única entrevista realizada em 1997, ele não conta isto a seu público, borrifando em seu texto as informações narradas pelo fotógrafo pra que os desconhecedores da história se impressionem que aquelas informações são oriundas de várias entrevistas, de profundos conhecimentos obtidos de intensas investigações colhidas em pesquisas desde a década de 80. É assim que ele faz seu marketing pessoal.

Ele superdimensiona seu trabalho e subdimensiona o trabalho dos outros. Imagine só se vamos limitar nosso conhecimento do caso Ilha da Trindade às suas pesquisas de fachada?

Foi sem nenhuma surpresa quando eu li um artigo publicado em 11 de fevereiro de 2016 no site ufológico Portal BURN que descreve, segundo explana longamente seu autor, como Petit também superdimensiona sua real participação do início das investigações de outro conhecido caso da ufologia, o Varginha, visando imprimir ao seu público e a desavisados sua imagem de maior protagonismo daquilo que efetivamente ocorreu no começo deste episódio, além de tentar diminuir o trabalho dos outros pesquisadores. Enfim, pelo que se lê ali, ele já tem uma ficha corrida neste tipo de prática.

Eu devo deixar claro aqui que não estou em uma cruzada para tentar convencer alguém. Qualquer um pode ter seu entendimento do caso da forma que lhe aprouver. No entanto, se fazem uma crítica ao meu trabalho, eu estou aqui respondendo como é minha análise e entendimento deste episódio. Ademais, volto a dizer que esta e outras testemunhas são apenas uma peça neste jogo, composto de inúmeras outras peças. A análise global do episódio nunca se limitou a uma única testemunha.

Eu acredito ter esclarecido no meu artigo de quase 70 páginas de como praticamente tudo declarado por esta testemunha do sobrinho não está dependente exclusivamente do seu depoimento, podendo ser conhecido e trabalhado, como é, por meio de outras inúmeras fontes independentes. No entanto, se você apenas conhece aquilo que o fotógrafo Baraúna contou em uma entrevista quase 40 anos depois do incidente, obviamente seu conhecimento é bem limitado para destrinchar a história.

Atendendo a um convite. Do elogio ao insulto

Ao ler a postagem direcionada a mim de Marco Petit no seu blog, eu vejo a imagem de um cidadão vaidosíssimo e com um ego do tamanho da galáxia. Eu estou lidando com um sujeito que está trancado em um quarto de espelhos jogando confete em si próprio. Na bolha em que vive, ele pensa que as pessoas, incluso eu, estão atrás dele como se ele fosse algum totem. Na verdade, ele caiu de paraquedas na minha frente, e eu conto mais à frente como isto aconteceu.

Antes disso, deixa-me explicar aqui algumas coisas: o meu artigo sobre o caso Trindade que causou a necessária polêmica foi enviado por mim em e-mail privado unicamente ao Ademar José Gevaerd, editor da revista UFO. Por qual motivo? Porque foi o próprio que estava me convidando, semanas antes, para eu publicar no seu site/revista UFO um longo artigo sobre o episódio abordando vários aspectos dele. Ou seja, eu estava atendendo a um convite do próprio editor da revista para eu publicar no seu periódico.

Desde 2002 eu sempre mantive meu próprio site, que jamais foi exclusivo sobre UFOs. Ele aborda algumas áreas de fronteira da ciência, principalmente outra que sempre tive maior interesse científico, que é a vida após a morte. Ele já mudou de nome algumas vezes, mas eu nunca o retirei do ar. No entanto, se alguém me convida para publicar um artigo no seu veículo, eu posso atender o convite, e foi o que fiz. Se ele não tivesse me convidado, eu não enviaria a ele.

E não foi o primeiro convite. Gevaerd já havia me convidado anos atrás. Por exemplo, ainda no mesmo ano que comecei a historiar este caso, em 2002, ele me convidou para publicar um artigo na sua revista sobre o caso, o qual saiu na edição de novembro de 2002 e que pode ser lido aqui no meu site em uma versão que revisei anos depois.

