(Crédito: Freepik)

Por Alan Veríssimo Azambuja

 

Reproduzido neste site com a permissão do autor.

 

Algumas técnicas especiais introduzidas pelo autor em experiências com o Fenômeno das Vozes Eletrônicas (EVP) afetam profundamente as gravações e a escuta de “vozes do Além”. Neste trabalho, encontram-se detalhadamente descritas as experiências e o estudo do próprio autor sobre os importantes efeitos obtidos que ocorrem “alheios à vontade exclusiva dos espíritos, entidades, anjos ou ETs”.

Na parte final deste mesmo trabalho, são apresentadas algumas reflexões que se sintetizam em uma pergunta: será que daquilo que poderia ser um simples e curioso fenômeno de ilusionismo psicoacústico — ou até mesmo  eventuais mensagens dos habitantes de “outros planos” —, não poderemos extrair preciosos dados que nos colocarão mais próximos da criação de uma tecnologia tão revolucionária que, além de nos revelar todos os mecanismos mais íntimos da mente humana, nos permitirá conquistar a tão sonhada comunicação universal, sem limites de qualquer espécie?

Introdução

Quando tomei a decisão de me dedicar a pesquisa das “vozes do Além”, resolvi tomar por base a simples realidade do fenômeno conhecido como EVP (Electronic Voice Phenomenon), sem levar muito em consideração os pressupostos da sobrevivência individual após a morte, nem o da possível iniciativa de extraterrestres tentando contato conosco por meios tecnológicos, e tampouco o que tenta explicar o EVP como uma espécie de efeito provocado pela mente de quem está operando um gravador.

Para mim, o simples fato de serem várias as teorias existentes que pretendem explicar o EVP — e a afirmação de uma parece sempre implicar na negação de outra — já foi motivo suficiente para tentar-se um caminho próprio para a observação objetiva que, sem dúvida, o assunto merece.

Apesar de eu defender o ceticismo, quando este tem sua função exclusiva de simples instrumento do pensamento humano para a busca da verdade, sempre me pareceu uma grande tolice negar a gritante possibilidade da existência de planos “espirituais” habitados por inteligências incorpóreas. Há muito tempo que já se descobriu que a Terra não é o centro absoluto do Universo.

Bilhões de dólares são investidos na tentativa de se estabelecer contato com inteligências extraterrestres. Por outro lado, é imenso o universo das possibilidades da mente humana que a psicologia cada vez mais nos apresenta, revelando surpreendentes aspectos da infinita capacidade criativa daquilo que costumamos chamar, grosso modo, de “nosso inconsciente” — individual ou coletivo —, se é que é possível estabelecer uma fronteira rígida entre estes.

Minha visão religiosa pessoal não comporta a crença em “bons” e “maus” espíritos. Tenho a convicção de que todo ser humano, em sua forma mais depurada, é originalmente bom, e desde que tenha condições — em especial as psicológicas — exercerá sua bondade onde estiver.

Não aceito muito bem a ideia de que uma pessoa morra, abandonando seu corpo, seu cérebro, e assim mesmo possa transportar consigo para o “outro plano” as suas neuroses, seus anseios, suas paixões, seus ressentimentos, sua memória, os seus apegos — se é tão comum uma pessoa que tem seu cérebro deteriorado em vida, por doença ou velhice, de repente não reconheça mais sequer os parentes ou amigos que ama.

À parte do mundo das doenças mentais, com seus numerosos casos de múltipla personalidade, compulsões, ausências, obsessões, etc., façamos algumas considerações sobre aquele mecanismo natural de descarga psíquica, que é o sonho.

Neste, as impressões fixadas em nossa mente, sejam causadas por pessoas vivas ou já falecidas, ganham uma espécie de vida própria dentro de roteiros imaginários e pessoais, porém absolutamente reais enquanto estamos dormindo. Mas, lembremo-nos que o enredo dos “filmes” dos quais participamos enquanto sonhamos pode ser afetado até por aquilo que comemos antes de dormir.

Enquanto acordados, vivemos o nosso dia a dia em uma relação direta com o mundo paralelo da nossa prodigiosa ficção. Todos os personagens que inventamos, muitas vezes apenas para a nossa diversão, participam bem concretamente na formação das nossas personalidades.

Além de tentarmos imitar os nossos heróis, convivemos dia e noite com a presença “interna” daqueles com os quais nos relacionamos diretamente — vivos ou mortos — que atuam em nossas vidas como verdadeiras entidades vivas dentro de nossas cabeças: são os “outros” agindo em nossas mentes. É bastante conhecido o que pode chegar-se a sofrer pela ação destes nossos verdadeiros monstros particulares. Não creio ser um exagero afirmar que vivemos mergulhados em um complexo mundo de fantasmas.

Certa ocasião, tive a oportunidade de experimentar — durante os meses em que vivenciei o que, em princípio, julgo ser parte do processo natural de individuação — um estado de consciência bastante expandida que me demonstrou claramente que passamos a maior parte do tempo de nossas vidas como verdadeiros “zumbis”, à mercê de nossas necessidades e sentimentos; verdadeiros escravos dos nossos hormônios, do “Sistema” e da nossa história, confinados a uma consciência bastante limitada do projeto desta aventura cósmica que partilhamos e chamamos vida.

Desta limitação de consciência advém, certamente, a preocupação com o nosso destino após a morte. Somente quando estamos “despertos” dentro de um estado chamado consciência cósmica — ocasião em que temos o vislumbre da própria natureza como um organismo inteiro — é que a preocupação com a sobrevivência da alma individual desaparece inteiramente.

Então a própria perspectiva de uma dissolução do ego ou aquilo que entendemos como “personalidade” em um ego muito maior e mais geral já não nos assusta mais, pois fica muito nítida a visão de que a nossa condição de indivíduos separados, com durações limitadas, faz parte de um plano geral tão bem cuidado (e tão anterior a nós mesmos) que não temos mais como — nem porquê — nos preocuparmos tanto com o que virá depois da morte.

A fé (ou a falta desta) cede lugar a uma espécie de “sentimento/atitude” de certeza em tudo; é aquela segurança que se readquire a partir do momento em que nos permitimos, neste especial e raro momento de total liberdade de espírito, revivenciar na fase adulta aquele estado de “integração interna” que fomos nós, um dia, enquanto praticamente recém nascidos.

Ora, se cada vez mais constatamos, por diversos caminhos, o caráter ilusório das diferenças e distâncias entre as individualidades, mais claramente se delineia a gigantesca teia de comunicação que liga, de alguma forma, todas as formas e seres.

Tanto a contemplação mística quanto a Física mais “acadêmica” nos têm proporcionado a mesma visão globalizante que nos permite ver o verdadeiro tecido cósmico que compõe aquela unidade da qual sempre ouvimos falar — mas que dificilmente sentimos como realidade, enquanto acordados apenas em nosso estado de vigília “normal”.

A visão da unidade é um dos grandes “insights” (senão o maior) da fase contemplativa da experiência mística que ocorre por ocasião de um estado excepcional de integração interior do indivíduo. É o momento em que ele vivencia, pela primeira vez, a realidade holística do universo que o “cerca” — ou melhor, o permeia. É aquela súbita e chocante constatação, na primeira fase do contato direto com o nível da realidade mais absoluta, que cada um de nós é uma “xerox” do todo.

E é assim contemplando, impassível, o imenso oceano das incessantes transformações que são a infinidade dos eventos que sempre estão, de alguma forma, ligados entre si, que a perspectiva de comunicação entre “mortos” e “vivos” se mostra muito mais viável do que a ideia da morte como uma extinção total de uma pessoa que contém em si própria — mesmo que não o perceba sempre — toda a programação da natureza.

O EVP (Electronic Voice Phenomenon) nos tem sinalizado gritantemente que, no mínimo, existe mais vida no plano do “invisível” do que toda a nossa instrumentação científica, filosófica, intuitiva e mediúnica nos tem apresentado. Se nem sempre as vozes são claras, ou as interpretações das mensagens variam de ouvinte para ouvinte, não importa tanto: o fato é que o fenômeno é real, e ocorre independentemente das convicções religiosas de quem se propõe a escutá-las.

Diante disso, procurei me concentrar na preparação de experiências utilizando recursos técnicos que pudessem afetar “fisicamente” o EVP. Desta forma, observando como o fenômeno varia em seu comportamento, eu poderia obter indicações que possibilitassem uma melhor compreensão sobre os fatores envolvidos na sua ocorrência.

