Depois da matéria sobre OVNIs veiculada em 15 de agosto de 2010 no programa televisivo Fantástico, da Rede Globo, novas revelações surgem para compor o quebra-cabeça do famoso episódio ufológico da Ilha da Trindade, ocorrido em 16 de janeiro de 1958 a bordo do navio-escola Almirante Saldanha da Marinha Brasileira. [1]
Um dos casos clássicos da ufologia mundial foi tratado como uma fraude, e as fotografias do OVNI, obtidas pelo fotógrafo civil Almiro Baraúna (1916–2000), rechaçadas como uma montagem arquitetada pelo próprio. [2]
Possível nova testemunha
Horas depois da exibição do programa na noite de domingo, uma sobrinha de Baraúna, de nome Mara Baraúna, negou veementemente que seu tio o tenha confessado a realização de uma fotomontagem.
Ela foi apresentada ao programa como tendo dado uma confirmação de que as fotos de seu tio eram apenas produto de truque. Entretanto, ela disse que nunca concedeu tal alegação e de que foi, na verdade, mal interpretada pela produção do programa.
A matéria causou convulsão na comunidade ufológica brasileira e o programa recebeu algumas críticas em seus canais de comunicação. Tirando o lado da controvérsia, novos reflexos começam a aparecer. Uma possível nova testemunha, até então desconhecida do público, surge para confirmar que o episódio da passagem de um OVNI sobre a Ilha da Trindade foi real.
Estamos falando do militar João Francisco Bispo, oficial da Praça de Máquinas do navio-escola Almirante Saldanha, e que afirmava ter estado no navio no momento do acontecimento. Bispo fazia parte da tripulação e serviu durante muito tempo embarcado no Almirante Saldanha em pesquisas oceanográficas.
Na verdade, essa testemunha já faleceu desde 1998 e o que será apresentado aqui é o relato do seu sobrinho. Ele guarda até hoje as memórias do seu tio sobre aqueles singulares avistamentos de OVNIs na ilha. Falamos em avistamentos — no plural mesmo —, porque o enredo global do caso Ilha da Trindade não é composto apenas de uma única observação.
Pelos registros da Marinha, desde dezembro de 1957 até janeiro de 1958 — mês do episódio principal ocorrido no navio —, aconteceram alguns avistamentos de OVNIs na ilha. [3] Ademais, pelas pesquisas do falecido ufólogo Olavo Teixeira Fontes (1924–1968), há mais relatos de semelhante “objeto” sobrevoando a ilha e redondezas até o final daquele ano de 1958. [4][5][6]
Depoimento do sobrinho da possível nova testemunha
Nosso narrador é Valmir Araújo, ufólogo e pesquisador de campo do grupo Ufobahia, na Bahia. Assim começa falando sobre seu tio:
“O meu tio (adotivo), oficial de máquinas do Navio-escola Almirante Saldanha e posteriormente do Navio C-11 Barroso, após se aposentar, mudou-se do Rio de Janeiro onde residia, e voltou a morar em nossa terra natal, uma cidade do nosso recôncavo, onde veio a falecer em outubro de 1998. Costumávamos nos encontrar toda semana (eu morava na época em Valença), na casa de minha tia e madrinha (também falecida), onde conversávamos sobre vários assuntos tais como religião, política e fenômenos insólitos, onde a ufologia tinha grande destaque para ele. Ele não acreditava em nenhuma religião, sempre me dizia que tudo era manipulação de massas e a história contada não era a verdadeira. Foi aí que numa dessas conversas que durava a tarde inteira, lhe perguntei sobre o caso Trindade e se ele havia presenciado a aparição do UFO.”
Valmir lembra, em conversas com o tio, que este chegou a assistir toda a agitação no convés, mas infelizmente foi incapaz de presenciar a passagem do OVNI porque se encontrava na Praça de Máquinas do navio naquele exato momento.
Segundo relata o militar ao sobrinho, “um colega veio lhe chamar para ver o disco voador. Foram correndo para o convés, onde já se encontrava a maioria dos tripulantes, bem como o comandante do navio e outros oficiais junto ao fotógrafo Almiro Baraúna, que acabara de fazer as fotos do objeto. Naquele momento ele não vira o OVNI, devido ao objeto ter ido embora, mas me falou que aquela não fora a primeira aparição na ilha de Trindade”.
A posição de nova testemunha que traçamos aqui, apesar de ela não ter sido ocular da passagem do OVNI, é a de que ela estava, segundo nos conta seu sobrinho, presente no navio no momento do avistamento e pôde presenciar toda a movimentação que surgiu no convés. Entretanto, o militar afirmou que foi testemunha ocular de um avistamento na ilha, em solo, exatamente nos dias anteriores ao fatídico 16 de janeiro de 1958.