Um dos últimos convites aconteceu após o programa Fantástico da Rede Globo ter veiculado, em 15 de agosto de 2010, uma entrevista com uma amiga de Baraúna, alegando ter ouvido uma confissão do fotógrafo de que as fotos eram uma montagem feita em sua casa, após retornar da ilha. Em troca de conversas privadas por e-mail, Gevaerd me convida para que eu produzisse um artigo sobre o caso Trindade para o seu site da revista UFO:

No dia seguinte ele reforça o convite me pedindo desta vez um artigo completo sobre o caso Ilha da Trindade para ser capa da revista dele, desejando que eu abordasse ponto a ponto a história, inclusive as novas polêmicas recentemente surgidas:

Naquele mesmo mês de agosto de 2010 eu publiquei dois artigos sobre o caso no meu site, abordando também os novos fatos. Um deles foi aproveitado e republicado posteriormente no próprio site da revista UFO. Vejam o e-mail público que o Gevaerd enviou assim que o texto foi veiculado no seu site, elogiando meu trabalho: “Parabéns pela excelente pesquisa”.:

Dias após essa publicação, em troca de conversas ele volta novamente a me pedir para publicar um artigo mais extenso sobre o caso Trindade para a revista impressa dele, abordando ponto a ponto. Ele ainda dá ênfase que compartilhou este convite com o pessoal dele. “Confirmando, você está escrevendo isto para a UFO”, diz. Eu concordei e fui trabalhar em um novo texto:

Passados umas semanas, eu cheguei a enviar um e-mail privado a ele em 22 de novembro de 2010 informando que continuava trabalhando no artigo sobre o caso Trindade, não tendo esquecido, mas estava parado por estar ocupado com trâmites de minha mudança de residência. Ele me responde no dia seguinte dizendo que quando possível continuasse trabalhando com calma no artigo.

Pois bem, como vinha investigando essa história desde 2002, eu fui explorar o caso naquela nova frente de pesquisa abordada pelo programa Fantástico, pois suspeitei que de onde saía fumaça podia haver fogo, ou seja, mais alguém do núcleo próximo ao fotógrafo poderia também ter ouvido uma possível confissão dele.

E assim localizei em janeiro de 2011 mais uma testemunha narrando algo parecido (encontrei também outras testemunhas a partir daquele mês que ainda estão arquivadas aqui para futura publicação). Escrevi um artigo sobre. Atendendo ao convite do Gevaerd para eu publicar um longo trabalho sobre o episódio na revista dele, eu enviei em privado pra ele este novo artigo perguntando se ele tinha interesse nele ou não.

Opa, agora a situação mudou! Não era aquilo que eles queriam ouvir. Eles somente queriam escutar algo favorável ao caso, não uma crítica ao episódio ou elementos que o coloquem em xeque — como era a tônica daquele artigo.

Desesperados, com raiva por surgir no cenário mais uma testemunha contando, segundo ela, ter ouvido do fotógrafo de que suas fotografias eram uma montagem feita em laboratório, e eu ter publicado nos meses seguintes outros artigos colocando em xeque alguns elementos do caso (que não tinham relação alguma com qualquer testemunha), passado algum tempo a situação se inverteu: passaram a me difamar e a tentar me desqualificar na revista.

Porém, meses antes disso, em maio de 2010, o editor estava atrás de mim. Eu recebi inesperadamente um e-mail em privado na minha caixa do Gevaerd, com cópia ao Petit e a outros dois senhores, me informando que seria publicado em breve um trabalho crítico ao caso Trindade no site Ceticismo Aberto — anunciado pelo próprio proprietário do site. Ele queria que eu e os outros fizéssemos algo. Por ora vou ocultar o nome dos outros dois senhores por não estarem envolvidos diretamente nesta confusão:

Mas eu posso voltar no tempo aqui e exemplificar como há anos atrás essa gente estava elogiando meu trabalho sobre o caso Ilha da Trindade. Vou ilustrar aqui com alguns exemplos, como em 2003.

Em uma nova polêmica de debate sobre o caso Trindade que se desenrolava aqui no Brasil e no exterior, Gevaerd enviou para a lista de discussão internacional UFO Updates um artigo de minha autoria sobre o caso que já havia sido publicado na revista dele. Ele mesmo pediu ao seu pessoal pra traduzir ao inglês e o remeteu para aquela lista em dezembro de 2003, recomendando meu trabalho:

Em 2008 o debate sobre este caso Trindade estourou novamente com mais força no exterior e também aqui no Brasil, e eu resolvi adiantar algum material de um dossiê que eu estava produzindo sobre este caso.

Guardada na minha gaveta por quase cinco anos, eu publiquei um artigo com uma entrevista que havia realizado em 2003 com uma testemunha civil que estava naquele navio da Marinha, o Amilar Filho, uma das três únicas testemunhas conhecidas hoje que contaram ter observado a aparição de algo no céu da ilha quando estavam no convés do navio-escola Almirante Saldanha, além de Almiro Baraúna e o aviador José Viegas — todos amigos em comum.