Fui altamente recompensado, apesar do método por mim escolhido para a coleta de “vozes” ter o seu lado ingrato: as “minhas” vozes são quase imperceptíveis ao ouvido não treinado, encobertas que são pelo ruído branco que introduzo no gravador com o propósito de fornecer “material” para que o EVP ocorra.

Mas o simples fato de ter eliminado o microfone das gravações, não utilizar receptores de rádio e utilizar um ruído gerado por um circuito eletrônico — que funciona a bateria e tem um nível de sinal que requer a mínima sensibilidade dos equipamentos envolvidos nas gravações — já me trouxe uma das maiores recompensas que um pesquisador das “vozes do Além” pode pretender: a quase total garantia de que as “vozes” gravadas são, no mínimo, paranormais.

Além disso, uma das curiosidades que verifiquei no desenrolar da pesquisa, é que as algumas “vozes” gravadas pareceram, em muitas ocasiões, terem contribuído ativa e inteligentemente para o desenvolvimento das experiências… com elas próprias!

Neste pequeno estudo, tento apresentar da forma mais detalhada possível, algumas observações e o método que venho utilizando para as experiências com o EVP. A técnica da utilização do ruído branco injetado diretamente no tape deck, através da mesa processadora de sinais de áudio, não constitui um sistema prático, em si mesmo, para comunicações com o “Além”. No entanto, creio ser um instrumento bastante seguro para a observação e o estudo do fenômeno das “vozes”.

Algumas experiências armadas trouxeram resultados que me parecem bastante significativos; acredito que forneçam alguns elementos que, nas mãos de outros colegas pesquisadores mais pacientes e com melhor preparo para lidar com o assunto do que eu, poderão ajudar de algum modo na elaboração de novas técnicas e circuitos de aparelhos que venham tornar mais fácil a tão desejada melhor comunicação entre todos aqueles que, em última análise, vivos ou mortos, daqui ou do “Além”, somos nós mesmos.

Sugestão para controle da autenticidade das audições

Embora o método do ruído branco ofereça algumas vantagens para a obtenção das “vozes” e sua observação, infelizmente poucas pessoas possuem um grau de acuidade auditiva para perceber o fenômeno e ainda entender o conteúdo das falas.

Na maior parte das ocasiões em que eu quis mostrar as minhas gravações para meus amigos e interessados nas experiências com as “vozes do Além”, não foram poucas as ocasiões em que me senti bastante constrangido: houve até quem atribuísse a mim “dons paranormais” que sei que não possuo. Felizmente, algumas pessoas, até mesmo “materialistas incrédulos assumidos” — mas que possuem ouvidos sensíveis — conseguiram ouvir e entender as “minhas vozes”.

Sugiro, então, para maior segurança em uma pesquisa em grupo, o seguinte procedimento para eliminar dúvidas quanto a “existência” das vozes gravadas:

1 — Realizar gravações diárias com vários ouvintes durante uns 15 dias até que naturalmente se destaque um “ouvinte” capaz de ouvir as “vozes” e, pelo menos, encontrar sua interpretação para as “mensagens”.

2 — Uma vez eleito o “ouvinte”, realizar a seguinte experiência:

a) gravar 20 minutos de fita pelo método do ruído branco, mantendo o mesmo padrão de regulagem da aparelhagem durante todo tempo.

b) durante a reprodução, caso seja um “bom dia ou noite para a gravação das vozes”, sem que o ouvinte veja o marcador ou contador de voltas do gravador, assinalar em um papel os pontos da fita em que o EVP ocorreu e o teor das “mensagens” segundo informação exclusiva do “ouvinte”. Este deverá fazer sua escuta exclusiva através de headphones, sem a menor comunicação com os outros participantes.

c) com o auxílio de outro tape deck, os outros participantes devem proceder a edição dos EVPs. Isolar estes em segmentos com a duração de cerca de 10 segundos, mantendo as “vozes” no meio do trecho isolado (com o auxílio do contador de voltas) e copiar cada um destes trechos — sem equalizar e tomando cuidado para que nenhuma manipulação possa dar “sinais” de identificação das gravações que não sejam exclusivamente o teor das mensagens escutadas pelo “ouvinte”.

Usar tantas fitas novas, idênticas e virgens quanto for o número de EVPs obtidos. É importante que cada gravação tenha seu início no mesmo ponto inicial das fitas, e rigorosamente a mesma duração. É preciso muito cuidado com os deslocamentos naturais da numeração fornecida pelo tape counter dos tape decks, para evitar erros. Toda contagem deve proceder sempre do início determinado pela limitação mecânica do início de cada fita, inclusive o da fita “base” de 20 minutos.

d) de posse de tantas fitas quanto os EVPs, proceder a escuta e identificação destes pelo “ouvinte”, embaralhando a ordem e registrando os acertos e as identificações, utilizando-se o método estatístico, análogo ao utilizado nas avaliações feitas com o auxílio do baralho “Zener” nas investigações parapsicológicas. Caso haja um único erro nas identificações, procurar outro “ouvinte” de “vozes do Além”.

Equipamentos

Os equipamentos utilizados para as experiências são os seguintes:

1- Mesa processadora de sinais (Yamaha mod. MQ 802)
2- Tape deck cassete (Akay HX-R 44)
3- Gerador de ruído branco (ver esquema)
4- Headphones (Magnavox 8 ohms.)
5- Analog Delay (MXR mod. 118)
6- Inversor de fase (ver esquema)

Este equipamento possui 8 canais de entrada, com equalizadores do tipo 4-way por canal, e dois canais principais de saída (masters) que possuem equalizadores gráficos de 9 bandas, que processam o sinal de saída que, no sistema que emprego, está ligado diretamente nas entradas line-in do tape deck.

A monitoração através de headphones é obtida de uma saída estéreo com controle de volume independente, mas com a mesma equalização do sinal das saídas “master”. A variação de volume do sinal nos headphones não afeta o nível de sinal introduzido no tape deck, durante as gravações.

O sinal injetado em um canal de entrada pode ser endereçado, através de um controle chamado pan-pot, para ambos os “masters” de saída, ou exclusivamente para apenas um destes. Isto possibilita, por exemplo, gravar um sinal mono nas duas pistas da fita, utilizando-se apenas de um canal de entrada da mesa e endereçando o mesmo sinal para as duas entradas do gravador estéreo.

O mesmo recurso é utilizado para a audição de apenas uma das pistas gravadas em ambos canais do headphone. As saídas do tape deck ocupam dois canais de entrada, endereçados respectivamente para os canais left e right da saída da mesa para os headphones. Pode se endereçar, com os controles PAN, o sinal da pista left para o fone right e vice-versa, e cada pista gravada para ambos os lados do headphone, ouvindo-se, assim, no “centro de audição” o sinal de apenas uma das pistas da gravação.

As primeiras experiências

Existe um consenso, entre aqueles que se dedicam ao estudo do EVP, de que é necessário a introdução de ruídos ambientais nas gravações para a obtenção das “vozes”. Mas o fato de eu morar em uma rua bastante barulhenta, e num edifício com vizinhos bastante numerosos, conduziu-me bem rápido à decisão de eliminar definitivamente a utilização de qualquer tipo de microfone em minhas gravações.

Eu temia que, por mais “convincentes” que fossem as mensagens que eu pudesse vir a gravar, sempre pairaria um resquício de dúvida com relação a procedência das “vozes”. Assim, por via das dúvidas, evitei também a utilização de qualquer dispositivo capaz de detectar ondas de rádio, levando em conta a incontrolável “poluição eletromagnética” resultante das incontáveis fontes de irradiação radiofônica que formam um verdadeiro “mar de transmissões” no qual vivemos submersos.

Minha primeira tentativa de introduzir no tape deck diretamente tons de áudio, situados dentro da faixa de frequências correspondentes ao espectro da fala humana, foi através da utilização de um pequeno sintetizador Casiotone MT-100, com o registro “clarinet” acionado, para a emissão de tons contínuos enquanto apertadas as teclas.

Porém, o som assim obtido, com 10 teclas próximas acionadas simultaneamente, faz lembrar muito aquela música incidental utilizada pelas produções cinematográficas de filmes de terror! Então, por “razões emocionais”, e também pela dificuldade de fixar a atenção em outra coisa que não sejam os próprios tons gravados, resolvi desistir deste método. Resolvi optar pelo ruído branco como fonte de tons aleatórios, virtualmente “rico” em frequências e cujo som final é uniforme, indefinido e até relaxante.