Segundo relata seu sobrinho, Bispo lhe contou que todos os que estavam com ele no momento da aparição do OVNI afirmaram que o objeto era o mesmo registrado posteriormente pelo fotógrafo Baraúna.
Atestou ainda que as fotos de Baraúna foram reveladas no laboratório do navio, logo após o evento, e que tudo fora registrado pelo comandante no diário de bordo. Valmir finaliza, dizendo ter interpelado o tio uma vez por ter “lido há algum tempo atrás uma matéria em que diziam que as fotos eram falsas”, ao que Bispo contestou de imediato tal possibilidade.
Os avistamentos na Ilha da Trindade anteriores ao ocorrido a bordo do navio
Avistamentos na ilha, em dias e semanas anteriores às fotos de Almiro Baraúna, eram conhecidos por integrantes da Armada. Na época, jornais publicaram que as fotografias obtidas por Baraúna não foram surpresa para a Marinha.
A Armada já tinha conhecimento de relatos de OVNIs que foram narrados pelos seus oficias, anteriormente. Em trechos do relatório final sobre o caso Trindade, assinado pelo capitão de corveta José Geraldo Brandão, são descritas tais ocorrências:
“I – A 31 de dezembro, 1957, um objeto aéreo não identificado (OANI) foi observado sobre a ilha, avistado pelo oficial médico primeiro-tenente MD Ignácio Carlos Moreira Murta, por um marinheiro e cinco trabalhadores. O avistamento ocorreu pela manhã, por volta das 7:50h;
II – Ele foi informado na mesma ocasião que idêntico objeto havia sido avistado anteriormente, em 5 de dezembro de 1957, por um trabalhador, também pela manhã e à mesma hora;
2. O capitão-de-corveta Bacellar também informou sobre um fenômeno que havia observado pessoalmente sobre a ilha, por duas vezes, em diferentes ocasiões, com a ajuda de um teodolito de alta precisão e em plena luz do dia.” [3]
Além disso, o relatório informa que, em uma dessas ocasiões, o capitão de corveta Carlos Alberto Bacellar não estava sozinho no momento da aparição. Nesta ocasião o OVNI foi testemunhado também pelo oficial médico, vários sargentos, marinheiros, e um técnico civil do Departamento de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN).
Depoimento dos militares
Outras evidências foram levantadas pelos jornais da época. Em uma reportagem do jornal Folha da Tarde, de 25 de fevereiro de 1958, o repórter conseguiu entrevistar os tripulantes do navio — logo que eles voltaram da ilha e rumaram em uma nova viagem, atracando em Santos, São Paulo.
Relata o repórter que “várias confirmações de tripulantes do Almirante Saldanha, a propósito do aparecimento do objeto foram feitas à reportagem, e muitos deles se dizem testemunhas oculares da ocorrência. […]”. [7]
E continua:
“Um sargento com quem palestramos disse-nos que fazia três dias que o estranho objeto vinha sobrevoando a ilha, entre dez e 11:30h. Surgindo sobre o pico da Crista do Galo, evoluindo em várias direções, até buscar a linha do horizonte, onde desaparecia, para, segundo após, retornar à sua posição anterior sobre a ilha. As notícias do aparecimento do objeto chegaram a bordo vindas da ilha desde que o Almirante Saldanha ali aportou. Os habitantes da ilha, inclusive autoridades, confirmaram a passagem do objeto, por várias vezes, nos três dias anteriores ao da chegada do navio-escola.” [7]
A busca por mais testemunhas
Valmir Araújo não soube precisar a data exata do avistamento do seu tio, mas é possível que ele tenha ocorrido nesses dias relatados pelo sargento, conforme reportagem acima. Depois de mais de 50 anos das fotografias terem sido registradas na ilha, quase nenhum nome das testemunhas militares restou para a posteridade.
Em nossa pesquisa, contamos agora com o nome de doze tripulantes do navio, entre civis e militares, que afirmaram terem visto ou não a passagem do OVNI quando estavam no convés da embarcação. Essa ausência de nomes serviu de alimento para novas críticas ao caso, já que os registros históricos apontam exatamente quatro vezes este número.
Provavelmente a própria Marinha não registrou o nome de todas elas, consequentemente acabaram se perdendo no tempo. Por isso, é importante se obter a maior quantidade de nomes de testemunhas e seus depoimentos, mesmo daquelas que não presenciaram ao vivo a alegada passagem do OVNI.