Naquela data eu enviei este material em privado a algumas pessoas que investigavam o caso e também ao editor da revista UFO em janeiro de 2008. Ele me respondeu em êxtase:

Pediu a um tradutor de seu grupo vertê-lo ao inglês, publicando em seguida na lista internacional UFO Updates em 13 de fevereiro de 2008, além de eu também publicar no meu site:

O artigo com a entrevista foi posteriormente publicado no site da revista UFO naquele mesmo ano de 2008. Nesta publicação, o meu texto introdutório à entrevista foi substituído por outro praticamente igual — que não foi escrito por mim, apesar de eu aparecer como autor (inclusive me chamam erroneamente de jornalista). Olhem lá a forma elogiosa como se referem a minha pessoa e ao meu trabalho sobre o caso Trindade.

Enfim, eu apresentei estes exemplos aqui para demonstrar como são as coisas: como minha pesquisa avançou em novas frentes e expôs elementos que eram contrários à veracidade de alguns tópicos do caso, além de uma nova testemunha desfavorável, enraivado o editor vai lá e publica na revista dele, usando seu coeditor como ponta de lança, de que aquele artigo que enviei pra ele era porque eu queria colocar meu nome na história do caso.

Sim, estamos falando da mesma pessoa que semanas antes me convidou para publicar um longo artigo na sua revista sobre o caso Trindade, e foi por esta razão que enviei a ele.

A mesma pessoa que meses antes estava atrás de mim pra que eu fizesse algo (leia-se: escrevesse um artigo para seu site/revista) porque um site iria publicar um trabalho crítico ao episódio de Trindade, e igualmente a mesma pessoa que três anos antes em outro artigo que remeti a ele em privado, porém desta feita contendo uma entrevista com uma testemunha que era favorável, o Amilar Filho, queria me “dar um beijo” — como vimos acima em e-mail.

Ou seja, anteriormente essa gente estava me elogiando, me convidando para escrever artigos sobre o caso Trindade para publicar em sua revista/site, atrás de mim me pedindo pra eu rebater artigos críticos ao episódio, traduzindo meus trabalhos sobre o episódio por livre iniciativa e interesse exclusivo delas para ser veiculado no exterior com a intenção de aplainar polêmicas que surgiam e recomendando meu trabalho.

Convidado pelo próprio editor para publicar um artigo sobre o caso Trindade na sua revista, acabei sendo insultado nela. Ele queria um artigo favorável ao episódio, mas tendo minha investigação levantado o oposto e exposto elementos desfavoráveis, produzindo uma crítica que o deixaram revoltados, enraivados se voltaram contra mim e passaram a me atacar lançando uma série de insultos na revista e tentando me desqualificar. Eu entendo perfeitamente o jogo, mas eu também sei jogar.

Crente de que estava abafando, Petit saiu pulando cantando vitória. Sem saber, alheio às pesquisas e trabalhos no Brasil e no exterior que há anos vinham revisando este episódio, me entregou de bandeja um texto repleto de erros, de avaliações equivocadas e desatualizado. Mas de momento fiquei na minha, não falei absolutamente nada.

Limitei-me a enviar um e-mail cordial ao Gevaerd reclamando que sua revista havia publicado uma coletânea de ofensas a minha pessoa. Porém, dias antes disso, Gevaerd me enviou em privado um e-mail dizendo que seu coeditor e outros iam publicar artigos sobre o caso Trindade na sua revista. Ele me disse que o texto de Petit ia revelar informações sobre o episódio que ninguém conhecia, nem ele, e me convidou também a publicar um artigo na mesma edição.

Como investigo essa história desde 2002 (e ele sabe disso, já que naquele mesmo ano me convidou pra publicar um artigo sobre o caso na sua revista), eu respondi dizendo que tinha todo o material sobre o caso Trindade e seria difícil ter algo que não conhecia. Como eu fiquei desconfiado, pedi pra ler os textos que seriam publicados. Ele voltou em um novo e-mail me dizendo que Petit não permitiu que eu lesse antecipadamente seu artigo.

Gevaerd contou que seu coeditor não queria que meu artigo na mesma edição fosse um rebate ao dele. O editor me disse que, se fosse o caso, daria espaço em uma outra edição pra minha resposta. Eu manjei que tinha marmelada por trás, então decidi e contei ao editor que declinaria seu convite, e assim não enviei meu artigo a ele.

Dito e certo, quando a edição saiu, vi o que era: um texto cheio de insultos a minha pessoa e informações requentadas dessa fita VHS da entrevista com o fotógrafo de 1997 — e conhecidas de todos historiadores —, sendo promovidas como novidades em “surpreendentes revelações”.

Sim, a mesma fita de vídeo que há anos é comercializada em informes publicitários na própria revista UFO. Desesperados, como não tinham nada pra publicar, reembalaram um simples depoimento do fotógrafo e publicaram como se fosse revelações inéditas de décadas de extenuantes pesquisas.