Evitando as fontes “naturais” de RB, tais como chuva, cachoeiras ou espaços vagos da faixa de transmissões radiofônicas, que poderiam permitir a intrusão de interferências “locais”, decidi montar um gerador de RB cujo esquema e modos de conexão ao sistema de gravação apresento abaixo:

Depois de muitas horas de audição de fitas gravadas com o ruído branco, eu já estava certo de que tinha eliminado todas as possibilidades para que as “vozes” se manifestassem. Passadas duas semanas de incontáveis gravações, eu já estava prestes a desistir das experiências com as “vozes” que não apareciam nunca.

Mas é naquela inesquecível noite — que seria a última dedicada àquelas gravações “inúteis” — que de repente, em um determinado ponto da fita que eu acabara de gravar, encontro “algo estranho”. Uma coisa diferente no meio daquele chiado monótono.

Não era defeito na fita, nem mau contato nos fios de conexão dos equipamentos. Foram poucas as repetições necessárias daquele trecho da fita para que eu compreendesse o que aquela voz masculina dizia com a maior serenidade: “Pronto para gravar”.

Após dois dias em que me abstive das gravações, enquanto eu tentava me recuperar do choque emocional causado pela perspectiva de ter, em minha casa, a companhia de pessoas invisíveis ou sem corpo — o que pode ser muito desejável para as pesquisas, mas também é muito constrangedor! —, voltei as gravações procurando, com o auxílio dos recursos de equalização disponíveis, obter maior clareza das “vozes” que começaram a se colocar na quantidade média de quatro por minuto de gravação.

Logo no início da fase farta de obtenção das “vozes”, dediquei-me ao registro sistemático das ocorrências, detalhando data, hora, tipo de fita, interpretação das “mensagens” etc. Mas o trabalho de computação para fins estatísticos toma um certo tempo e exige aptidões que não possuo. Minha curiosidade era cada vez maior; eu tinha que descobrir por onde e como entravam aquelas vozes.

Existe uma tendência bastante natural, por parte de todos aqueles que se envolvem na pesquisa do EVP, em focalizar a atenção nos gravadores, atribuindo-se a estes qualidades “misteriosas” que, supostamente, seriam responsáveis diretas pelo favorecimento ao fenômeno. Haveria alguma relação direta entre os “espíritos” e o processo que envolve magnetismo para a impressão das fitas?

Ou será que o sinal de BIAS — que é uma “onda” eletromagnética análoga as empregadas em radiodifusão, produzida por um circuito interno existente em todos os gravadores — teria uma espécie de penetração em alguma “dimensão do espaço habitado pelas entidades”?

Dois procedimentos básicos para fazer as gravações com o ruído branco me trouxeram respostas suficientes para que eu não procurasse mais no gravador (de forma isolada) a solução do enigmático modus operandi das “vozes”:

      1 – Introduzir o sinal do gerador de RB em um canal da mesa, e repartir este sinal com o pan-pot no centro, permitindo assim que o mesmo sinal se endereçasse em ambos os “masters” de saída, e assim também a ambas as entradas do tape deck. Os EVPs obtidos verificam-se, igualmente, nas duas pistas da fita cassete gravada.

2 – Introduzindo o sinal do gerador de RB previamente repartido — por meio de cabo em “Y” — em dois canais de entrada da mesa, com seus pan-pots virados respectivamente para os lados “L” e “R”, de modo que eu pudesse, fechando um dos “masters”, gravar exclusivamente uma só pista de gravação.

O tape deck é estéreo, o que quer dizer que, mesmo que o sinal de áudio esteja sendo injetado em apenas um dos canais, o processo de gravação no tape deck é acionado simultaneamente para os dois canais. Através deste procedimento, o EVP só se verifica na pista de gravação onde houve introdução do RB. Os mesmos resultados foram obtidos com a introdução do sinal de RB diretamente no tape deck, sem passar pela mesa. Isto também exclui a própria mesa como “canal de entrada” exclusivo para as “vozes”.

Estes resultados demonstram que o gravador registra o EVP obedecendo as mesmas “regras” para gravações “normais”. Passei a tomá-lo como o simples instrumento de registro de um fenômeno elétrico de sempre — já que estamos processando sinais de áudio em sua forma “elétrica”. Daí em diante, me concentrei mais em analisar o EVP como um fenômeno ligado mais ao ruído do que as partes que compõem o sistema de escuta.

É bom lembrar que o gravador não discrimina o que “quer” gravar. Qualquer sinal elétrico — quer provenha de seu microfone embutido (que é o seu “ouvido”), ou de outra fonte externa que introduza nele um sinal suficiente para afetar sua condição interna de equilíbrio elétrico — resulta em um registro fiel as variações de estabilidade na fita. Durante a reprodução, o gravador possibilita a audição do sinal gravado com intensidade muito superior à da ocasião em que este sinal se manifestara originalmente.

Além disso, é óbvio, o gravador permite a repetição, indefinidas vezes, do sinal que pretende extrair uma informação. Estas duas funções, a amplificação e a facilidade de repetir-se aquilo que foi gravado, permite que possamos detectar ocorrências físicas, tais como sinais eletroacústicos portadores de informação que não percebemos apenas com nossos ouvidos.

Embora nos possa parecer, à primeira vista, uma perda de tempo relembrar aqui as qualidades óbvias que determinam a serventia dos gravadores, estes dados terão sua importância quando, posteriormente, estivermos estudando as relações entre o EVP e os nossos processos perceptivos.

Foram estas considerações que me estimularam a tentar a compreensão do processo através do qual o EVP ocorre por outros caminhos. Não faltavam “vozes” nas minhas gravações, apesar de raramente poder-se conseguir entender o teor de suas mensagens senão a custo de numerosas repetições. Para tornar um pouco mais confortável as audições, passei a transpor para outro tape deck idêntico, cerca de 15 repetições do trecho gravado no primeiro gravador onde eu havia “isolado” um EVP.

Assim, eu formava na fita do segundo tape deck sequências de trechos gravados com o mesmo EVP, com a duração aproximada de cinco segundos para cada segmento de repetição, com um intervalo de silêncio curto entre eles.

Por este sistema, a duração dos intervalos corresponde ao tempo necessário para retroceder o trecho da fita do primeiro gravador, onde já se tenha detectado um EVP, até o ponto cerca de três segundos antes da manifestação da “voz”. Em seguida, “solta-se” novamente a fita base do primeiro gravador, enquanto o segundo “corre” continuamente, na posição de gravar.

Uma das vantagens de proceder assim a escuta do mesmo EVP sem o esforço de ter que operar o tape deck para cada repetição, é a facilidade com que se observa a crescente clarificação das “vozes” na medida em que se vai chegando ao final da sequência. É o mecanismo auditivo, a nível cerebral, em que as redes neurais de memória parecem alinhar-se em uma espécie de procedimento de definição de contorno por redundância de informação.

Falando ainda sobre a transposição do conteúdo da fita utilizada nas gravações com o primeiro tape deck — fita esta que denomino “base” — para a segunda fita com as repetições (que apelidei de “arquivo”), uma das vantagens da transposição é que, mediante a utilização de dois tape decks, pode-se, durante as transposições, operar-se com os equalizadores na tentativa de obter-se maior clareza das “vozes”. Mas o efeito dos equalizadores, bem como variações no nível de intensidade do sinal na gravação ou na escuta, não resulta em grandes alterações favoráveis para a clareza das “vozes”.

É uma situação semelhante àquela em que se quer entender o trecho ou uma palavra da letra de uma música que se pretende “tirar”, para executá-la cantando e tocando violão. Somente depois de ouvir diversas vezes aquele pedaço da música é que, de repente, como se fosse num lampejo de intuição, entende-se aquilo que se mostrava ininteligível.

Esta semelhança de situações em que se quer “isolar” um determinado conteúdo de uma gravação — o que parece uma tarefa impossível, dada a irreversibilidade da “mixagem” daquilo que já foi gravado na fita “master” ou no disco — me fez deixar de lado as tentativas de melhorar o som por meio de equalizadores. Qualquer atuação de enfatização ou atenuação em uma faixa de frequências se opera igualmente no sinal que se pretende destacar, quanto no ruído indesejável.