Muito importante, também, são as testemunhas de avistamentos de dias anteriores, em solo, como a do militar João Bispo que agora informamos, pois compõem e fortalecem todo o cenário de manifestações ufológicas naqueles meses.
Quando realizei a minha consulta, em 2002, ao Departamento de História Marítima e Naval da Marinha, solicitei nomes da tripulação do navio-escola Almirante Saldanha do ano de 1958, mas recebi resposta negativa.
A capitão de corveta e chefe do departamento, Mônica Hartz O. Moitrel, respondeu meu e-mail afirmando que lamentava “participar a V.Sa. que apesar dos esforços envidados, não foi possível levantar a tripulação do navio Almirante Saldanha no ano de 1958. Contudo podemos informar que neste ano o Almirante Saldanha foi comandado por três oficiais, a saber: CMG José Santos de Saldanha da Gama – 25/07/1957 à 27/05/1958; CMG Waldeck Lisboa Vampré – 27/05/1958 à 10/12/1958; e CF Epaminondas Branco Magoulas (interino) – 10/12/1958 à 3/02/1959”.
Enfim, os esforços em busca de mais testemunhos e evidências continuam.
Pós-escrito – Janeiro de 2012
Com o avançar das investigações e após obtermos novas informações em mãos — antes indisponíveis a nós —, resolvemos descartar do enredo global do caso Ilha da Trindade — até manifestação em contrário — essa possível nova testemunha indireta e militar de nome João Francisco Bispo por falta de dados que comprovem sua presença no navio-escola Almirante Saldanha na data da ocorrência do episódio, em 16 de janeiro de 1958.
Referências
[1] Aeronáutica divulga procedimentos em caso de aparição de discos voadores. Fantástico. Rio de Janeiro: Globo, 15 ago. 2010. Programa de TV.
[2] Famosas fotos de disco voador são fraude, revela amiga do fotógrafo. Fantástico, 19 ago. 2010. Disponível em: <http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1614449-15605,00.html>.
[3] BRANDÃO, José Geraldo. Relatório sobre a observação de objetos aéreos não identificados, registrados na Ilha da Trindade, no período compreendido entre 5 de dezembro de 1957 e 16 de janeiro de 1958. Marinha do Brasil, fev. de 1958.
[4] FONTES, Olavo. The UAO sightings at the Island of Trindade: part III. The A.P.R.O. Bulletin, Alamogordo, New Mexico, p. 4-9, May 1960.
[5] FONTES, Olavo. The UAO sightings at the Island of Trindade: part I. The A.P.R.O. Bulletin, Alamogordo, New Mexico, p. 5-9, Jan. 1960.
[6] FONTES, Olavo. The UAO sightings at the Island of Trindade: part II. The A.P.R.O. Bulletin, Alamogordo, New Mexico, p. 5-8, Mar. 1960.
[7] Tripulantes do Almirante Saldanha afirmam ter visto o disco voador. Folha da Tarde, São Paulo, 25 fev. 1958.
parabéns pelo artigo e muito interessante que as pessoas saibam que existem extraterrestre sim e que temos que estdula-los um pouco mais para saber o que pretendem.
Vou compartilhar com meus amigos!
Obrigado
gostei da materia e a tentativa de limpar a memoria de seu tio,mas infelizmente pessoas que nao procuram estudar e se interessar , se acham no direito de chamar os outros de mentiroso,e pior ainda e que se sabe notoriamente que pela cupula governamental e religiosa existe o interesse que se continue assim:sem conhecimento,como o cidadao odemir que postou o comentario a cima;.parabens pela atitude.
Com base em investigações mais aprofundadas, este caso teve grande reviravolta durante os últimos anos, expondo como ele é uma meia verdade. Aqui no site já publiquei artigos mais recentes sobre ele.
POR QUE AS PESSOA FAZEM TRUQUE DE IMAGENS ESTOU ATÉ AGREDITANDO QUE NÃO EXISTE SÃO APENAS ESPECULAÇÕES DAS PESSOAS SE NÃO EXISTEM VAMOS TIRAR ISSO DA CABEÇA E DA MÍDIA PARA PODERMOS ESQUECER DE VEZ.
As pessoas fazem truques fotográficos pelos mais variados motivos, desde financeiros até promoção pessoal. No passado, truques fotográficos de discos voadores tinham apelo midiático. Já hoje, com as inúmeras trucagens digitais, forjar fotos de naves espaciais já não tem mais brilho e ineditismo. É o default!