Eu devo deixar claro que eu não estou impedindo a crítica. Ninguém precisa concordar com absolutamente nada do que escrevo sobre o episódio. Se você tem uma crítica, faça-a. Da mesma forma não estou pedindo que elogiem meu trabalho. Nada disso, estou apenas exemplificando aqui o contraponto para contextualizar a situação. O caso da Trindade acabou virando um “clássico”, o que desperta paixões e emoções de alguns.

Da mesma forma que qualquer um tem a liberdade da crítica, eu tenho a liberdade de responder a ela. Petit fez uma crítica e eu fiz a réplica. Simples assim! Se alguém faz uma crítica com educação e urbanidade, irei responder da mesma forma. No entanto, se você apimenta a sua crítica, eu também posso por reciprocidade adotar o mesmo critério. (Inclusive acatei algumas críticas aqui e acolá antes de publicar aquele meu artigo que causou a necessária polêmica.).

Publicar o artigo na revista? O bafo quente da inveja

Em postagem rancorosa e lamentosa de Marco Antônio Petit em seu blog, eu compreendi algo que na época não me passou percebido. Ele conta agora de forma orgulhosa e festiva ao se colocar como um porta-voz da história do caso Ilha da Trindade, elegido unicamente pelo seu próprio editor da revista UFO dentro do seu grupo. Ao publicar um artigo sobre o caso Trindade no site da revista UFO, eu acabei adentrando o gueto dele e ocupando seu espaço, que era exclusivo dele, e isto o desagradou visceralmente.

Agora ele se colocou inconformado por alegar que eu tinha interesse de que aquele meu artigo veiculado no site fosse também publicado na revista de banca com a intenção de que eu pudesse me tornar conhecido. Claro, se assim o fosse eu estaria ocupando novamente mais um espaço que era exclusivamente seu. Ver a possibilidade de um “desconhecido” publicar sobre este caso no seu espaço não deve ter sido fácil dele aceitar.

Ele ainda alega que meu interesse era de que fosse publicado com a sua chancela. Sim, tinha que ter seu carimbo de porta-voz oficial do caso Trindade. O “porta-voz” de uma história que não lhe pertence estava olhando pra mim como um concorrente dentro de seu nicho de mercado, porém na época eu não me dei conta desse bafo quente da inveja atrás de mim.

Mas a realidade é bem diferente de qualquer sentimento de inveja. Além do que acabei de contar em linhas anteriores e mostrar em e-mails de que eu somente enviei um artigo sobre o caso Trindade ao editor por ele justamente ter me convidado semanas antes para publicar em sua própria revista sobre o episódio, semanas após o artigo já ter sido veiculado no site, o próprio Gevaerd estava insistentemente atrás de mim me pedindo via e-mail privado para que eu enviasse a ele aquele mesmo artigo para ser publicado também na sua revista impressa.

Porém, ele não queria que sua revista de banca publicasse as exatas mesmas palavras, então me pediu que eu modificasse um pouco a minha redação daquele artigo do site e o enviasse a ele para ser publicado na sua revista. Um dos e-mails:

Minha resposta? Dei uma desculpa e neguei. Dias depois ele continuou insistindo para que eu reeditasse o texto e enviasse a ele, mas novamente neguei. Ele ficou frustrado com minha decisão:

Em seguida eu o convenci a não publicar na revista, informando que seu público não tinha interesse em trabalhos que colocassem essas histórias em xeque, então seria melhor que não soubessem, mas que eu continuaria publicando no meu site. Convencido, me agradeceu.

Ou seja, ao contrário do que esse cidadão mentirosamente me acusou, é o próprio editor que estava insistentemente me pedindo, até de forma desesperada, que enviasse a ele meu artigo pra ser publicado na sua revista de banca. Como não tive interesse em reeditar a redação, não dei a mínima importância em meu artigo ser publicado na revista impressa e posteriormente convenci a não o fazer, não enviei, e assim não foi publicado.

Uma aguda dor de cotovelo

Depois que publiquei em 06 de maio de 2011 os documentos oficiais sobre o caso Ilha da Trindade, que estavam enterrados no meio militar há mais de meio século e que obtive pessoalmente quando estive na Marinha, acabou gerando uma aguda dor de cotovelo nestas pessoas.

Ao terminar de ler esse artigo que trazia estes documentos disponíveis livremente para download, um dos coeditores da revista UFO — que não vale a pena nem mencionar seu nome aqui — com o peito estufado enviou esbaforidos e-mails para listas de discussão dizendo que era ele quem estava em busca destes documentos faz tempo.

Porém, até aquela data ele não havia obtido nem uma traça daqueles documentos oficiais que obtive. Por eu ter descoberto algo que eles estavam tentando obter e parecia ser o sentido e bálsamo de suas vidas, com visível frustração por eu os ter encontrado, já começou a me atacar nestes mesmos e-mails, dizendo que eu estava agora em conluio com céticos do mal.