Uma outra possibilidade que se anunciava como recurso de eliminação do ruído branco excedente, seria empregar um inversor de fase que, “algebricamente”, poderia eliminar o próprio ruído gerado depois que este sofresse as supostas modulações por parte dos agentes do EVP. Assim, obter-se-ia na “saída” desta armadilha, um sinal diferencial que seria nada menos do que as “vozes” sem o ruído. Tal recurso, talvez por ser um tanto “apelativo” demais, não funcionou.

O RB é de fato cancelado, porém as “vozes” também o são. Mas como todo fracasso tem a sua utilidade, este não fugiu à regra, deixando patente o fato de que não existe um “ponto” definido dentro do sistema de gravação por onde as “vozes” entram ou deixam de entrar. Tudo começa a indicar que o fenômeno se dá por uma conjunção geral de fatores não necessariamente circunscritos a ordem exclusiva dos aparelhos eletrônicos.

A experiência com dois geradores

Passados uns cinco meses desde o começo da pesquisa com o EVP, já com razoável “estoque de vozes” — sempre muito baixas, para meu desespero e preocupação dos meus amigos com relação a minha sanidade mental —, eu já tinha esgotado todos os meus recursos de equalização na tentativa de melhorar o som.

Suprimir agudos para diminuir o chiado implica em piorar a inteligibilidade das “vozes”. Reforçar médios da faixa da fala humana resulta em aumento da parte mais desagradável do ruído branco. Eu começava a desconfiar da sanidade mental dos poucos amigos que conseguiam escutar alguma voz nas gravações. Como sair desta situação?

Os primeiros caminhos a seguir na tentativa de descobrir como as “vozes” são transmitidas do “Além”, conduzem aos métodos clássicos de transmissão de informações em nossa radiodifusão. Seriam as “vozes” transmitidas em AM ou FM?  Ou tratar-se-á de algum tipo de modulação de portadoras por um processo de “deslocamento de fase”?

A análise da forma de onda do ruído branco através de um osciloscópio é impossível. Não se define uma forma de onda; as imagens obtidas representam um verdadeiro emaranhado de ondas que mudam de forma aleatoriamente. As vozes gravadas, simplesmente, não aparecem na tela do osciloscópio. Menos ainda, aparece qualquer indicação visível sobre o processo de “modulação”.

Encontrar e estabelecer analogias é a base do nosso processo criativo. Ora, se o ruído branco é análogo a luz branca, as dificuldades da escuta do EVP pelo processo do RB correspondem a dificuldade de se ler um cartaz branco escrito com letras brancas! E este foi o ponto de partida para uma linha de raciocínio que foi ao encontro de paralelos entre as gravações e imaginários slides fotográficos em preto-e-branco com imperceptível contraste.

O que é que pode ser feito para melhorar o contraste da imagem projetada de um slide fotográfico que, irreversivelmente, possui contraste quase nenhum? Se eu tenho várias cópias idênticas do mesmo slide, posso tentar superposicioná-los dentro da maior coincidência dos contornos possível, e talvez assim obter, durante a projeção, uma imagem mais definida.

Assim, o ruído branco corresponderia a uma iluminação necessária para se tirar uma boa fotografia. Aumentar a intensidade de uma única fonte de ruído sugere cometer o erro em tentar fotografar alguma coisa contra um foco de luz intensa demais. Então, por que não mixar os sinais de diversos geradores de ruído branco idênticos e injetar o somatório na entrada do gravador, abrindo, assim, o “campo da iluminação”?

Embora eu já pressentisse uma certa inconsistência nestas analogias, construí, em uma tarde, dois geradores idênticos, alimentados pela mesma bateria e encerrados dentro da mesma caixa metálica, para prevenir que algum fator eletromagnético externo pudesse provocar alguma diferença indesejável entre os sinais produzidos.

Efetuados os testes preliminares de funcionamento dos novos geradores de ruído branco, conectei-os, respectivamente, nos canais de entrada n. 7 e 8 da mesa, endereçando cada sinal para cada um dos “masters” de saída, com o auxílio dos “pan-pots”. Desta forma, eu estaria operando com os dois sinais no modo “estéreo”, o que “psicoacusticamente” resultaria em uma espécie de “abertura” do campo de escuta.

E assim, quando ocorresse o EVP, naturalmente em ambas pistas de gravação, eu poderia tentar um melhor ajustamento da “superposição dos slides mal contrastados” que eu tinha imaginado, deslocando para o centro os “pan-pots”, durante a reprodução da fita gravada, obtendo assim (quem sabe?) a tão desejada melhora de contorno das vozes na escuta simultânea dos canais L e R da fita gravada.

Quando me pus a escutar o primeiro minuto de gravação, empregando este sistema, não foram necessários mais do que uns poucos instantes para que eu, subitamente, me desvencilhasse dos fones e caísse prostrado no sofá mais próximo, absolutamente estarrecido e pasmo, diante de um fato para o qual eu não estava preparado: haviam “vozes” em uma das pistas da fita, e outras vozes (outras palavras, outros significados) na outra pista da mesma fita! (ver gráficos em anexo)

Ora, se o ruído branco é “aleatório”, que tipo de diferença poderá existir entre os dois sinais “aleatórios” gerados independentemente, que possa produzir EVPs diferentes quanto ao timbre, teor das mensagens e localizações diversas na mesma fita que teve seus dois canais gravados ao mesmo tempo?

É fácil estabelecer uma analogia entre o ruído branco e a luz branca. Conceitualmente, a soma de todos os sons correspondendo a soma de todas as cores. Mas, levando-se em conta que a luz branca “contém” todas as cores, lembremo-nos que existem padrões imutáveis nas relações entre estas: o amarelo com o azul sempre resultará em verde. Então, a relação entre os sons inclusos no ruído branco deverá obedecer a esquemas harmônicos determinados, o que é óbvio.

O que nos é, ainda, imprevisível é o momento em que se estabelece determinada configuração dos impulsos elétricos (que se traduzem, posteriormente, em som). Mas já sabemos que o ruído branco, tal qual a luz branca, é um sinal “aleatório” somente em alguns termos.

Tudo parece indicar que o RB contém em si “alguma coisa”; uma combinação organizada de impulsos que, em dado instante, “permite” a ocorrência do EVP. Talvez um determinado acorde formado por algumas frequências; talvez a frequência de um misterioso acorde seja a chave de mais uma porta para o “plano espiritual”.

Os “slides” que eu tinha imaginado eram, na verdade, imagens completamente diferentes cuja sobreposição apenas tornava pior a “visibilidade” de cada uma. Realmente, foi o que verifiquei exaustivamente nas inúmeras gravações que realizei pelo “método dos dois geradores”.

Apesar da vantagem econômica — eu podia gravar dois minutos de “vozes” ao custo de um minuto de fita cassete! — a audibilidade se mantinha a mesma de sempre, agravando-se mais ainda as dificuldades de audição quando eu “juntava” os dois canais, com o auxílio dos “pan-pots”.

Não cheguei a quantificar estatisticamente o “agravamento” da dificuldade de escuta quando se “mixa” os dois canais, pois o processo de percepção das “vozes”, além de imensurável (ao menos com os meus recursos) é sujeito a variáveis subjetivas, tais como humor, disposição física, etc.

Mas a não coincidência das impressões estampadas em cada pista, no que se refere a localização dos EVPs ao longo das fitas, diferenças de timbre, conteúdos informacionais, e até a musicalidade das frases — não tenho a menor dúvida quanto a objetividade destes fenômenos.

Delay

O dispositivo natural de “paralisação” do tempo é a retenção de eventos através de um processo dinâmico que chamamos memória. Seria impossível reconhecermos um ritmo, e até mesmo um tom, se fôssemos destituídos de memória. Todos os impulsos de uma sequência de estímulos oriundos do ritmo cadenciado de um tambor, por exemplo, seriam sempre “primeiros”. Portanto, a “base de tempo” sobre a qual repousam as nossas vidas é a… memória.

Eu me absorvia bastante nestas divagações, tentando equacionar o mecanismo mental que “amplifica” um sinal, ou melhor, consegue isolar o conteúdo informacional de uma transmissão carregada de ruídos, através das repetições. É o que parece acontecer quando escutamos várias vezes o mesmo trecho da gravação onde está o débil EVP. Não adianta aumentar o volume, só a repetição é que nos proporciona a maior certeza daquilo que entendemos, como em quase tudo na vida.

