Por Henrique Fruet
Site revista IstoÉ, 24 de maio de 2000.
A Transcomunicação Instrumental não é novidade. A Associação Nacional dos Transcomunicadores (ANT) acredita que um dos pioneiros no assunto foi o padre gaúcho Landell de Moura, a quem se atribui uma das primeiras transmissões de sons da palavra humana, em 1893. O padre era conhecido por andar sempre acompanhado de uma misteriosa caixinha, com a qual conversava.
Em 1925, o médium carioca Oscar D’Argonnel publicou no Rio o livro Vozes do Além pelo Telephone – Novo e Admirável Sistema de Comunicação. Na obra, ele relatava centenas de telefonemas que teria recebido entre 1917 e 1925 de um comunicante chamado padre Manoel, como no trecho transcrito abaixo:
“- Como você se chama?
– Manoel dos Santos Silva
– De onde você está falando?
– Da caixa de distribuição da Praia de Botafogo
– Ninguém aí ouve sua voz?
– Ninguém.”
A técnica da TCI começou a ganhar força depois que o sueco Friedrich Juergenson deixou um gravador ligado para gravar o canto de alguns pássaros. Na fita, a surpresa: no lugar de um simples piar de pássaros havia o som de um trompete e uma voz que falava em norueguês sobre o canto das aves noturnas. Mais tarde, Juergenson conseguiria contato com sua mãe já falecida.
“Posso antecipar que muitos leitores haverão de criticar a fragmentação e a incoerência e, em parte, a trivialidade das vozes”, diz o prefácio de seu livro Telefone para o Além, publicado no Brasil em 1967. “Não devemos fazer o que fizeram os cardeais dos tempos de Galileu e Giordano Bruno, que se recusaram a olhar no telescópio para não serem obrigados a admitir que estava errada a sua configuração bíblica do universo.”
No livro, Juergenson relata que recebia mensagens com frases que misturavam palavras em até quatro idiomas. Como era poliglota, acreditava que era uma forma que alguém encontrou para mostrar que não se tratava de interferência de sinais de rádio ou coisa parecida. O sueco chegou à conclusão de que as vozes pertenciam mesmo a pessoas mortas quando recebeu a mensagem que dizia, em alemão:
“No aparelho, o teu Boris.” Ele reconheceu a voz: era de seu amigo de infância Boris Sacharow, já falecido na época. “Eles (os comunicantes mortos) são capazes de modificar desapercebidamente sílabas e palavras de locutores radiofônicos ou sons de quaisquer instrumentos musicais”, relatou.
Quando o assunto se aproxima da ciência, começa a polêmica. O próprio Juergenson escreveu que travou uma árdua luta para se convencer da existência do fenômeno. “Era prematuro demais apresentar os fatos, principalmente aos cientistas”, reconhecia. Ele dizia ser difícil e quase impossível que simples pesquisadores materialistas compreendessem, de modo imparcial, “algo totalmente novo e imprevisto”.
Outro importante livro sobre o assunto foi escrito pelo psicólogo letão Konstantin Raudive, estudioso do assunto. Em Breakthrough – An Amazing Experiment in Eletronic Communication with the Dead (algo como “Avanço – Uma Impressionante Experiência de Comunicação Eletrônica com os Mortos”), o autor descreve gravações feitas por psicólogos, físicos, engenheiros eletrônicos e outros especialistas.
Uma passagem curiosa envolve a publicação da obra na Inglaterra. O editor Colin Smythe recebeu os originais de um desconhecido na Feira de Livros de Frankfurt, em 1969. Com a pulga atrás da orelha, resolveu tentar fazer um experimento. Veio a mensagem: “Por que você não abre a porta (não no sentido físico, mas de se interessar seriamente pelo assunto)?”
Ele reconheceu a voz de sua falecida mãe e, então, resolveu publicar a obra. Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica e do gravador, foi outro cientista que se mostrou interessado em se comunicar com os mortos.
“Se a nossa personalidade sobrevive, então é estritamente lógico e científico presumir que ela retém a memória, o intelecto e outras faculdades e conhecimentos que adquirimos nessa terra. Portanto, se a personalidade existe depois daquilo que chamamos morte, é razoável concluir que aqueles que abandonaram esta terra gostariam de comunicar-se com aqueles que aqui deixaram”, declarou em outubro de 1920 à respeitada revista Scientific American, que o indagou sobre uma máquina que ele estaria supostamente desenvolvendo para se comunicar com os mortos.
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