De onde nasceu isto na cabeça dessas pessoas eu não sei, mas foi o gancho para um desparafusado promotor da conspiração Marco Petit mencionar em seu artigo três meses depois que eu estava em conluio com pessoas más que não gostam de discos voadores com o objetivo de destruir o caso Trindade. É de uma paranoia pantagruélica. Que terrível complô mundial para negar os discos voadores eu estava envolvido! Até me assusto comigo mesmo.

Daí já dá pra saber de onde também fervilhou a cólera dessas pessoas passarem posteriormente a me atacar. Há também inveja por trás.

Falsas descobertas em Marte

Enquanto eu estava escrevendo meu artigo de resposta sobre o caso Trindade ao Marco Petit, eu resolvi puxar o histórico dele. Eu não acompanho seu trabalho na ufologia. Assim, tomei conhecimento que ele peregrina por aí alegando que fez inúmeras descobertas no planeta Marte, de ruínas de civilizações antigas até gigantescos campos de vida vegetal em pleno deserto árido daquele planeta, sem contar de “provas” que ele disse ter de que há marcianos ajudando nossas missões espaciais que lá aportam.

O rapaz parecia uma espécie de boneca russa de calças das descobertas no planeta Marte. Quando eu via que ele tinha “descoberto” algo, havia mais outra, mais outra e mais outra. Se essas descobertas marcianas fossem verdadeiras, ele merecia adentrar o panteão dos maiores cientistas do planeta.

Cético de que ele possa ter feito alguma legítima descoberta em Marte, fui analisar melhor esse material e vi que a coisa era o que esperava: um festival de abobrinhas. De fato, ele não descobriu nem um palito de dente alienígena em Marte.

A paranoia conspiratória era tão grande que ele consegue enxergar uma ação alienígena até mesmo nas rotineiras ações dos rovers Spirit e Opportunity. Assim, disse ter localizado no solo marciano uma espécie de objeto manufaturado por mãos marcianas em um formato que lembra um CD de música. Sem conhecer como funciona os rovers, o tal “CD” era apenas uma marca circular no solo deixada pelo próprio espectrômetro desses robôs ao inspecionar as rochas e o solo de Marte.

Outra alegação conspiratória era de uma fotografia que ele afirmava mostrar no solo marciano estruturas artificiais em série construídas por inteligências marcianas, como habitações ou algo do tipo, cuja real natureza dizia ser escondida de nós pelos ‘cientistas maus’ das agências espaciais. E as tais “estruturas” são apenas inofensivas e banais dunas de areia, algo que qualquer ginasiano conhece.

Em outra infundada alegação conspiratória dizia ter localizado ruínas de um fabuloso achado arqueológico de uma antiga civilização marciana. As tais “ruínas” são apenas banais artefatos digitais de uma imagem gerada em perspectiva; elas não existem fisicamente lá em Marte. Ele levou essas três “descobertas” para mostrar em rede nacional de televisão no programa do Jô Soares como seu case de sucesso.

Já em outra alegação conspiratória, por exemplo, havia dito ter localizado no alto de um cânion marciano uma gigantesca nave alienígena. A tal “nave” era apenas uma formação geológica.

Mas o pior foi quando descobri que ele havia publicado na revista UFO em 2008, em artigo de capa, ter feito uma revolucionária descoberta, algo que milhares de cientistas ao redor do mundo que dedicam suas vidas e carreiras à astronomia ainda não haviam descoberto até hoje: gigantescos campos de vida vegetal em Marte na atualidade!

Na realidade, a cor verde presente nessas fotografias era apenas uma cor falsa, não tendo absolutamente relação nenhuma com a presença de vida. Cores falsas são usadas à exaustão na astronomia com o objetivo de, por exemplo, destacar regiões em estudo. Um desses gigantescos “campos de vida vegetal” que analisei era, na verdade, uma região composta principalmente por basalto, ou seja, apenas rochas.

Artigo de Marco Petit na revista UFO. Falsa descoberta de vida em Marte

Pois bem, eu escrevi alguns artigos desmistificando essas e outras pataquadas marcianas e os utilizei no meu artigo de resposta a ele sobre o caso Ilha da Trindade, o já citado “Caso Ilha da Trindade: o que não querem que você saiba”. Meu objetivo era, entre outros lá tratados, mostrar como as pessoas podem enxergar aparições de discos voadores e atividade alienígena onde, na verdade, não há.

Nada melhor do que trabalhar minha tese naquele artigo usando o próprio material dele de exemplo. Ou seja, esses artigos sobre Marte são textos de resposta. Eles foram publicados no mesmo dia e ao mesmo tempo que o artigo principal sobre Trindade. Eles são como anexos deste texto e são citados nele.