Ora, existe um pequeno “gravador instantâneo” que utilizamos em engenharia de som, para diversos efeitos: reverberação, eco, e retardo do som (enquanto na forma de sinal elétrico). É o delay. Obtém-se na saída deste dispositivo eletrônico, o mesmo sinal de áudio que for aplicado em sua entrada, praticamente sem distorções, mas ligeiramente atrasado “no tempo”. Este atraso é da ordem de frações de segundo, e regulável através de um controle.

Ligando-se o gerador de ruído na entrada de um delay, podemos colher dois sinais do mesmo ruído, porém levemente defasados “no tempo”. Portanto, diferentes, de alguma forma. Nas experiências com dois geradores, eu tinha sido surpreendido pelas “vozes” diferentes nos diferentes canais da mesma fita. O grande mistério a ser desvendado era “o quanto” e o “em que” seriam diferentes os dois sinais que me pareciam idênticos, produzidos pelos dois geradores idênticos.

Peguei um velho delay analógico MXR, que possui uma saída exclusiva do sinal retardado, e em sua entrada conectei a saída de um gerador de ruído. Desta mesma conexão fiz uma derivação para introduzir o sinal do gerador diretamente em um dos canais de entrada da mesa processadora de sinais. A saída do delay (a exclusiva, por onde sai somente o sinal retardado) conectei em outro canal de entrada da mesa. Assim, eu poderia aplicar o sinal do gerador diretamente no canal “L” do tape deck, e o sinal retardado no canal “R”.

O primeiro efeito que observei, gratamente surpreendido, é que, mesmo antes de comandar o tape deck para gravar, eu já pude ouvir nos fones uma espécie de clamor “coletivo”, uma verdadeira multidão de pessoas falando em voz baixa, numa espécie de saguão fechado. O ruído de fundo — o ruído branco — parecia uma chuva que, como seria esperado, tinha seu som “reverberante”, devido ao efeito de “eco” produzido pelo delay.

O segundo efeito é a sensível clarificação das “vozes”, como se estas se destacassem do ruído de fundo o suficiente para a escuta muito mais confortável para mim, e permitindo que um número maior de pessoas passasse a escutar aquilo que, sem o “delay”, julgavam ser apenas as vozes da minha imaginação!

Mas é o efeito que assinalarei a seguir que, se devidamente observado em novas investigações (espero que os colegas pesquisadores do EVP se entusiasmem em repetir esta experiência), nos trará um dado facilmente conversível em parâmetros que, uma vez equacionados, constituirão a base de um bom projeto de equipamento específico para a Transcomunicação Instrumental: além de muito mais numerosas e claras, as “vozes” gravadas  — ao contrário do que acontece com o próprio ruído branco introduzido — soam sem eco, sem reverberação e “no meio da cabeça” de quem está escutando com os fones!

Observando resultados

Alguns efeitos verificados nas experiências que descrevi neste pequeno estudo parecem-me bastante úteis para compreender alguma coisa a mais sobre a “mecânica” do Fenômeno das Vozes Eletrônicas (EVP). Eis algumas observações que considero bem importantes:

1 — O EVP ocorre mesmo que não se utilize qualquer meio de captação usual para transmissões sonoras ou radiofônicas.

2 — O EVP somente se observa nos canais de gravação em que for introduzido o ruído branco. No caso das experiências aqui relatadas, o ruído branco é gerado eletronicamente (agitação térmica em junção semicondutora) por um aparelho específico para este fim, e não captado de nenhuma fonte “natural” ou pré-existente.

3 — Fontes distintas de ruído branco “produzem” EVPs diferentes em distintos canais da mesma fita de gravação. Estas diferenças notam-se pela ordem de ocorrência, pelo conteúdo informacional, timbre e entonação das “vozes” registradas.

4 — A introdução do delay afeta a audibilidade das “vozes” para melhor, clarificando e atuando como fator de multiplicação quantitativa dos EVPs, que passam a ocorrer com uma constância tal que temos a sensação — durante as audições das fitas e até mesmo nos momentos em que se monitora as gravações enquanto estão sendo realizadas — de que todo o nosso centro de percepção auditiva é deslocado para uma espécie de “plano psíquico geral”, habitado por inteligências autônomas que parecem manipular qualidades tonais de voz humana selecionadas e subtraídas do ruído branco, como forma de estabelecer sua comunicação conosco.

5 — O fato de que as “vozes” não são afetadas “temporalmente” pela atuação do delay — pois não se notam os efeitos psicoacústicos de reverberação ou eco que se verificariam caso fossem introduzidos sinais de áudio com vozes “normais” na entrada do mesmo delay, mesmo ajustado com a mesma regulagem — também indica que a escuta de vozes ultrafônicas implica em um processo de percepção auditiva especial, isto é, fora dos padrões em que se processa aquilo que conhecemos como audição normal.

Algumas características das “vozes” obtidas com o ruído branco e o delay mantém-se fiéis a alguns padrões fixados pelas experiências de vários pesquisadores em diversas partes do mundo que empregam outros métodos de escuta de “vozes”: as “mensagens” duram aproximadamente três segundos, algumas “vozes” parecem emitidas por robots, outras por mulheres, homens e crianças.

Algumas “mensagens” são indecifráveis, outras são muito claras e pertinentes, e algumas, nas nossas gravações, parecem emitidas por entidades típicas que se manifestam nos rituais de correntes espiritualistas que conhecemos como “umbanda”.

Outras, que soam um tanto “mecânicas”, nos dão nítida impressão de que são emitidas por sistemas computadorizados de extrema sofisticação, sugerindo um tipo de operação que envolveria nossos sistemas tecnológicos, nossa energia psíquica e até códigos linguísticos embutidos em nossas mentes, sinalizando o que poderia ser uma forma especial de aproximação empregada por extraterrestres.

6 — O ruído branco é uma massa uniforme de impulsos aleatórios capaz de estimular as redes neuronais que processam informações fornecidas pelo aparelho auditivo. Como o ruído branco em si mesmo não contém predominâncias de qualquer ordem, sendo assim informacionalmente “neutro”, é razoável considerarmos a possibilidade de que sua audição faça com que se evidenciem, em algum “lugar” da mente, as figuras psíquicas que emprestam o sentido individual às informações que nos chegam por meios auditivos “normais”.

Estas figuras destacadas poderiam alinhar-se em configurações mutáveis e este movimento de substituição se constituiria em uma especial estrutura dinâmica de recepção ativa. Talvez isto possa significar, dentro de uma ótica “espiritualista”, que o ruído branco envolvido nas gravações sirva para nós como veículo de transporte para o “Plano Astral”.

Esboçando uma teoria

Não é meu propósito através deste trabalho tecer comentários sobre “quem falou”, ou “o que disseram as vozes”. Há bastante tempo que estas vêm se manifestando em diversas partes do mundo, nas experiências de centenas de pesquisadores e estudiosos que empregam os métodos mais diversos para lidar com este estranho fenômeno. Não faltam relatos e mais relatos, das mais variadas fontes, sobre comunicações até bilaterais com os habitantes do “Além”.

Também tenho gravadas as minhas experiências pessoais de comunicação com entidades inteligentes que “disseram” coisas absolutamente pertinentes a mim e ao momento das minhas experiências.

Todavia, por mais verdadeiros que sejam relatos e honestas as minhas próprias gravações, a modernidade e a mentalidade científica do nosso tempo exigem muito mais do que gravações e o testemunho de médiuns, sensitivos e envolvidos em geral, para validar a nível de fato científico este fenômeno que se reveste inevitavelmente de aspectos exobiológicos, psicológicos, paranormais, e principalmente, do “transcendental” que diz respeito a comunicações com pessoas já falecidas.

As próprias gravações deixam de ser “prova”, na medida em que equívocos podem ser cometidos por leigos em eletrônica, áudio e telecomunicações, além do fato de que até um garoto com um mínimo de habilidade, pode forjar “vozes do Além”.

Quanto as “confirmações científicas” por vias mediúnicas, sabemos que os médiuns sempre serão “suspeitos”, dada a subjetividade implícita em suas funções, bem como (dentro da nossa cultura) quem dispõe de tempo para se dedicar a comunicação com o “Além” também é “suspeito”. Poderá até angariar alguma simpatia, entre os que, igualmente, “devem ter um parafuso a menos em suas cabeças”; mas de modo geral, as pessoas ainda apontam, aos risos, aquele louco que está tentando inventar uma máquina para falar com os defuntos.

Somente a reprodução de experiências controladas em laboratórios apropriados poderá gerar o volume necessário de comprovações para que se mobilizem os meios que elevarão o aspecto “transcendental” do EVP ao “status” de realidade científica.

Argumentos lógicos em favor da ideia de sobrevivência após a morte existem na mesma proporção dos argumentos que negam esta possibilidade. É precipitado considerar o EVP em si mesmo como prova cabal da sobrevivência do “espírito” após a morte, pois não há certeza sobre quais “fantoches” — habitantes costumeiros das nossas mentes — poderiam ser animados pelos próprios fatores envolvidos nas experiências com as “vozes”. Não temos certeza sequer de quantos e quais são, exatamente, estes fatores.

Mesmo eliminadas todas as possibilidades de interferências “locais” ou “físicas”, que poderiam ser as causas verdadeiras dos (falsos) EVPs, não existem ainda — pelo menos de forma acessível a todos que se dedicam a pesquisa do EVP — métodos garantidos para se controlar a atividade psíquica inconsciente dos participantes.

Devemos levar em conta que programamos, mesmo involuntariamente, o nosso subconsciente até para levantarmos sem despertador no dia seguinte. E, infelizmente, quem acredita incondicionalmente em espíritos ou tem muita necessidade emocional de comunicar-se com parentes ou amigos já falecidos, dificilmente se dá ao trabalho de se aprofundar demais no estudo da “truqueologia” da mente humana — talvez por medo de sofrer uma grande desilusão. E como, mais do que a simples persistência, “a fé remove montanhas”.

Por outro lado, o mesmo ceticismo que não aceita a origem espiritual ou extraterrestre do fenômeno das vozes ultrafônicas — o que torna o EVP “desinteressante” para muitos — não deve fazer com que fechemos nossos olhos a um fato muito interessante: não existem barreiras muito definidas entre os “inconscientes” dos indivíduos e o “inconsciente coletivo”!

Ora, é fato bastante conhecido de que os indivíduos afetam o coletivo tanto quanto este afeta aos indivíduos, dentro de uma ação contínua e recíproca. Portanto, não teríamos aí uma promissora indicação da existência de canais de comunicação que poderiam conduzir a ação das mais diversas inteligências — “encarnadas” ou não —, já que o “inconsciente coletivo” não possui nenhum cérebro gigante separadamente situado em nenhum lugar?

Mas, quais serão os limites, as fronteiras e as dimensões desta entidade “coletiva”? Até que ponto seremos realmente isolados uns dos outros? E até que ponto este “inconsciente coletivo” estaria confinado aos limites do nosso planeta, mesmo quando um indivíduo consegue se relacionar, por algum “caminho”, até com uma estrela distante que já não existe mais há milênios?

A luz estelar deste exemplo — cuja fonte já se extinguira muito antes —, bem como o homem que a contemplou, fez um poema e depois morreu — constituem um acontecimento singular que, de alguma forma, não se perde jamais nos tempos.

Se refletirmos sobre a atemporalidade das representações, símbolos, significados e outros tantos elementos que formam o oceano de dados que o nosso psiquismo percorre, concluiremos que existe um imenso registro geral “em algum lugar” que agrega tudo, e que o acesso a esta gigantesca memória é obtido pela atuação dinâmica do nosso “eu” inteligente, que opera com maior ou menor liberdade em mais variados estados de consciência. Milenares correntes místicas se referem a um “registro akáshico”.

A atuação da inteligência se opera em distintas bases de tempo. Este é um fato facilmente verificável na natureza, se a nossa conceituação sobre “inteligência” for aberta o suficiente para admiti-la onde não se verificam as atividades daquilo que entendemos como raciocínio.

Se fazemos algumas concessões na questão das formas de vida mais ou menos “inteligentes”, e nos permitimos a uma maior visão de conjunto, percebemos imediatamente que o acaso existe somente na medida do que desconhecemos. Pressentimos, em diversas ocasiões, uma única inteligência universal atuando até nos menores aspectos da natureza.

A própria ecologia demonstra-nos cada vez mais esta “base única”: sistemas que nos pareciam completamente desconexos, revelam-se ligados por relações de interdependência para as quais estivemos cegos por muito tempo. E é pela observação desta espécie de convergência em direção a unidade que começamos a vislumbrar, de forma mais científica, um princípio unificador que antecede, regula, agrega e estabelece linhas de comunicação entre todos os eventos.

Nos níveis mais interiores de cada indivíduo se encontram elementos pertencentes a ordens tanto mais gerais quanto for a profundidade do “nível interior” que se colocar em evidência — quando determinadas condições assim o favorecem e/ou exigem.

Na trajetória rumo a essência do ser individual vislumbramos melhor os traços, sentimentos, tendências, instintos, etc., comuns a todos, e ultrapassando o “tipicamente humano”, vamos também encontrar uma infinidade de traços de união com as espécies viventes mais elementares e “diferentes” de nós. É exatamente dos níveis mais “essenciais” do indivíduo que vem as forças maiores que impulsionam e amoldam o ser individual que faz parte e afeta, de diversas formas, a sua “coletividade”, portanto outros indivíduos.

Tentemos visualizar, então, caminhos de “mão dupla” entre os “inconscientes”: é bastante concebível que, de alguma forma e em algum “lugar” se exerce uma intensa atividade de transmigração informacional. Um intenso tráfego de informações que se ajustam seguindo leis naturais de compatibilidade, obedientes a uma “lógica” irretocável e dentro de um contexto de espaço/tempo “anterior” ao das manifestações físicas.

Parece, nesta “região”, configurar-se a existência de uma linha de cruzamento de subplanos temporais organizados para uma conveniente separação entre mente e matéria, e neste ponto situar-se-ia o centro do nosso próprio sentido de observação da ligação e disparidade entre os fenômenos que se individuam em elementos concretos para nós.

Ali residiria o núcleo em torno do qual se desenvolve a nossa vida psíquica. As ferramentas deste “sentido de observação” seriam nossas primordiais referências de tempo e espaço, formadores da nossa base de tempo subjetivo que sabemos ser variável segundo alterações até do nosso estado de consciência.

Assim, neste plano livre de limites de tempo e de espaço, onde também o imaginário e o “real” não se isolam em fronteiras muito definidas, encontramo-nos diante de um imenso manancial de possibilidades onde cada movimento possui apenas uma carga informacional que é “Um”. Um o quê? Um “algo”, que se definirá em “alguma coisa” pelas condições do contexto onde estiver envolvido. Nesta redutibilidade repousa toda informática.

Mas isto indica, sobretudo, que nas relações entre as partes é que vamos encontrar o sentido de cada parte; e deste princípio advém o conceito que se resume no sentido maior da palavra “comunicação”. Neste plano, onde o grande denominador a tudo é a infinita possibilidade de tudo ser tudo — onde o ser parece depender mais de como pode ser visto do que possa se fazer ver — a diferença entre quem fala e quem ouve, quem transmite ou quem recebe, e até mesmo quem seja quem, ainda é irrelevante.

Verificamos que diferenciações somente se consolidam em planos mais superficiais de expressão. O “onde” e o “quando” parecem derivações de um princípio único; de uma referência absoluta. O que acontece — se observado desta referência — são apenas eventos, nós somos eventos; um fenômeno de comunicação (reação a desintegração) é um evento (acontecimento) que surge e desaparece no plano formal.

Ora, se é verdade que em um eixo que conecta planos temporais apoia-se nosso próprio sentido de perceber a “simultaneidade” entre eventos, e do desdobramento desta capacidade resultam os nossos referenciais próprios de tempo e de espaço, e somente em níveis superficiais se sustenta a concretude de tudo, então a possibilidade da comunicação entre individualidades inteligentes “separadas” e espalhadas pelos confins do Universo é, não só inteiramente plausível, como já é, sem dúvida, estabelecida; pois em nível tão primordial esta comunicação “básica” não poderia estar determinada por limitações físicas (então) secundárias; sendo regulada, natural e exclusivamente, pelas determinações harmônicas que regem o entrelaçamento de estruturas afins em qualquer plano (o amarelo com azul é verde em qualquer ponto do Universo, a universalidade da música é um fato etc.).