No entanto, ao me aprofundar neste material vendido por ele e constatar que o nível de absurdos era tão bizarro, o objetivo inicial se expandiu. Eu achava que também devia alertar às pessoas que esse cidadão que anda por aí comercializando essa presepada, fantasiado de autoridade, tem apresentado descobertas em Marte que não são reais. Assim, sumarizei todas elas e acrescentei mais algumas em outro artigo chamado “10 falsas descobertas em Marte vendidas por Marco Antonio Petit. Saiba a verdade sobre elas e não seja iludido”.

Igualmente, foi publicado ao mesmo tempo, no mesmo dia, e também o menciono naquele artigo principal sobre Trindade com o objetivo de trabalhar em outra parte do texto. Como ele esconde do seu público este meu texto de resposta do caso Trindade, ele desconecta as pontas pra que as pessoas interpretem de outra forma, como se eu fosse seu fã que estivesse querendo chamar sua atenção.

Ao desmistificar essas acusações conspiratórias e as substituir pela real explicação científica, demonstrando como rematavam elucidações bem naturais, evidentemente ele não rebateu o que tratei. Ao contrário, continuou endossando e promovendo todas essas descobertas fakes.

Ele fisgou minha isca, pois mesmo escancarando e comprovando que ele não descobriu vida vegetal em Marte na atualidade por meio de fotografias, ele continua endossando que fez esta revolucionária descoberta por meio dessas imagens.

Essa reação mostra em paralelo qual é o seu real compromisso com os fatos quando o assunto das fotografias são os alegados discos voadores. Sim, a pessoa que prega discurso de compromisso com a verdade na apuração de fotos de “discos voadores” é a mesma pessoa que está promovendo um arsenal de falsas descobertas em fotografias marcianas.

Mas essa reação eu já esperava. Longe de serem cientistas ou mesmo astrônomos amadores que adotam a ciência como bússola e estão em busca de descobrir algo legítimo no Planeta Vermelho, Marco Antônio Petit é um negacionista da ciência, um conspiracionista. Quando alguém nega o conhecimento científico, substitui o que enxerga por uma visão mágica de mundo.

Esse material promovido por ele é motivo de piada e chacota em qualquer meio sério da astronomia, mas é um material de alta excelência para ser veiculado na revista UFO como prova inequívoca da presença de alienígenas e suas máquinas voadoras — publicação em que ele é coeditor. Essa patuscada conspiratória inaugurou uma das páginas mais vexatórias e infames da ufologia no Brasil, contribuindo para desmoralizar esse campo de pesquisa perante a sociedade.

Um ídolo sem fã

Depois de um tempo, fui alertado por conhecidos de que Marco Petit estava novamente me insultando em outra edição da revista UFO, porém desta nova feita sem a coragem de citar-me nominalmente. Em sua bazófia, o cidadão estava como que cobrando de mim uma resposta ao seu texto sobre o caso Trindade publicado na revista. (Suas reações destemperadas demonstraram como alguns elementos que colocaram alguns pontos do caso Trindade mais uma vez em xeque o deixaram transtornado.)

Pois bem, como já mencionei aqui, eu escrevi um artigo de resposta a ele sobre o caso Ilha da Trindade, com quase 70 páginas. Bancando seu ar de infinita superioridade, ele agora fingiu ao seu público que não lembrava mais de quem eu era e se colocou como uma espécie de vítima de bala perdida. Aquele indivíduo que estava me fustigando e como que cobrando de mim uma resposta, agora havia sido acometido de uma conveniente amnésia.

Porém, o mais caricato ainda está por vir. Depois que publiquei ao mesmo tempo aqueles meus artigos desmontando falsas descobertas dele em Marte, essas suas “perícias” de fotografias marcianas o deixaram em estado de descrédito, e vejo ter lhe causando marcas de decepção.

Como o seu público pagante começou a lhe questionar por constatar que o que ele promovia era tão real quanto as estorinhas do Penadinho da Turma da Mônica, sem ambiente e sem escapatória pra rebater com respaldo científico — justamente por que aquelas que refutei são realmente falsas descobertas —, o que lhe sobrou foi fugir pela tangente em um misdirection e forjar uma versão de resposta.

O melhor que conseguiu foi inventar que eu era seu admirador em busca de sua atenção. Minha nossa, vejam o cenário aqui: o sujeito faz uma crítica ao meu trabalho sobre o caso Trindade, mas como eu não o respondi imediatamente, ele volta a me atacar na revista, me insulta, e cobra minha resposta sobre o caso Trindade; quando eu publico minha resposta à suas críticas, ele tapeia seu público dizendo que eu havia escrito estes textos direcionados a ele por ser seu fã querendo sua atenção.