Em nível mental, isto se demonstra — como exemplo — pela própria coerência; por aquela “lógica” irretocável e automática das associações de ideias que compõem um fluxo de pensamento que sempre possuirá aspectos de “universalidade”, independentemente do nível de consciência e o local onde que o “pensante” se encontre.

A partir disto é quase que inevitável a concepção de um sistema tecnológico de comunicações sem limites, onde não houvesse transferência de energia, pois esta poderia ser fornecida, convenientemente, até pela própria extremidade de “recepção” dos extremos comunicantes.

No caso das nossas experiências, o ruído branco, que é informacionalmente neutro em termos de conteúdos linguísticos — parece atuar como agente liberador de energia psíquica e formador de uma rede dinâmica de captação de figuras psíquicas que se encontram harmonicamente entrelaçadas e onipresentes no plano do atemporal.

Sabemos que a raiz do processo psíquico chamado “inteligência” é um continuo “ligue-os-pontos” que desenha constelações aglutinando aspectos semelhantes. É a ação primeira da perpétua tentativa de se organizar o caos, na velha luta contra o acaso.

A manutenção da ordem já conquistada envolve memória e a mesma energia que impele a busca instintual de autopreservação dos sistemas vivos. Estes, atuando entre si e os outros, e ainda sobre sistemas inanimados, tentam adaptar — na medida do que permitem os seus níveis evolutivos já conquistados — o meio ambiente às suas necessidades.

Mas o que regula a “automatização” crescente nos processos de manutenção dos sistemas é, basicamente, a contínua e aprimorada relação harmônica entre seus movimentos, o que resulta em economia de energia. Esta “otimização harmônica interna” conhecemos como integridade daquilo que se manifesta, ou seja, daquilo que se tornou observável, tanto no plano mental quanto no físico.

Assim, quanto mais harmônica for a relação entre as partes de um sistema vivo, melhor individuado é este sistema, mais econômico e, portanto, mais apto a enfrentar o caos. Mas o importante a observar agora é que quanto mais evoluído é um sistema vivo, menos “muscular” e mais “cerebral” tende a ser o seu esforço pela sobrevivência.

A automatização não é invenção nossa. A velha natureza, sempre econômica e prodigiosa, já havia elaborado a técnica de transformar em instinto todas as funções que “deram certo”. Hoje somos mentes controlando mentes. Então, tomemos alguns postulados que combinados (ao menos em nossa imaginação!) parecem favorecer a real possibilidade de que inteligências literalmente desprovidas de cérebro possam assim mesmo se comunicarem conosco:

1 — A universalidade das leis harmônicas.

2 — Nenhuma informação se perde no Universo.

3 — O fato de que um processo psíquico — tal qual a dinâmica mental que elabora os sinais provenientes dos nossos sentidos e/ou da nossa própria mente — não possui massa, portanto não é sujeita a limites de tempo/espaço do plano físico. O pensamento, tal qual um conceito ou música, não tem peso e, portanto, teria alcance ilimitado.

4 — A busca da unidade é um princípio universal que atua em diversos planos (reação contra a fragmentação, neguentropia, reação holística e, obviamente, o amor) e que se verifica tanto na tendência química para formação de sistemas fechados como na busca de comunicação entre seres vivos e naturalmente afins. É a própria inteligência universal buscando a unidade através de seu contínuo movimento de síntese.

Em um plano onde entidades inteligentes pudessem operar livremente, exercendo a plenitude de seu livre arbítrio, a comunicação destas conosco poderia estar sujeita apenas a condições passageiras de “afinidade” entre suas identidades (individuações) e as condições ambientais “nossas”, que são composições de oportunidade e coincidência emprestando sentido a todos os eventos. A sinalização destas “condições ambientais” deve ser exatamente aquilo que nós sentimos e compreendemos como emoção, e em linguagem esotérica nos referimos como o “astral” de um determinado momento.

Considerando a mecânica da correspondência direta que existe entre certas situações típicas e a qualidade dos sentimentos envolvidos — assim como estes também são despertados em conformidade com esquemas harmônicos que fazem parte da música, nos provocando a lembrança de situações determinadas e vice-versa —, talvez possamos explicar a grande incidência de frases tão melodiosas como se fossem propositalmente musicadas, muito comuns nas audições do EVP.

A percepção de que percebemos aquilo que nossos sentidos percebem é, certamente, um atributo exclusivo da vida consciente do ser humano que, como espécie vivente, impõe-se em alto grau de servização, ou seja, servindo-se de outros sistemas, escravizando outras espécies e arranjando o meio ambiente de forma tal que seu esforço seja cada vez mais “mental” e menos “muscular”.

Dentro de uma escala evolutiva, o que caracteriza a superioridade de uma espécie é o grau de servização em que se opera a sua luta pela sobrevivência, como observa Albert Ducrocq em seu livro Lógica da Vida (Companhia Editora Nacional, 1958). Somos, em consequência disto, sustentados — e massacrados — pela inevitável complexidade da nossa vida mental. Hoje temos uma relação utilitária com os nossos cérebros como nossos avós tinham com seus pés, mãos e ferramentas.

Atualmente já cuidamos de nossas mentes como nossos pais tratavam de seus cérebros; hoje nossa inteligência funciona em seu nível mais elevado, quando lidamos com nossas emoções e sentimentos de modo racional na velha busca obstinada pela consciência coletiva — que, certamente, nos assegurará a grande harmonia pela qual todos suspiramos.

Mas o que é que isto tem a ver com as “vozes”? A resposta é simples: inteligências de planetas muito mais adiantados do que o nosso poderiam, através de um processo ainda um tanto obscuro para nós, afetar diretamente os nossos centros de percepção “interna”, apropriando-se dos nossos próprios conteúdos mentais, dos registros dos nossos próprios padrões linguísticos e tonais de voz humana,  servindo-se até da energia de nossas emoções, empregando nossa própria energia psíquica “local” desviada de suas aplicações “normais” e tornada disponível através do ruído aleatório que introduzimos em nossas cabeças por nossos ouvidos. Sem dúvida, este processo está bem a altura do grau de servização que podemos esperar dos ETs!

Não é novidade a especulação de que todos os cérebros seriam células nervosas de um cérebro maior. Se nós somos um grande computador biológico, somos também a sua memória única. O nosso ato isolado de gravar silêncio (todo silêncio tem um fundo de ruído “branco”) ou o ruído branco gerado artificialmente, acrescentado pela concentrada expectativa emocionada de obter-se alguma comunicação (mais a persistência e a “fé”) poderiam  constituir a “máquina perfeita” a serviço não somente das inteligências distantes, bem como das imateriais — os “espíritos desencarnados” — que segundo o que se sabe através da prática do espiritismo, inúmeras vezes “servizam” pessoas inteiras (médiuns) para se comunicarem com os “vivos”.

Talvez entidades desmaterializadas possam, se assim o desejam, provocar por algum meio um desequilíbrio controlado em alguma estrutura harmônica à qual estejam submetidas todas as partes do Universo; como se tangessem transversalmente as cordas do imenso encordoamento das linhas invisíveis de ligações causais (causa e efeito), modulando o nosso sentido de percepção harmônica musical — que é uma capacidade nossa de apreciar relações “transversais” entre tons emitidos e percebidos ao mesmo tempo — compondo frases com o nosso abecedário “interno” e a ajuda do nosso teclado emocional.

Assim, nem barreiras idiomáticas poderiam impedir esta “transcomunicação”. Estruturas fonéticas ou linguísticas são figurações representativas que determinam coisas, ações e situações já conhecidas, experimentadas e, portanto, universais — porém secundárias em sua origem. Isto explicaria a tão peculiar sintaxe frequentemente observada nas gravações das “vozes”, tão sintéticas e musicais. Sem dúvida, tão sofisticada “mecânica” também representa servização em grande estilo!

O que confere significado a uma mensagem recebida são os conteúdos pré-existentes na memória individual e que constituem a nossa âncora no plano da realidade consensual. Nas gravações em que conjugamos o delay com o gerador de ruído branco (que virtualmente não carrega nenhuma mensagem consigo, pois é “aleatório”) parece ocorrer alteração bem radical do processo perceptivo que normalmente nos proporciona a sensação de eco (que também é um modo de assinalar uma redundância de mensagem, portanto envolvendo um tipo específico de atuação da nossa memória).