Se esse rapaz não me contasse que eu era seu fã, eu não ia saber. Não o conheço pessoalmente, nunca assisti a uma palestra sua e nem li algum livro seu. Se eu for contar os artigos que havia lido dele na revista UFO, antes dele aparecer na minha frente, deve caber nos dedos de uma única mão. Ele anda mal de fãs.

Para mostrar que eu era seu admirador, ele buscou pelo seu nome em meu site e localizou uma matéria minha do ano de 2005, chamada “O suicídio do capitão Uyrangê Hollanda da Operação Prato”, onde eu criticava com ironia um rumor vindo de obscuros guetos conspiratórios da ufologia que alegavam que o conhecido coronel Hollanda da Operação Prato não havia cometido suicídio — como declarava a versão oficial —, mas sim de que teria sido assassinado por uma espécie de ação de MIBs Tupinambás com a intenção de calá-lo.

Na matéria eu faço menção de passagem a um texto escrito por ele que eu havia lido na revista UFO, em que concordei com sua defesa de que o militar Hollanda havia sim desistido de sua própria vida, pois não havia elementos concretos que indicassem o contrário. Talvez seja a única exposição em sua vida em que não apelou para loucas teorias da conspiração para explicar alguma coisa. Pelo menos nesta história nós concordamos em uma mesma conclusão. Nós podemos concordar com algo e discordar em outros, simples assim!

No entanto, como ele fez uma busca pelo seu nome no meu site, o sistema automaticamente retorna outro artigo datado de 2004, onde eu também o cito de passagem — e isto encerrava tudo que havia de seu nome escrito por mim no meu site antes de ele aparecer na minha frente. Nesta matéria eu tratava sobre os arquivos do governo acerca do tema dos UFOs e menciono en passant que eu discordava frontalmente das conclusões de um texto sobre este tema publicado por ele na revista UFO naquele mesmo ano.

É claro que, intencionalmente, ele “esqueceu” de apresentar essa matéria de 2004 a seu público na sua postagem de resposta a mim, como fez com a anterior, justamente porque ela é diametralmente oposta ao comportamento de alguém que seja seu fã, já que é uma crítica.

As vísceras de um sistema de crenças

Eu sequer pedi a opinião de Marco Petit sobre uma única vírgula deste meu artigo de 2011 sobre o caso Trindade, nem muito menos o contatei pedindo ajuda ou coisa alguma do gênero. Eu não o conheço e nem tenho nenhum contato com o mesmo. Deixe-me contar aqui o que aconteceu.

Quando enviei meu artigo com a entrevista com a testemunha do sobrinho por e-mail em privado unicamente ao Gevaerd — por ele justamente ter me convidado para publicar sobre o caso Trindade na sua revista semanas antes —, me respondeu e colocou outras pessoas em cópia para lerem meu artigo — uma delas era Petit. Ele queria saber a opinião dessas pessoas sobre o texto e sobre o depoimento daquela nova testemunha. Não eu, eu não pedi a opinião de ninguém. Mas, tudo bem, sem problemas! O debate é válido.

O depoimento da testemunha desagradou alguns ufólogos. Gevaerd queria que seu coeditor Petit fizesse uma apuração do depoimento da testemunha, levantando seus próprios questionamentos e ajuizamentos acerca dela.

Estavam julgando que eu não teria feito todas as perguntas, que deixei passar outras por supostamente não ter conhecimento ou que somente presencialmente é que valeria, pois o havia contatado por telefone, como toda a impressa mundial — aliás, informação que sempre esteve e está escancaradamente descrita em meu artigo original, logo nas primeiras linhas. Ela nunca esteve oculta dos leitores e nem muito menos foi revelada posteriormente.

Por ser o autor do artigo que desagradou sobremaneira alguns, o que eu fiz foi me colocar à disposição para acompanhar, caso desejassem, a qualquer pessoa que quisesse encontrar a testemunha, inclusive o Petit, pra fazer seus próprios inquirimentos e julgamento. Essa seria a oportunidade para aqueles que me criticavam achando que não fiz um bom trabalho pudessem fazer melhor do que eu, realizando seus próprios inquirimentos que o satisfizessem e assim tirariam suas conclusões.

Passado um tempo, o editor contou pra mim que Petit estava tiririca da vida porque mais essa testemunha havia aparecido no cenário alegando ter ouvido uma confissão de Baraúna de que as fotografias eram uma montagem. Isso o teria remoído de forma carnal.