Daí, a importância maior que merece o efeito de cancelamento do “eco” nas experiências com o delay neste estudo, pois a inclusão deste dispositivo que afeta nossa relação perceptiva do tempo (a nível de audição normal) faz com que este mesmo processo perceptivo passe a se operar, aparentemente, em “outra dimensão”. É até muito comum encontrar, nas gravações de EVP, “vozes” tão rápidas que só entendemos o sentido das palavras ou mensagens quando as escutamos com a metade da velocidade durante a reprodução.

Talvez as inteligências livres das limitações da matéria tenham, por esta condição de liberdade, um excedente de energia que permita esta rapidez, indicando também a possibilidade de que algum núcleo de percepção nossa se coloque (durante as gravações) em alguma especial relação angular com a “linha de cruzamento dos planos temporais” a que me referi anteriormente.

Creio ser bastante interessante promoverem-se mais investigações nesta notável, estranha e significativa relação entre um aparelho que afeta o “tempo” — o time delay — e o fenômeno das “vozes” que tanto envolve a nossa própria busca de eternidade.

Conclusão

O fenômeno das vozes eletrônicas é real e ocorre quando uma conjunção de fatores reais o permite. Atribuir suas causas exclusivamente ao “sobrenatural” e esperar de braços cruzados que os “espíritos” e os “ETs” nos apresentem todas as respostas, é nos colocarmos cientificamente de volta na Idade da Pedra.

O sobrenatural nada mais é do que um aspecto da natureza que não dominamos ainda; é preciso ousar por caminhos lógicos se quisermos lidar tecnicamente com o fenômeno. Se não agimos assim, corremos o risco de nos enredarmos na gigantesca teia das ilusões e mistificações, e isso acarretará em lamentável retrocesso na busca do que poderá ser uma de nossas maiores conquistas.

Podemos, como pesquisadores do EVP, nos atirar em especulações das mais mirabolantes, como parte da ação criativa que nos fornecerá material que ensejará novas experiências. Mas não deverá ser nunca atitude de nossa parte entregar a tarefa do nosso saber aos “habitantes dos mundos invisíveis”, posto que isto não seria sensato nem justo, já que pelo menos por hipótese, incluem-se entre elas entidades (pessoas) que já conquistaram sua liberdade maior.

Se houver desejo, por parte destas “inteligências fora da matéria” em estabelecer contato conosco, e estiverem gritando suas existências pelos nossos gravadores, certamente desejarão também que nos empenhemos no desenvolvimento de recursos tecnológicos “nossos” e confiáveis para possibilitar uma ponte segura a unir os dois mundos.

É de se esperar que sejam inteligências evoluídas o bastante para deixar para nós a tarefa de desenvolvermos os nossos próprios recursos, como concessão indispensável para o processo evolutivo humano. De outra forma, tratar-se-ia de uma interferência ou imposição “paternalista” muito indesejável.

Ao mesmo tempo, é importante reconhecermos que se ainda suportamos a complexidade da nossa vida moderna, muito mais devemos ao conhecimento obtido das investigações no campo da ciência psicanalítica do que pelas descobertas da psicotrônica.

Embora a psicanálise não seja a panaceia para todos os males do nosso tempo, é inquestionável a sua contribuição como instrumento de conhecimento sobre nós mesmos, sem o qual estaríamos em muito pior situação do que já estamos. Mas lembremo-nos de que as principais ferramentas desta técnica de psicoterapia que se desenvolveu em ciência foram e ainda são a interpretação dos sonhos e a livre associação de ideias.

Ora, ainda que o EVP fosse apenas “um produto da mente” — e não devemos deixar de considerar que cada um de nós também é uma entidade inteligente — dominada pelo cérebro, mas que de vez em quando consegue “se servir” dele!) — estamos lidando com um fenômeno que envolve mensagens, ideias, frases e palavras que não são “deste mundo”; são vozes humanas que, simplesmente, parecem se pronunciar no espaço onde estão sendo gravadas, até mesmo sem microfone.

As vozes ultrafônicas muitas vezes dizem coisas pertinentes aos participantes das experiências, sempre em conformidade com o ambiente emocional predominante nas sessões de gravações. Embora manifestem-se alheias à vontade dos operadores, como se quisessem indicar sua autonomia, dependem de um “aparelho fonador transitório” composto pela combinação de frequências fornecidas por uma fonte de ruídos aleatórios, seja esta eletrônica ou o próprio ruído ambiente que penetra em nossas mentes de modo subliminar.

Se estivermos lidando com uma versão acústica daquela atividade psíquica que desenha elefantes, rostos, borboletas etc. nas nuvens, este fenômeno ainda é menos “aleatório” do que são os sonhos, pois esta comunicação (ainda que fosse “interna”) oferece a vantagem do registro direto de suas estruturas em fitas de áudio, sem o emprego de microfones e sem que qualquer pessoa envolvida nas experiências fale uma só palavra!

Desconhecemos ainda o mecanismo que faz com que se imprimam estas mensagens em uma fita cassete introduzida até em um gravador não necessariamente sofisticado. Cabe investigar mais se os processos psíquicos envolvidos nas experiências com as “vozes” — já que parecem ocorrer em um nível tão “profundo” da mente humana, mobilizando energias tão primordiais — não poderiam se traduzir (transduzir) em um correspondente eletromagnético capaz de interferir em instrumentos tão sensíveis como os gravadores.

De minha parte, estou desenvolvendo o projeto de um detetor de instabilidade harmônica, conjugado a uma armadilha tonal (Projeto HIDEC), que talvez resulte em gravações mais “limpas” para melhores observações deste fascinante fenômeno que é o EVP.

Deste fenômeno poderemos obter avanços para a psiquiatria da mesma forma que a neurologia avançou extraordinariamente com o advento da eletroencefalografia. Há não muitos anos atrás, a ideia de gravar em fita de papel as “ondas elétricas emitidas pelo cérebro” não era, certamente, considerada menos fantástica do que gravar vozes ultrafônicas — o que já é praticado e estudado por muitas pessoas em diversas partes do mundo.

Creio ter exposto motivos suficientes para que mais cientistas, pesquisadores, estudiosos, e instituições ligadas a áreas de pesquisa da mente invistam mais nesta promissora possibilidade de desenvolvermos uma aparelhagem capaz de registrar diretamente tão sutis elaborações que se processam nos bastidores da mente e que já vem se imprimindo espontaneamente em gravadores caseiros há mais de 30 anos.

Se a gravação destas “elaborações” ainda ocorre de maneira um tanto precária, já não podemos mais dizer que ocorre aleatoriamente, ou por vontade exclusiva dos espíritos, entidades, anjos ou ETs. Isto parece altamente promissor para o desenvolvimento da Transcomunicação Instrumental, e considero este fato como o que de melhor colhi, até agora, através das minhas experiências com o EVP. Espero que estas sejam repetidas por outros estudiosos e os resultados confirmem os dados que obtive.

Que nos seja permitido, o mais breve possível, usufruirmos todos desta nova tecnologia que surge e que nos iluminará zonas sempre tão obscuras do nosso universo, proporcionando aos terapeutas, filósofos, pacientes, estudiosos e interessados em geral, a visão tão direta do que se passa “além da nossa imaginação”. Talvez obtenhamos por aí a derradeira prova da sobrevivência da alma após a morte, talvez não.

O que importa mesmo é que sempre conseguiremos, pesquisando a mente, obter um conhecimento a mais que nos auxiliará sempre a sobreviver melhor neste planeta, durante esta vida.

Durante este percurso, talvez encontremos a chave do segredo da própria ontogênese espiritual — já que, se cada um de nós carrega consigo seus “fantasmas” particulares, é de se supor (ao menos!) que ‘A Grande Mente’ também produza suas criaturas espirituais cuja duração de vida haverá de transcender os limites de uma existência humana… Haja imaginação para podermos vislumbrar as imensas possibilidades, em favor da humanidade, que tal aparelhagem poderá um dia nos proporcionar!

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Nota do editor do site ‘Além da Ciência’: os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessária e irrestritamente, a opinião e suporte deste website. O material está sendo disponibilizado aqui para estudo e pesquisa, sendo que cada um deve fazer o seu próprio julgamento.
Este artigo foi publicado originalmente com o título de “Ruído branco e vozes do Além: pequeno estudo sobre percepção de vozes ultrafônicas estimulada por ruído gerado eletronicamente”.

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