A imagem que Gevaerd desenhou da pessoa do Petit em e-mails privados a mim e por meio de um telefonema era de que ele era uma espécie de fanboy do fotógrafo Baraúna, tendo crescido desde adolescente ouvindo falar sobre a história do caso Ilha da Trindade. Nós vemos que a consequência disso enraizou em si uma devoção bem messiânica a este episódio. Essa imagem fica bem clara ao vermos suas reações, insultando todos aqueles que discordem de uma única palavra da versão contada pelo réu do episódio, o fotógrafo.

Ao longo dos dias o editor contou pra mim de que estava tentando de todas as formas convencer o Petit a ir encontrar com a testemunha para que ele fizesse seus próprios questionamentos, mas que por ser um grande admirador do fotógrafo Baraúna se negou peremptoriamente. (Vou ocultar o nome da outra pessoa em cópia, e suas iniciais no corpo do texto, por não estar envolvida nessa confusão, além de recortar aqui apenas o início desse e-mail referente a ele):

Enfim, é o próprio editor que estava atrás dele. Não eu. O que eu fiz, repito, por ser o autor do artigo que desagradou alguns foi me colocar à disposição de todos, inclusive nominalmente dele, pra acompanhar a quem quisesse ir fazer seus próprios questionamentos. Se eu não fiz as perguntas certas, então vão lá e façam melhor do que eu.

Ele está se aproveitando da minha boa vontade e cortesia de ter me colocado à disposição das pessoas. Eu não pedi nada a ele. Porém eu devo dizer que, como descrevi neste meu artigo sobre o caso Trindade de quase 70 páginas, mostrando seu conhecimento bem limitado da história e alheio as investigações revisionistas que aconteciam, ele não teria condições de fazer perguntas melhores daquelas que eu fiz.

Enfim, o real motivo contado a mim por seu editor não tinha relação alguma comigo. A questão era consigo mesmo, com suas mais profundas vísceras de seu sistema de crenças a respeito dessa história, enraizados desde sua adolescência. Ele somente queria ouvir testemunhos que narrem aquilo que ele quer ouvir, exclusivamente algo favorável e concordante com aquilo que Baraúna lhe contou.

Os testemunhos desfavoráveis ele corre como o diabo da cruz. Quando você entra em uma pesquisa com a intenção exclusiva de chancelar seu viés de confirmação em todos aspectos da história, isto não pode ser chamado de uma investigação. Enfim, eu estou lidando aqui com um fã do fotógrafo, e um fã não questiona seu ídolo, o idolatra.

De fato, quem já viu essa entrevista dele de 1997 constatará que é praticamente um monólogo do fotógrafo, assistida passivamente por ele. Não fez uma única pergunta que o colocasse contra a parede, e jamais faria isso. É uma entrevista de um fã com seu ídolo; além, é claro, visando ganhar dinheiro — e eu fui um comprador dela.

Ao contrário, na oportunidade em 2003 que tive de conversar com a outra testemunha que estava no navio da Marinha, o Amilar Filho, eu coloquei algumas perguntas que eram as críticas da época, tanto que o título do artigo foi nesse sentido: “Entrevista com Amilar Vieira Filho: 45 anos depois, testemunha do avistamento do OVNI sobre a Ilha da Trindade comenta sobre as críticas ao caso”.

Eu continuo considerando um depoimento sincero e honesto ao contar que viu algo no céu. Quando este artigo foi veiculado no site da revista UFO em 2008, Marco Petit não apareceu na minha frente com seus insultos. Por quê? Claro, por ser um testemunho favorável, ele justamente fortalecia seu sistema de crenças, a aquilo que ele queria ouvir.

Pra finalizar eu devo dizer que não estamos tratando aqui de algo ordinário do nosso dia a dia, como a falsificação de documentos públicos ou da clonagem de cartões de crédito — crimes que levariam ao encarceramento.

Estamos tratando da veracidade ou não de fotos de supostas máquinas voadoras oriundas de outras civilizações do cosmos, que igualmente a fotos de espíritos, de Pés-Grande ou de Monstros do Lago Ness são assuntos que jamais foram comprovados até hoje pela ciência, estando em aberto ao debate científico. O papel da ciência é justamente questionar as evidências. Porém, com que eu estou lidando aqui? Justamente com um negacionista da ciência, um conspiracionista.


Veiculado em 29 de novembro de 2020.

Alexandre de Carvalho Borges
Físico pela Universidade de Franca, Analista de Tecnologia da Informação pela Universidade Católica do Salvador, pós-graduado em Ensino de Astronomia pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Ensino de Física pela Universidade Cruzeiro do Sul, pós-graduado em Perícia Forense de Áudio e Imagem pelo Centro Universitário Uninorte, pós-graduado em Inteligência Artificial em Serviços de Saúde pela Faculdade Unyleya, pós-graduado em Tradução e Interpretação de Textos em Língua Inglesa pela Universidade de Uberaba, e fotógrafo.

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